quarta-feira, 24 de abril de 2019

DE UMA ASSENTADA, DUAS ENTRADAS NO GUINESS


Portugal está no bom caminho no que toca a bater recordes e a propor entradas no livro do Guiness. Desta feita, duma só penada, teve duas entradas directas, deixando qualquer concorrência mundial à distância e de boca escancarada de estupor.
E tudo isto, graças a uma só freguesia, com cerca de 1.000 habitantes.
Que fizeram os filhos da terra para esta contribuição recordista? Propositadamente não fizeram coisa alguma, a não ser circular diariamente numa estrada com duas valentes rectas, muito propícia ao que a governação do Estado mais se obstina: arrecadar, arrecadar. Bem que arrecadou, e de que maneira!
Em Outubro de 2018, a tutela instalou lá dois “pequenos” negócios: uma tesouraria de arrecadação fiscal; um centro de fotografias à distância, tudo num espaço reduzido e camuflado, algures à beira da estrada sem a bandeirinha vermelha.
Mas é melhor ler a notícia…
Em dois dias, o carteiro que presta serviço em Moçarria, Santarém, entregou cerca de 200 cartas registadas com multas da PSP aos habitantes da freguesia, que estão incrédulos com a situação. A maioria das contra-ordenações refere-se a infracções por excesso de velocidade em dois locais em Perofilho, na freguesia vizinha da Várzea, onde o limite de velocidade é de 50 quilómetros/hora. Foram registadas, em outubro de 2018, mas só agora estão a ser distribuídas. A aldeia tem mil habitantes”.
Vejam bem: 200 multas de trânsito para 1.000 habitantes, significa que um quinto deles foi “carimbado” com uma foto. Um quinto! Se imaginarmos que nem todos têm carro, e que a proporção será de um veículo para cinco habitantes, significará que todos foram ao retratista. Primeiro recorde no Guiness.
Sabendo nós que estão a fechar balcões de bancos e lojas CTT em sedes do concelho, com uma população pelo menos dez vezes superior à da aldeia “transgressora”, a “honra” de Perofilho acaba de receber, não uma loja do cidadão mas uma tesouraria completa, com receita a condizer: 200 multas em Outubro de 2018; multas essas só dos habitantes do sítio (um deles recebeu, para o mesmo dia, três), que aceitaram as cartinhas registadas entregues pelo carteiro! Ou seja, de fora ainda os que não são da terra, que a estrada é para toda a gente! Segundo recorde no Guiness.
Se pensarmos que um quinto dos habitantes de Moçarria é assim tão acelera, quero supor que isto levar-nos ia a uma terceira entrada no Guiness, uma vez que ali existe alfobre para muitas “scuderias” da Fórmula 1.
Como vejo e leio, ainda me queixo eu da curva da “Bossa do Camelo”, curva que não devia estar em Viseu mas lá longe, numa caravana do Sahara! Que nome daremos a estas rectas? Bossa não pode ser, porque aquilo é recta bem recta e o limite desce para 50 km/h (se não fosse assim, não havia ratoeira), pelo que o melhor que me ocorre é “serpente estendida com a língua de fora”.
Dizem os moradores que não houve ali qualquer acidente. O que estranham eles? O limite não é por causa dos acidentes, deve-se à receita que a bocarra da tesouraria pretende contabilizar. Passem a tirar o sapato do pé direito e a conduzir de meias… A tesouraria fecha por falta de clientela.
Há uns anos, sempre víamos o agente que nos multava por excesso de velocidade, recebíamos dele uma “palada” como se ele estivesse a saudar um oficial superior, ouvíamos o seu ranger de botas; hoje, com a cangalhada metida em armários e armada sobre um tripé, camuflada algures como turra em capim, nem sequer isso, um mísero clic da máquina de tirar retratos e algures, olhando para um ecrã, um fulano qualquer a dizer qualquer coisa como “olha o passarão” em vez de “olha o passarinho”.
O que é certo e sabido é que os habitantes não acham graça nenhuma ao negócio: nem ri com a partida o Pero Filho, onde o caso se dá, nem a Moça Ria, que tem de puxar pelos cordões à bolsa.

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