Eu nem me devia meter nas coisas do Parlamento.
Voto para o seu “enorme” preenchimento e não devia passar daquele gesto. Mas
daquela casa, dita da Democracia (que é, de facto), saem coisas do arco da
velha. Talvez coisas da velha com o arco da governação, se atendermos ao que se
diz e ao que se faz por lá.
Desta vez, uma deputada eleita pelos portugueses,
de seu nome Joacine, do LIVRE, apresentou uma proposta para a devolução de
património existente nos museus portugueses aos países de origem nas antigas
colónias de Portugal, o que acho absurdo, tanto mais que estava para entregar a
um museu um pequeno rosto de pau preto que comprei em Moçambique.
A minha primeira questão é esta: tenho um amigo que
saiu de Luanda com uma malinha de mão, sem sequer trazer o álbum de fotografias
do casamento, quiçá agora nalgum museu para se ver como é que eram os casamentos
dos “colonos”. Terá ele hipótese de ser devolvido? E será que a deputada foi
eleita pelos portugueses para defender o interesse dos portugueses? Ou há na
Guiné, em Angola ou em Moçambique algum português naturalizado que tenha
proposto a devolução de, pelo menos, o álbum do meu amigo?
Atrás deste disparate, saiu outro, também
disparado: André Ventura, do CHEGA, a propor a devolução daquela deputada ao
seu país de origem, pois nasceu na Guiné. Se tem, por acaso, nascido a bordo de
um navio, teria de ser devolvida ao convés do mesmo? Ora, se ela é cidadã
portuguesa, a que título vai recambiada para o país onde nasceu? Só pode
tratar-se de um ridículo para castigar e vingar outro ridículo.
Não se passaram dois dias, soube-se agora que uns
“hackers” do Barreiro terão entrado no sistema da CNE da Guiné, onde deixaram
um vírus no sistema e levaram a que Sissoco Embaló ganhasse a segunda e
derradeira volta das eleições presidenciais. Isto quer dizer que, a acreditar
nas notícias até aparecer o Polígrafo, depois de contados os votos dos
guineenses, as eleições fossem de facto decididas no Barreiro.
Não sei se isto acontece mesmo ou se eu ando a ler
mal. Se acaso é verdade o que se passa, ainda que haja liberdade de expressão,
acho que não será preciso estar plasmado na Constituição o decoro e o bom
senso. De qualquer forma, já deve existir uma única solução: devolver à Guiné o
computador que trabalhou no seu acto eleitoral.
Se me perguntarem qual a razão do título desta
crónica, aponto a sua origem no rifoneiro popular: “Neste mundo tem gente para
tudo e ainda sobra”.
Julgo que era Eça de Queiroz que lhes chamava a "choldra". Quem se lembra do nível, intelectual e cívico, de parlamentares da Assembleia Constituinte, como Almeida Santos,Vasco da Gama Fernandes, Henrique Barrilaro Ruas, Vital Moreira (para só citar alguns que, de repente, me vêem à memória) só pode olhar para isto e ter pena. Sentir uma imensa pena por ver no que descambou uma coisa tão bonita e assim defraudamos esperanças, de forma tão sublime cantadas por Sophia de Mello Breyner"Esta é madrugada que eu esperava//O dia inicial inteiro e limpo// Onde emergimos da noite e do silêncio (...)"
ResponderEliminarCaro amigo
EliminarConcordo inteiramente, principalmente quando somos levados a comparar a dignidade do Parlamento com tempos idos, mas não muito distantes. Quem perde é a Democracia, o que quer dizer que perdemos todos.
É certo que os actuais parlamentares estão lá porque foram escolhidos em voto secreto pelo povo; mas quem escolhe já é levado a votar por circunstâncias de mediatismo e por acreditar em "contos da carochinha".
Depois, dá nisto!...
Ela própria uma parlamentar constituinte
ResponderEliminaro seu segundo parágrafo sugere-me uma nota: o povo escolhe em voto secreto aqueles que se apresentam a sufrágio - correto, concordo. Mas esses raramente são os melhores de nós já que resultam da satisfação das clientelas partidárias. E nem toda a gente está disposta a tolerar as manigâncias da vida interna desses verdadeiros "sacos de lacraus"
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