Já vi esta cena em filmes de terror e em imagens do
holocausto, na caça com furão, em reportagens de cerco a elementos terroristas
e a retirada à bruta dos animais perigosos das suas tocas. Confesso que me faltava assistir a
isto!
Os moradores de um prédio de Viana do Castelo estão
cercados em casa, despejados com uma selvajaria que eu não imaginaria ver em
Portugal no ano de 2019, tudo isto sob autorização e incitamento das
autoridades civis, militares e judiciais. Registe-se, porque constitui vestíbulo de lenda.
Pode lá ser alguém ficar privado de água na casa
que comprou e legalizou? Pode lá ser ficar privado de gás e electricidade, se tem as contas em dia? Pode ainda lá ser
não arriscar sair à rua sob pena de não regressar? Coisas destas não se fazem
num canil, mesmo num daqueles que se querem desocupar para ali construir um
supermercado ou um campo de jogos. Nunca visto!
E tudo isto porque um esperto qualquer, que gosta
de ver paisagens, e outros mais espertos que aproveitam a esperteza do
anterior, decidiram demolir legalmente um prédio que legalmente foi autorizado
a ser construído com aquele arbaboiço.
A partir daqui, vale tudo, ninguém está seguro do
que é seu, a autoridade merece desconfiança e a justiça é conforme lhe dá,
dobrando conforme a polis (cidades-estado na Grécia antiga) do momento.
O Portugal do Quinto Império, vaticinado por
Bandarra, Vieira e Pessoa, descambou nestes aleijões da sociedade, onde nem
sequer se respeita o próximo como ser humano. E o povo de tal império? Só se empolga com a
onda de fervor pátrio quando a Selecção vence, o resto que siga segundo a
vontade de quem manda, mesmo que mande mal. Se o sangue luso deu nisto, o
melhor é uma transfusão, para mostrar lá fora que não somos como os cafres e ainda
parecemos civilizados.
Já sei como isto vai acabar. Os proprietários
expropriados acabarão por sair, ainda que não seja pelo próprio pé mas com os
pés para a frente. A lei ficará cumprida, o processo transitará em julgado pelo
esquecimento, a coisa vem a baixo e todos jantarão descansados antes dos horários
das próximas novelas onde nestas, apesar de grandes imaginações, ainda não se
viu coisa semelhante, penso eu.
O que nos traz o vento das notícias é que se armou um perímetro de mirones, preparados para emitirem opinião, à guisa de malta em pagode e feira franca, naturalmente acicatados pelo espectáculo e o seu desfecho, quiçá escrutinado pelos assistentes.
O que nos traz o vento das notícias é que se armou um perímetro de mirones, preparados para emitirem opinião, à guisa de malta em pagode e feira franca, naturalmente acicatados pelo espectáculo e o seu desfecho, quiçá escrutinado pelos assistentes.
Não pretendo saber se as compensações para o
abandono dos lares correspondem minimamente ao razoável (embora presuma que não
conseguem, nem de longe, tal desiderato), nem sequer tenho em mente e bestunto para ler uma única linha do processo do tribunal
administrativo e fiscal (processo trabalhado ao torno, onde certamente estarão lá artigos e mais artigos
apropriados ao desejo); nem sequer pretendo saber se a lei que manda fazer
aquela barbaridade colide com a Constituição (que tem as costas largas, quando
se quer). Para o homem neolítico, a existir aquele colosso, o mais difícil seria demoli-lo ao poder dos machados de pedra, porque a expulsão estaria facilmente resolvida.
O que prenuncio é que mais uma vez se confirma a máxima que diz que se fará o que não deve ser feito para se fazer o que convém.
No caso, sobretudo contesto a forma de desalojar. Dos homens-bons da paróquia, sedentos da hecatombe, o que eu gostarei de ver explicado é a forma - esta forma - como se obriga, com tal cerco ao castelo "sarraceno", desalojar os cercados, já ameaçados com processos-crime por não quererem abdicar do que é seu, ainda sujeitos a pagarem indemnização por causarem prejuízo a quem os quer no olho da rua, só faltando fumigar com insecticida ou com fumo negro os escassos habitantes reduzidos à míngua. Segurança privada, polícia e mais força desproporcional está ali preparada para o "assalto", há cordões de segurança onde nem sequer passa um sapo-concho. Água já não têm; comida estão impedidos de receber; o gás e a electricidade foram cortados; houve até um paisano, armado em general de brigada, que resolveu ameaçar os resistentes com derrocadas parciais do edifício; as portas de saída (a não ser que queiram sair, estão trancadas), só espero que um chico-esperto, baseado na lei e no processo judicial (que fará doutrina, decerto), não resolva tirá-los dali – aos “clandestinos” – à bazuca ou a tiros de canhão.
O que prenuncio é que mais uma vez se confirma a máxima que diz que se fará o que não deve ser feito para se fazer o que convém.
No caso, sobretudo contesto a forma de desalojar. Dos homens-bons da paróquia, sedentos da hecatombe, o que eu gostarei de ver explicado é a forma - esta forma - como se obriga, com tal cerco ao castelo "sarraceno", desalojar os cercados, já ameaçados com processos-crime por não quererem abdicar do que é seu, ainda sujeitos a pagarem indemnização por causarem prejuízo a quem os quer no olho da rua, só faltando fumigar com insecticida ou com fumo negro os escassos habitantes reduzidos à míngua. Segurança privada, polícia e mais força desproporcional está ali preparada para o "assalto", há cordões de segurança onde nem sequer passa um sapo-concho. Água já não têm; comida estão impedidos de receber; o gás e a electricidade foram cortados; houve até um paisano, armado em general de brigada, que resolveu ameaçar os resistentes com derrocadas parciais do edifício; as portas de saída (a não ser que queiram sair, estão trancadas), só espero que um chico-esperto, baseado na lei e no processo judicial (que fará doutrina, decerto), não resolva tirá-los dali – aos “clandestinos” – à bazuca ou a tiros de canhão.
E chamam aquilo Edifício Jardim?! Só se for do
Inferno!
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