Eu não devia falar da TAP, até porque não se fala de outra coisa. Mas a
tentação é grande, quando se arranjam pretextos para o assunto vir à tona.
Também podia trazer aqui a TAS, suposto acrónimo de Transportes Aquáticos Submarinos,
mas dadas as recentes anomalias com o “Mondego” e a tripulação, lá aventaria
uma nega dos marujos em embarcar no submarino com receio de perseguirem um tubarão
tigre, que seria espião soviético. Para trazer à liça a TAT (Transportes Automóveis
Terrestres), certamente necessitava de falar das “tesourarias” que controlam a
velocidade a cada esquina e atrás de cada arbusto.
Certamente era preferível falar de bicicletas, um meio de transporte
que hoje o primeiro-ministro Costa experimentou, dando mesmo uma lição prática
e teórica, falando da pedalada para vencer a inércia, um aforismo pouco
propositado a uma fábrica de biciclos elétricos.
Como os jornais se fartam destes pitéus, voltando à TAP, lembrou-me que
antigamente, nos tempos das minhas avós, falava-se da TAB (Transportes Aéreos
das Bruxas), umas vassouras esquisitas sem motor e sem asas, no entanto rápidas
e mais pacíficas do que o mais demoníaco míssil kinzhal.
Não sei o que foi feito dessas vassouras todas, possivelmente substituídas
pelos aspiradores topo de gama. Só que estes não voam e as vassouras não terão
custado um dinheirão aos contribuintes nem consta nos alfarrábios que alguma
companhia estrangeira estivesse a morrer por elas.
Esses antecessores da TAP eram um meio de locomoção por excelência para
as bruxas utilizadoras, tão importante para a classe como o automóvel é hoje
para a distribuição do correio porta a porta pelos CTT. Tratava-se de um
transporte rápido, silencioso, económico, eficaz e não poluente, com a
imensurável vantagem de não estar pendente dos constantes aumentos do preço dos
combustíveis e das irritantes filas nas bombas de abastecimento. Tinha ainda a
particularidade de todas as funções de um voo doméstico e das viagens
“low-cost”, sem as habituais chatices do apertar do cinto (coisa que os
portugueses fazem constantemente desde que se levantam da cama), do não fumar e
da praga das assistentes de bordo. Como se tratava de um monolugar, tinha a
vantagem de se excluir a pedalada a que se referiu António Costa na fábrica
Unibike de Vagos, sem necessidade de capacete, longe das expectativas causadas
pela obediência aos semáforos, aos sinais de stop e ao sopro no balão para
controlo de álcool. Mais ainda, sem o pagamento do imposto único de circulação
(cujo nome é um eufemismo, porque este não é o único imposto para quem circula),
e sem a obrigatoriedade dos coletes refletores, dos triângulos de sinalização e
do seguro em dia.
Enfim, julgo que falei da TAP sem falar dela. E este assunto não
necessita de ir à Comissão Parlamentar de Inquérito, embora o assunto não seja
o mais agradável. Lá dizia Sancho Pança aquele adágio galego: “no creo en brujas,
pelo que las hay, las hay”.