A DGAEP é uma entidade governamental cujo logótipo
parece um bailarino de azul e vermelho, mas isso pouco monta ao caso a seguir
em apreço. Desculpem-me não colocar aqui o “boneco” ou logótipo, uma vez que
sou cumpridor das leis e obrigações e está-me vedada essa reprodução, justa e
legalmente com a condicionante de ser reproduzida mediante autorização expressa
da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público. Interessa saber que se
trata de um serviço transversal da Administração Pública, tutelado pelo
Ministério das Finanças, com a sua lei orgânica reproduzida no Decreto
Regulamentar n.º 27/2012, de 29 de Fevereiro.
Decorridos 4 anos desde um anterior questionário sobre
a satisfação ou o seu contrário dos serviços pelos servidores, lança-se a 2ª
edição do mesmo, correcta e aumentada, como é dos cânones da continuidade.
Para além das questões corriqueiras e preliminares
para se saber o organismo e ministério do respondente, sexo, idade,
antiguidade, tipo de vínculo, talvez lá faltasse saber qual a cor preferida dos
sapatos, o clube, a marca e o modelo de automóvel que gostasse de conduzir (já
nem falo qual o partido político preferido, como é evidente), trago aqui o que,
pelo vulgo, me deu “nas vistas”.
Coloco aqui este texto porque, entre 18 de Julho
deste ano e finais de Setembro circula um questionário sobre os factores
motivacionais dos trabalhadores da Administração Pública Central, querendo
aferir o impacto da motivação/satisfação dos trabalhadores ao nível da
produtividade e qualidade do trabalho realizado, do relacionamento
interpessoal, ambientes de trabalho, da melhoria do desempenho dos serviços e o
que soe de razão perguntar-se.
O questionário em questão encontra-se acessível
através de um link que eu “bisbilhotei” para saber o que se pretende saber. Verifiquei
que as respostas são de fácil desenvolvimento, clicando num dos itens – totalmente em desacordo; em desacordo; de
acordo; totalmente de acordo.
Até aqui, tudo bem, a ideia até nem é má. O que tem
suscitado alguma polémica – que eu peguei de cernelha, por a ter lido em muitos
lados – é que a coisa surge no período vizinho de novas eleições legislativas e
o questionário envereda por aquilo que se julga serem perguntas de natureza
política e económica. E há outras que são tão risíveis como esta, logo para
“mata-bicho”: “Tenho capacidade económica
para comprar os bens necessários à alimentação diária”. Se o trabalho não
garante a alimentação diária, um mísero frango de churrasco, muito menos do
vestuário e do pagamento de consumos, o melhor é recorrer-se à Segurança
Social.
Há outras perguntas cuja resposta é levada ao
egocentrismo de cada um, como estes três exemplos a seguir (corrigido por mim
os vocábulos que ali seguem o acordo ortográfico): “Em comparação com outros trabalhadores com um trabalho similar ao meu,
considero que o meu salário é razoável”; “Convicção
de que o trabalho no serviço público é mais gratificante do que no sector
privado”; “Os incentivos financeiros
motivam-me mais do que os não financeiros”. Esta será a rábula da galinha
da vizinha… Não será aquela melhor que a minha?
Há questões subjectivas, meramente circunstanciais
e pouco relevantes para um inquérito deste tipo, como: “No meu organismo há uma cultura de confiança dos dirigentes em relação
aos trabalhadores”. Para se responder a isto, não era necessário
inquirir-se sobre a confiança dos dirigentes e trabalhadores, dos bispos e dos
vigários da hierarquia? Como é que se mede a confiança, apenas pelos
tratamentos por “tu”?
Está lá uma questão que me faz lembrar aquelas
perguntas dos pais nos primeiros dias de escola dos filhos, que é “gostas muito
da escola?”. Veja-se: “Sinto-me feliz no
meu trabalho”. Respondendo a esta questão, estão dadas as respostas a todas
as outras – remuneração, condições laborais, de higiene e de saúde, comparações
salariais e demais, incentivos e o que se tiver por enquadrável no múnus.
Finalmente há questões com uma carga política
sondável, pelo que as reproduzo separadamente. Assim:
- “O período
da Troika influenciou negativamente a minha motivação no trabalho”. Eu não
sei o que responderia, se fosse inquirido, caso pretendesse ser
profissionalmente correcto e não politicamente correcto.
- “A
reposição dos salários afectou positivamente a minha motivação no trabalho”.
Imagino que a motivação é, desde sempre, o salário e não a folia, sendo a única
excepção o voluntariado, onde a remuneração não existe.
- “O
descongelamento progressivo das carreiras é motivador”. E é devido a quem,
han? Digam lá, quem é que retirou do congelador a progressão das carreiras?
- “Sinto-me
hoje mais motivado no trabalho do que há 5 anos atrás”. Há 5 anos atrás, do
tempo de quem? De quem foi a culpa e quem são os bons que motivam o trabalho?
Se perguntarem a um menino se gosta do enfermeiro que lhe deu a pica, ele vai
dizer que sim? E entre a gula e a penitência, o que se prefere?
Enfim, há uma tirada de humor que pode
consubstanciar estes últimos quatro items. Pergunta: Qual é o fim da picada? Resposta: Quando o mosquito vai embora. Ou ainda, no diálogo entre dois
cromossomas, um deles diz para o outro: Oh!
Cromossomos felizes!
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