quarta-feira, 12 de maio de 2021

O AMIGO

 

Não há duvida alguma, da minha parte, quando digo que o primeiro-ministro António Costa é verdadeiro amigo do seu ministro da Administração Interna. Já a minha apreciação – dirão subjectiva, mas é minha – de que o sr. ministro da Administração Interna não me parece amigo do primeiro-ministro sr. António Costa. Sempre ouvi dizer que “amigo não empata amigo”. Não é o caso – este, empata.

É difícil compreender, perante tanto disparate junto, que se mantenha aquela confiança toda. Para mais, o ministro em causa produz afirmações indigestas, com alto teor calórico, ao ponto de dizer de um partido que se trata de um náufrago ou comparar o microfone utilizado em reportagens e entrevistas com as golas inflamáveis para ataque a incêndios.

Não será ele próprio um náufrago, incapaz de dar umas braçadas, em vez de se agarrar à bóia que o segura à tona? Não saberá ele do grande gesto político e administrativo que teve o então ministro Jorge Coelho, exemplo de grande personalidade como homem de Estado?

Costa não admite a passagem de testemunho por parte de Cabrita, como se o homem fosse perpétuo no ministério e não aquele que é useiro e vezeiro em meter os pés pelas mãos. Talvez nem seja por pura amizade, mas por desgaste que causaria na equipa estar a mudar a meio do jogo, mesmo quando o grupo fica a perder por inoperância do jogador.

Na última situação junto ao estádio de Alvalade e na rotunda do Marquês, o ministro não assume qualquer responsabilidade da pasta, não prevenindo de cima o amontoado de pessoas em pleno estado de calamidade, mas permitindo (ao que parece) uma intervenção policial tardia e musculada, que nada resolve, a não ser umas cabeças rachadas e nódoas negras. Só faltou colocar os tanques nas ruas.

O sr. António Costa é daquele género de pessoas que contra-argumentam com base na comparação positiva; ou seja, se aprecia um jacaré e lhe dizem que o bicho tem uma boca enorme, contraporá que maior boca ainda tem o hipopótamo.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

OS MAUS CHEIROS

 

O sr. secretário de Estado da Energia, João Galamba, sente nas narinas o cheiro a estrume quando, de repente, a televisão pública RTP transmite o programa Sexta às 9. Escreveu, antes de apagar, que lhe cheira a estrume. Todos os outros programas cheiram bem para ele, porventura a rosas e a outros eflúvios florais, como urzes, cravos e margaridas ; mas quando aparece aquele famigerado bloco, tem de levar o lenço ao nariz. Ou desliga. Ou muda de canal. Ou asperge o ar com um aromatizador de ambiente.

Conclui-se, com isto, que o aparelho de televisão do sr. João Galamba reproduz cheiros. Se na mesma estação, os chef's da Praça preparam um cozido à portuguesa, a pituitária do sr. Galamba abre a auto-estrada do apetite.

Certamente o sr. secretário de Estado interromperá a emissão, ou mudará de canal, na altura em que são transmitidos os programas da natureza selvagem onde o pivete não faltará. Por exemplo: não estou a adivinhar o sr. Galamba, sentado na sua sala, a receber os odores da defecação numa manada de elefantes.  Nem mesmo o cheiro que exalam os sovacos de um maratonista.

Muita sorte tem o senhor ante referido em ter encontrado um aparelho que transmite imagem, som e cheiro. É um aparelho exclusivo. Fique com a coisa porque, para mim, não a quero.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

ONDE ESTÁ O URSO?

 

Esta notícia, que vem de fora, deixa-me perplexo. Parece que ainda existem príncipes, como certamente existirão fadas e belas adormecidas. Por incrível que pareça, os povos ainda aceitam estes nados das coroas e fauna vária, cujos predicados, à partida, lhes advêm de terem nascido naqueles majestosos úteros.

Mas nem só por isso fiquei perplexo. Ainda há principados, e tronos, e coroas que são os sinais exteriores da “profissão”, e o regabofe de impunidade que passa pela realeza. 

Já nasci republicano. Se não nascesse, lutaria para sê-lo.

Chega de perplexidade? Qual, não?! O príncipe, para matar o ócio, mata animais de grande porte. Para que a coisa pareça legal, paga com dinheiro que o povo lhe dá, obtém licença principesca (vedada ao mais pintado dos súbditos) e dá ao gatilho. Na sua área ou fora dela, é o mesmo. A carta branca é carta franca. E os súbditos, habituados à principesca identidade, vergam-se perante o dito como cabos de guarda-chuva, com todos os salamaleques que a nobreza exige (noblesse oblige).

Isto passou-se com o príncipe de um sítio que eu mal me lembro de existir, chamado principado do Liechtenstein (enganei-me várias vezes para acertar no nome que, traduzido, significa pedra clara), cuja capital se chama Vaduz (todos os leitores, menos eu, saberão isto), com um príncipe do lugar chamado Emanuel von und zu Liechtenstein, o qual abateu um urso, chamado Arthur, numa área protegida.

O príncipe Emanuel von und zu abateu um urso com o nome de gente – Arthur. O animal não fazia mal a ninguém, era considerado o maior da Roménia (Cárpatos) e foi abatido numa área protegida (só para os súbditos do mundo), ainda por cima quando na Roménia a caça para troféus se encontra proibida desde 2016. Lá na terra do homem, só deve existir a Sociedade Protectora dos Vegetais.

Nem sei a quem deva chamar urso. Deve ser das perplexidades.

terça-feira, 4 de maio de 2021

NOVO BURACO

 

Parece não ter fundo, sempre à espera de fundos. O Novo Banco – aliás, o Novo Buraco – é insaciável. Assim foi permitido pelo péssimo negócio com a Lone Star (Estrela Solitária), que mais me parece a bicha solitária no corpo do tal buraco. Sorve com tal sofreguidão, que até se pode ouvir o ruído da deglutição. E arrota…

Agora querem mais 10,8 mil milhões (mil milhões, não são apenas milhões). De uma forma ou de outra, cada português está a contribuir para tapar o buraco, resultado de más políticas de “perfuração” no sistema bancário e no sistema governativo.

Se julgam que isto é uma falácia, saída do bestunto desta cavalgada crítica, experimentem ouvir uma avisada aldeã quando uma criança abre a boca num bocejo: “Anjo bento, o Espírito Santo te entre pela boquinha adentro”. Reparem que “Espírito Santo” faz parte da reza (não foi introduzido por matreirice), mas substituam “boquinha” por “buraco”.

Sem fim à vista, este Novo Buraco irá transformar-se em Velho Buraco. E já teremos sorte se, cada um de nós, não cair nele.

domingo, 2 de maio de 2021

ZMAR, ZMONTE e ZCOSTA

 

O título que apliquei podia vir como cabeçalho de um folheto propagandístico para possíveis compradores e veraneantes daquele empreendimento de férias em Odemira, geograficamente no Z da Zambujeira do Mar, à beira mar plantado. Mar, monte e costa marítima estão perfeitos para o empreendimento e grupo, mas o Zcosta – com todo o respeito pelo primeiro-ministro António Costa - foi o accionista que entrou à última hora para requisitar as casas de madeira, no sentido de alojar migrantes que delas necessitam.

Eu sei que a Zcalamidade assim obriga, porque há lá uma grande comunidade de Zmigrantes, grande percentagem dos quais infectados com Covid, também graças às precárias condições de alojamento que encontraram. Não me parece que a maioria dos empregadores dos migrantes esteja preocupada em arranjar casa para os seus tarefeiros. Lá está o resort (sem sorte) à disposição para hospital, enfermaria e campanha sanitária. Tudo isto apontado, naquilo a que dão o nome de Zvilla, com casas de dois ou 3 quartos, lago e piscinas privativas. Só o valor no condomínio de cada uma leva, aos particulares proprietários, 213 ou 263 euros por mês, com IVA incluído.

Curiosamente, mesmo em insolvência, a Zmonte (ou a Zmar) mantém o assédio aos possíveis compradores em site da internet, onde oferece: “surpreenda a sua família com uma casa de férias perto das praias do Litoral Alentejano, com acesso às infraestruturas do nosso Eco Resort e que ainda pode rentabilizar ao longo do ano, alugando-a”.

Para uso ou rentabilização, as mais baratas custam desde 49.000 euros até às mais caras, desde 74.400 euros.

Assim sendo, sem entrar na aquisição, os requisitantes civis, a exemplo das repartições públicas, vão entrar ali pela chamada “porta do cavalo”, uma entrada que geralmente tem um letreiro a avisar que é para uso exclusivo do pessoal ao serviço, mas por onde entram os amigos sem senha de atendimento.

Por um lado, o Zcosta – com todo o respeito pelo primeiro-ministro António Costa - estriba-se na circunstância de calamidade e, com razão, afirmando que é uma questão de direitos humanos tal requisição civil, que até é legal; por outro lado, onde estão os direitos humanos quando há lá casas com proprietários (que não são Zmonte ou Zmar) que as pagaram e têm direito de alugar ou usufruir?

Sem querer meter política nisto, porque é propriedade privada, não deixarão os ditos proprietários de proferir, no caso, que os malefícios são feitos com a mão esquerda, uma vez que todo o cristão se benze com a mão direita.

Tenho de dizer que não queria ser juiz nesta causa com tão grande Zinterrogação. Para os governantes imaginativos, com tantos Zês, nunca faltam soluções: há calamidade? Zás!