Não escrevo este texto para aquelas cacholas que
acham que os pretos estão a mais por aqui, porque não estão. Também não me dou
ao descoco de escrever para os pretos que julgam que os brancos são todos
racistas, porque eu não o sou e sei de muita gente que não o é, talvez até a
maioria. Chamar pretos não é ofensa, assim como ouvir chamar-me branco também
não ofende, pois brancos até são os frigoríficos e o papel higiénico.
Vim com esta cantilena para opinar sobre uma
recente questão entre uma senhora de origem angolana e um condutor de autocarro
de origem portuguesa. Como tem sido noticiado – e ainda não julgado, é bom que
deixe o aviso – por a senhora se ter recusado a pagar o transporte ou sequer a
exibir o passe de uma filha, o motorista chamou a autoridade. E aqui é que
bateu o ponto…
A senhora reagiu, deu umas dentadas no polícia,
este submeteu-a e levou-a para a esquadra. Apareceu a mulher com a cara de quem
não foi afagada, pálpebras inchadas e lábios com sinais de agressão ou outra
coisa qualquer, suponho que em vias de serem comprovadas as causas dessas
mazelas notórias. Logo saíram os arautos do costume – foi racismo! Ou seja, se
fosse uma senhora de cor branca na recusa do pagamento, nas mordeduras ao
polícia e no suposto “tratamento” em sede de autoridade, como seria
classificada a conjuntura ocasional? Possivelmente seria “integracionismo
branco”.
Bem feitinhas as poesias, se fosse em tempos que já
lá vão, a história passaria a ser narrada em cantigas do ceguinho, ao som de um
realejo. Mas não estamos em altura de tratarmos as coisas com cantigas…
E há mais. Alguns elementos “não racistas”, que
nesta altura só posso classificar de “incolores”, trataram de castigar o
condutor, porventura como retaliação pela queixa que deu lugar ao caso. Se
acaso os ditos "tratadores" forem de cor escura, como supostamente haverá quem conjecture
por maioria de razões, será que se pode também classificar de “racismo”?
O que devia ter sido feito – ou omitido – para tudo
acabar em bem em prol do convívio de “raças”? O motorista ter feito vista
grossa e deixar seguir a filha sem o pagamento, abrindo uma isenção por se
tratar de cor diferente? O polícia fazer vista ainda mais grossa e, em vez de
ser mordido, pagar a passagem do bolso dele, como já acontece com parte dos
seus acessórios de função? A senhora comportar-se com os deveres que se exigem
a todos os cidadãos?
Enfim, duas profissões de alto risco, que eu não
queria: para motorista, tenho pé pesado e se exigisse a um branco, exigiria a
um preto, castanho, amarelo ou vermelho; para polícia, conforme a coisa está,
não aceitava a farda, nem debaixo d’armas!
Resumindo na continuação do caso. No sentido de
defesa de uma das partes, a SOS Racismo defendeu que o polícia envolvido nas
agressões deve ser “imediatamente suspenso” de funções, não cuidando em apurar
se foi ele o causador da barbaridade para com uma detida mas, do outro lado,
não me consta que a SOS Polícias – neste caso o MAI – tenha vindo a defender o
agente por ter sido desautorizado e mordido nas mãos e braços, nem a deputada
do LIVRE viesse a clamar, como bem o faz com sonoridade, contra a actuação das autoridades,
sem na sua suposta postura democrática, vir a condenar as agressões ao
motorista.
Enfim, como sempre ouvi, venha a verdade ao de
cima, embora o que está à vista não precise de candeia.
Sem comentários:
Enviar um comentário