Como este blog, ao que parece,
tem menos visitas que a ilha de Sentinela, onde o missionário americano
encontrou a morte, é sobre o assunto que vou escrever.
Anda por aí uma celeuma danada
com o caso, ora uns condenando o atrevimento e a má cabeça do missionário,
também outros a vituperarem os indígenas por assassinarem um “visitante”.
Por certo, segundo o meu
entendimento, não há razões de parte a parte e há-as dos dois lados.
Julguei que neste mundo não
houvesse tribos de cafres, com as qualidades e os convenientes do homem
cavernícola, provavelmente antropófago, se pensarmos que estão ainda num estado “puro”, sem assembleias
políticas, dinheiro e outras tretas do género. Mas há. O isolamento é assumido,
porventura como defesa (sem saber que doenças trazem os adventícios de fora),
com algum receio por verem um bípede de cor branca ou rosada, vindo sabem lá
eles de onde, a tentar entrar no seu território onde são, porque assim os
chamam, sentinelas. São eles certamente humanos e, quanto a desconfiarem dos que ousam desvendar os seus segredos - nem sequer sabem que há uma Declaração Universal que também os protege, pelo menos no papel - porque se eles não são indianos, também não são "indiotas", lá têm as suas desconfianças. Decididamente, aquela ilha nunca será uma "off-shore"!
E o que faz uma sentinela? Atira
primeiro e pergunta depois? Ou pergunta primeiro e atira a seguir? Ou apenas
atira, como foi o caso? Ou não pergunta nem atira e, por tal, não está ali a
fazer coisa alguma?
Estivesse junto aos armazéns de
armamento de Tancos um ou dois daqueles trogloditas, as armas não saíam com tanta
facilidade. E se, por acaso, algumas das ditas armas, fossem parar às mãos dos
escassos defensores da ilha, decerto não estaria, nesta altura, o missionário
morto – estariam eles.
Que eles não são bons anfitriões,
definitivamente já deram a resposta. Resta saber, nesta aldeia global, até quando
resistem tais almas e como, mesmo com o perímetro de proibição a rodear a ilha. Se os civilizarem, o que lhes dão em troca?
Bons empregos, como caçador de borboletas e trepador de árvores? Ou exibem-nos
como troféu para os gentílicos “civilizados”? Ou queiram os estudiosos e os
entusiastas da etnografia linguística publicar um dicionário
português-sentinela ou inglês-sentinela, a que seguirão outros, com tradução
trapalhada no “Google”? Mesmo a tal distância – onde nem Vasco da Gama os viu
quando foi à Índia e, se os viu naquela agressividade, fez vista grossa – se lhes entregam um portátil, ensinem-nos a comunicar com
este blog, que mais parece a ilha deles.