quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

SEM JEITO PARA HUMORISTA

Não tenho vindo contribuir para este blog porque decidi não interferir durante a campanha eleitoral, mantendo a isenção que não me leva a pender para este ou para aquele lado. Para ser sincero, nem hoje era para escrever este arrazoado, porque a maioria do povo parece estar satisfeita com o status quo, os programas de entretenimento, os grandes brothers e os futebóis, que são cada vez mais catalisadores das atenções “culturais”, que bastam para animar o pagode.

No entanto, perante a avalanche de perplexidades que continuam a aparecer, não podia hoje deixar de colocar aqui duas.

A primeira quando vi escrito -  “Juiz Carlos Alexandre constituído arguido no caso da distribuição do caso Operação Marquês”.

A segunda quando li o título - “Chefe de segurança de Eduardo Cabrita constituído e interrogado como arguido”.

Enfim, as coisas estão cada vez mais confusas ou eu já estou a ficar confuso. Se o juiz que julga é constituído arguido pela distribuição manual de um processo que envolve o arguido Sócrates, o impoluto, quer isto dizer que é perigoso ser-se juiz, quer este faça distribuição manual, pedonal ou digital. O crime – se existe – não está no caso em trânsito, mas na forma do trânsito, que leva o rótulo de “abuso de poder, falsificação de funcionário e denegação de justiça”. Enfim, sempre os mesmos termos; nem sei se isto também foi herdado do Direito romano. O certo é que o sr. desembargador aceitou esta coisa e determinou que o juiz ficasse com termo de identidade e residência. Ora, não fosse fugir para a África do Sul.

Comparativamente, para entrar no domínio do ridículo, também me parece que o polícia que apanha o ladrão pela gola do casaco, deve ser julgado porque não deve tratar assim o homenzinho, sujeitando-se (o polícia) a ser julgado por agressão, “abuso de poder, falsificação de função e denegação de justiça”.

A maioria ri-se disto, porque mesmo sem o Coliseu de Roma, não deixa de haver circo.

Quanto ao chefe de segurança, que tem por função assegurar a integridade do ministro, não devia ir com os olhos fixos no alcatrão da estrada, mas no conta-quilómetros. Tenho mesmo a impressão que o chefe da segurança é quem tem o poder sobre o ministro, sobre o condutor, sobre o automóvel e sobre o trânsito. Se ele disser, paramos para beber um copo, o carro para; se o ministro quiser baixar o vidro da porta, só o faz com o consentimento dele. É um super-segurança, sem ele não podia haver ministros.Também não lhe faltará o termo de identidade e residência, até porque o ministro já não é ministro e não precisa de ser seguro. 

Sabem o que digo a seguir? Nada, por uma simples razão: com tanto humor à minha volta, logo fico sem jeito por não ser humorista.

2 comentários:

  1. Bem , após ler este texto acertivo ,não paro de rir ao imaginar a " cabrita " sem Juíz(o) a acelarar numa obra que por acaso não foi do impoluto , caso contrário diria que o acidente não foi falta do segurança mas sim da "derrapagem " que terminou nos bolsos de alguém ...
    Triste sistema este que encapota o crime e tratando aquele que julga como o que deve ser julgado .
    Para terminar só digo que o que está a dar é ir de férias para África e molhar os pés no mar Salgado .

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    1. Infelizmente, meu amigo, o jogo é feito tão "às claras" que nem se pode considerar batota. A palavra democracia, em princípio, respeita ao regime em que todos os cidadãos participam igualmente para eleger os que a representam - demos (povo) e kratos (poder).
      O poder do povo acaba com a entrada do voto na ranhura e quantos mais pendem para um lado, para a maioria absoluta, menos a democracia se nota. Às vezes até se afigura que o demos não está no plural, mas no singular.
      O poder judicial deve ser também um poder para controlar o outro poder, mas paulatinamente está a ser aspirado. Não queria eu ser juiz num estado destes.

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