sábado, 11 de dezembro de 2021

VAI UMA CEBOLADA OU UMA PALMATOADA?

 

Há quem não goste de cebola, mas também há quem a não dispense nos cozinhados, na cozinha e nas saladas.

Acredito que a cebola tenha sido demonizada pelos que não gostam de a comer e ainda mais pelos que não gostam do seu cheiro, principalmente quando ele sai dos túneis de terceiros com a boca aberta.

Pode ser até que se chame cebola a um relógio de pulso que funcione mal ou se atrase, embora esse designativo coloquial tenha surgido nos tempos em que se usavam relógios de bolso, pesados e grandes.

A cebolada combina muito bem com bifinhos de porco, iscas de fígado, costeletas, bacalhau, peru, atum ou frango. Mesmo os que dizem não gostar do sabor ou do cheiro, recusam estes arranjos culinários. Enfim, esquisitices que acabam se consultarem os livros de cozinha do Chefe Silva e no Pantagruel, nas receitas de Henrique Sá Pessoa ou naqueles restaurantes que receberam mais de duas estrelas Michelin.

Como este blog não é um receituário de culinária, acaba aqui o intróito.

As cebolas têm um receituário na superstição amorosa quase equivalente ao que têm na culinária. Utilizava-se a cebola roxa para afastar rivais, machos e fêmeas, e qualquer tipo de cebola para ajudar na escolha do namorado ou namorada, através dos rebentos que a primeira deitasse.

Também se usavam e usam para curar doenças, abrindo-se ao meio e deixando-se sobre um móvel do quarto do enfermo até este curar. Acredito que resulte de uma ou de outra forma: ou cura mesmo; ou com o pivete a podre, obriga-se o doente a dar alta a si próprio e sair dali a sete pés.

É claro que hoje, felizmente, os professores já não batem nas mãos dos alunos com a régua, instrumento “essencial” numa sala de aula do meu tempo, a par de um crucifixo, um retrato de Salazar e de um quadro preto.

Era superstição antiga dizer-se que se tornam insensíveis as pancadas da régua da professora ou do professor nas mãos dos alunos, se se esfregasse na palmatória uma cebola descascada.

Esta, eu posso desmistificar. Um dia, na turma da primária, um grunho passou a polpa de uma cebola pela régua da professora, pois teria recolhido a receita de uma avó. Assegurava-lhe a avó que mal sentia a pancada da madeira nas mãos, fosse esta dada com genica.

Quis o acaso que fosse ele a experimentar o “amaciado” instrumento de tortura escolar. Convenci-me que ele até fez por merecer o castigo, chegando mesmo a piscar o olho para a assistência condiscípula, como um pobre alegre. Todos nós o vimos sorrir de orelha a orelha até levar a primeira pancada numa das mãos. Com alguma perplexidade, nós e ele (mais ele do que nós) assistimos aos gritos e aos saltos como se o estivessem a capar.

Não creio que este condiscípulo voltasse à receita da avó, melhor conselheira nos pratos de cebolada.


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