ACTORES. Os actores não gostam de interpretar a peça de Shakespeare,
MacBeth, porque nela se canta uma “canção das Bruxas”, o que atrai o mal e o
azar.
Já é longa a tradição em Montalegre, distrito de Vila Real, festejar o
dia aziago das «Sextas-feiras 13». Para celebrar a tradição representa-se uma
peça de teatro, em que os actores que encarnam bruxas, duendes e demónios, que
vão assombrar a vila, são idosos e crianças do concelho, enquanto a assistência
popular fica suspensa do acto como pernas de presunto na cura.
Em Lisboa, para a mesma representação, sempre se podia escolher entre
políticos, parlamentares e homens da banca, todos eles a desunharem-se para
ficarem com o papel de demónio.
As bruxas propriamente ditas não são muito boas para actrizes, com receio
de pagamentos contra recibos verdes ou o pagamento de subsídio de férias e de
Natal em duodécimos.
ACTUAÇÃO. As bruxas costumam entrar pelos buracos das fechaduras das
portas ou pelos buracos nos telhados. Quando entram nas adegas, aldrabando o
sistema de segurança, utilizando o tal método da fechadura, bebem o vinho.
Tocam pandeireta quando dançam, cantam desafinadas como um coro de ébrios,
soltam sonoras gargalhadas e dançam à roda, de mãos dadas. Quando os cofres têm
“guito” suficiente, juntam-se no Gambrinus ou noutros sítios de comes da alta e
entram de roldão para encher o papinho. Em alternativa, irrompem pela
Versailles onde se lambuzam de pastelinhos e chá dançante.
Quando pretendem embruxar alguém, apanham a terra da pegada do pé
direito que essa pessoa deixou, atam-na a um pano e atiram-na à cova de um
defunto. Assistir a tudo isto não é lá muito divertido e até pode causar stress
pós-traumático.
ADIVINHAÇÃO. Segundo a conceituadíssima Wikipédia, o termo engloba tudo
menos os números do euromilhões, o que significa “profecia, previsão, intuição,
palpite, pressentimento”, pois é “o acto ou esforço de predizer coisas
distantes no tempo e no espaço, especialmente o resultado incerto das
actividades humanas”.
A adivinhação não deixa de ser uma arte, neste caso mágica, de
descobrir o desconhecido através da interpretação de símbolos, como é a
“leitura” de nuvens, cartas de tarô, chamas e fumo, ossos de animais, cartazes
de autarcas municipais e o capítulo de despesa dos orçamentos de estado.
Quer isto dizer que as bruxas adivinham? É claro que adivinham, pois
têm a equivalência aos cursos técnicos profissionais e profissionalizantes de
astrologia, cartomancia, quiromancia, taromancia (nada de tauromancia),
hepatoscopia, I Ching e numerologia, para só citar estes. Parece que elas
possuem, em doses maciças, os poderes sibilinos de Nostradamus, de Bandarra,
mesmo do Pretinho do Japão, e das previsões económicas do Banco de Portugal.
Numa sondagem que me deu na gana realizar entre os números de telefone
da agenda, como é hábito nestas coisas através de entrevistas telefónicas em
escolha aleatória, deu 10 por cento para os que acreditam no acertar dos
resultados de adivinhação das bruxas e outros 10 por cento para quem crê no
inverso e nas vacas voadoras do primeiro-ministro. É bom que se diga que a
diferença estará para os que não sabem/nem respondem ao inquérito, que por meu
lado adivinho com um erro máximo de amostra de 0,6 por cento para um grau de
probabilidade de 99,9 por cento.
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