quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

VIVER E PENSAR

Li hoje, por acaso, esta frase de Pessoa. Tinha-a apontado num "notebook", a par de outra do Padre António Vieira, achei que devia colocá-la aqui.
"O resultado é tudo. O que se sentiu foi o que se viveu. Recolhe-se tão cansado de um sonho como de um trabalho visível. Nunca se imaginou tanto como quando se pensou muito".
Desde o planalto da Nave, onde habito, ora banhado por um Sol que se treina para uma Primavera próxima, a emoção deste pensamento, afaga. Longe das manhas, das tricas e das trocas da política, espalhadas a esmo como em serralho de um sultão, das notícias pouco verdadeiras e das falsas que nos chegam a casa a empoeirar à guisa de espanejador, é bom sentir que viver e pensar ainda vale a pena.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

A25- UMA TESOURARIA DE GRANDES RECEITAS

Lembram-se, os que me lêem por aqui, que já falei na choruda cobrança que se faz para os cofres do Estado e para a Concessionária, nesta rede da chamada auto-estrada A25 entre Aveiro e Vilar Formoso.
E lembram-se que falei da famigerada curva "Bossa do Camelo", um aleijão que contribui, através dos contraventores aceleras e não aceleras, para as receitas da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Aquele radar/cinemómetro tira mais fotografias por dia que o mais conceituado fotógrafo de moda! E paga-se melhor: cada "chapa" a preto e branco (mais a preto) não fica por menos de 60 euros!
Hoje vou referir a A25 no seu todo, porque em cerca de 1/4 do troço somado, é equivalente a IP não portajada (mas que se cobra na mesma), tais são os limitadores de velocidade que ali estão plantados com sinais C13 como se fossem couves tronchas. Contabilizei entre 15 e 20 no sentido descendente e entre 12 e 18 no sentido ascendente, mas é apenas cálculo. Pedi entretanto  à APCAP (Associação das Concessionárias) o número exacto para calcular os espaços em que circulamos em IP isenta de portagens, mas pagando como se fossem.
Entretanto, já em Janeiro enviei um pedido de esclarecimento à ANSR (Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária), sem que até hoje tenha obtido resposta, insistindo hoje mesmo para que me dissessem, ao menos, que receberam o arrazoado e acrescentando outro.
Este "satus quo" com tanto aleijão para justificar os limites, interessa a duas partes: os leoninos acordos de parceria que favorecem as concessionárias; os cofres do Estado que custeia a via através dos bolsos dos "portajados", a que lhe acresce um "imposto" em forma de coimas resultantes das inopinadas limitações de velocidade e do plantio de radares.
Quem perde? Todo o interior do País, as empresas aqui implantadas, os emigrantes que circulam por esta via, os turistas que optarão por outras regiões,os utentes que, sem alternativa, pagam a totalidade de uma auto-estrada quando, em parte, é um IP. Enfim, os contribuintes, os mesmos que pagam as portagens dos governantes quando por aqui passam, porque não acredito que as fotografias dos radares atinjam as matrículas deles.
Volto à curva do Caçador (Viseu), a qual, por pouco, não era uma rotunda!
Vou-vos mostrar uma imagem de satélite da bossa, pois o camelo não está lá...
Agora comparem-na com o circuito de Indianápolis...
... onde só há uma curva idêntica no ponto 9!
Mas nem todas as bossas de camelo são tão pronunciadas. Esta não é...
E esta, só a da frente...
... E mesmo assim menos fechada do que aquela onde a Tesouraria do Estado vai recolhendo grandes receitas com fotografias das traseiras das viaturas.
Isto, para ser sincero, não ia lá com bossas, mas com arrochos!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

FERNANDO…MAS PESSOA


Fernando Pessoa é Fernando Pessoa e os seus heterónimos; é ele mesmo, com os seus palavrões, as suas divagações metafóricas, a sua frontalidade diabólica, a poesia entre patriótica e revolucionária, acintosa e carinhosa, alegre e chorada, vitoriosa e abatida, nesta amálgama que só um Pessoa (e talvez um Fernando daquele género, conseguem "fabricar").
Na sua poesia tem tudo explicadinho, talvez com equívocos e erros, traumas e ilusões, com certezas e sentimentos, mas está lá o pratinho feito para quem goste de comer a papinha toda.
Pessoa é talento e – se já li isto algures – manifesta-se em não se manifestar. Na penúria de talento de outros poetas publicados, que escrevem loas para leitura de cafres e outros perfis semelhantes, como os dos sabidões da matéria que rejubilam em metafísica, Fernando Pessoa não deixa indiferente quem pensa.
Gosto de Fernando Pessoa, de toda (mas toda) a sua poesia e prosa; talvez não goste tanto da sua casa, das suas arcas, da sua escrivaninha ou do penico que lhe servia para despejar a urina matinal. E mais gosto de Pessoa quando um dia, por altura de uma filmagem para o programa "Vamos Jogar no Totobola", o realizador Manuel Guimarães me disse à porta da minha residência que eu seria um actor preferencial para interpretar a figura do poeta numa obra que ele viesse a realizar, naturalmente com aquele tipo de bigode sacramental. Ups! Lá está a minha vaidade a querer fazer-me passar pela figura de Pessoa, quando a única particularidade que me une ao génio é apenas o nome Fernando!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

COBRAS, ANIVERSÁRIOS E CORTES DE RELAÇÕES


Assim ou assado, este título poderia dar a entender que se trata da mesma coisa, isto é, do tempo actual em que o mundo gira à volta do Sol. E dá, porque o tempo dá muitas voltas e volta tudo ao mesmo, tal como se encontrássemos o passado num bricabraque. Para mais, todos estes três casos relembram-nos que ainda há um espírito troglodita na sociedade, independentemente da área geográfica onde o mesmo Sol alumia à vez.
Comecemos pelas cobras, que penetram silenciosas sem se fazerem anunciar e sem se dar conta delas, conforme a sua sina comanda. Pois foi uma destas que serviu para a polícia indonésia fazer falar um interrogado sem outras aplicações atinentes, como a privação do sono, cavalo-marinho no lombo ou pancadas nas plantas dos pés, ainda a pinga de água na cachimónia. Correu mundo a filmagem deste interrogatório, onde sinceramente dá para arrepiar quem vê: quem se torcia era o inquirido, enquanto a serpe, sem ligar pevide ao caso, se mantinha na disposição de querer sair da situação. Para bem dizer, o investigado também. E até talvez o desvairado inspector, deprimido por não conseguir qualquer confissão com tão inusitado método.
Ao mesmo tempo, festejava-se numa prisão portuguesa – e na ala de alta segurança – um aniversário com todos os extravagantes ingredientes da folia de quem se encontra em descampado entre amigos ou na própria casa, pois o presídio é a residência deles. O lema seria: dure pouco a festa e bem pareça. E a coisa foi igualmente filmada, pois não há buraco de fechadura onde não esteja um telemóvel a bisbilhotar e a gravar.
Finalmente, para a terceira perplexidade, ouvi um membro do Governo dizer, sem outros considerandos, que ia cortar relações com a Ordem dos enfermeiros, pois parece-me haver relações assanhadas, como se o namoro (que parece nem sequer se iniciou) ser assim rompido com o atirar das alianças para uma sarjeta.
Com cenas deste teor, nesta mesnada de caricaturas, até apetece entrar numa tasca de robe e chinelos para comer umas sardinhas assadas regadas com champanhe. Ou então fazer o pino em frente da máquina para o documento de identidade no Registo Civil.
Talvez tenha de lembrar que neste mundo há gente para tudo e ainda sobra.