quinta-feira, 8 de agosto de 2019

RESPONDA O QUE QUISER


A DGAEP é uma entidade governamental cujo logótipo parece um bailarino de azul e vermelho, mas isso pouco monta ao caso a seguir em apreço. Desculpem-me não colocar aqui o “boneco” ou logótipo, uma vez que sou cumpridor das leis e obrigações e está-me vedada essa reprodução, justa e legalmente com a condicionante de ser reproduzida mediante autorização expressa da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público. Interessa saber que se trata de um serviço transversal da Administração Pública, tutelado pelo Ministério das Finanças, com a sua lei orgânica reproduzida no Decreto Regulamentar n.º 27/2012, de 29 de Fevereiro.
Decorridos 4 anos desde um anterior questionário sobre a satisfação ou o seu contrário dos serviços pelos servidores, lança-se a 2ª edição do mesmo, correcta e aumentada, como é dos cânones da continuidade.
Para além das questões corriqueiras e preliminares para se saber o organismo e ministério do respondente, sexo, idade, antiguidade, tipo de vínculo, talvez lá faltasse saber qual a cor preferida dos sapatos, o clube, a marca e o modelo de automóvel que gostasse de conduzir (já nem falo qual o partido político preferido, como é evidente), trago aqui o que, pelo vulgo, me deu “nas vistas”.
Coloco aqui este texto porque, entre 18 de Julho deste ano e finais de Setembro circula um questionário sobre os factores motivacionais dos trabalhadores da Administração Pública Central, querendo aferir o impacto da motivação/satisfação dos trabalhadores ao nível da produtividade e qualidade do trabalho realizado, do relacionamento interpessoal, ambientes de trabalho, da melhoria do desempenho dos serviços e o que soe de razão perguntar-se.
O questionário em questão encontra-se acessível através de um link que eu “bisbilhotei” para saber o que se pretende saber. Verifiquei que as respostas são de fácil desenvolvimento, clicando num dos itens – totalmente em desacordo; em desacordo; de acordo; totalmente de acordo.
Até aqui, tudo bem, a ideia até nem é má. O que tem suscitado alguma polémica – que eu peguei de cernelha, por a ter lido em muitos lados – é que a coisa surge no período vizinho de novas eleições legislativas e o questionário envereda por aquilo que se julga serem perguntas de natureza política e económica. E há outras que são tão risíveis como esta, logo para “mata-bicho”: “Tenho capacidade económica para comprar os bens necessários à alimentação diária”. Se o trabalho não garante a alimentação diária, um mísero frango de churrasco, muito menos do vestuário e do pagamento de consumos, o melhor é recorrer-se à Segurança Social.
Há outras perguntas cuja resposta é levada ao egocentrismo de cada um, como estes três exemplos a seguir (corrigido por mim os vocábulos que ali seguem o acordo ortográfico): “Em comparação com outros trabalhadores com um trabalho similar ao meu, considero que o meu salário é razoável”; “Convicção de que o trabalho no serviço público é mais gratificante do que no sector privado”; “Os incentivos financeiros motivam-me mais do que os não financeiros”. Esta será a rábula da galinha da vizinha… Não será aquela melhor que a minha?
Há questões subjectivas, meramente circunstanciais e pouco relevantes para um inquérito deste tipo, como: “No meu organismo há uma cultura de confiança dos dirigentes em relação aos trabalhadores”. Para se responder a isto, não era necessário inquirir-se sobre a confiança dos dirigentes e trabalhadores, dos bispos e dos vigários da hierarquia? Como é que se mede a confiança, apenas pelos tratamentos por “tu”?
Está lá uma questão que me faz lembrar aquelas perguntas dos pais nos primeiros dias de escola dos filhos, que é “gostas muito da escola?”. Veja-se: “Sinto-me feliz no meu trabalho”. Respondendo a esta questão, estão dadas as respostas a todas as outras – remuneração, condições laborais, de higiene e de saúde, comparações salariais e demais, incentivos e o que se tiver por enquadrável no múnus.
Finalmente há questões com uma carga política sondável, pelo que as reproduzo separadamente. Assim:
- “O período da Troika influenciou negativamente a minha motivação no trabalho”. Eu não sei o que responderia, se fosse inquirido, caso pretendesse ser profissionalmente correcto e não politicamente correcto.
- “A reposição dos salários afectou positivamente a minha motivação no trabalho”. Imagino que a motivação é, desde sempre, o salário e não a folia, sendo a única excepção o voluntariado, onde a remuneração não existe.
- “O descongelamento progressivo das carreiras é motivador”. E é devido a quem, han? Digam lá, quem é que retirou do congelador a progressão das carreiras?
- “Sinto-me hoje mais motivado no trabalho do que há 5 anos atrás”. Há 5 anos atrás, do tempo de quem? De quem foi a culpa e quem são os bons que motivam o trabalho? Se perguntarem a um menino se gosta do enfermeiro que lhe deu a pica, ele vai dizer que sim? E entre a gula e a penitência, o que se prefere?
Enfim, há uma tirada de humor que pode consubstanciar estes últimos quatro items. Pergunta: Qual é o fim da picada? Resposta: Quando o mosquito vai embora. Ou ainda, no diálogo entre dois cromossomas, um deles diz para o outro: Oh! Cromossomos felizes!

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