quarta-feira, 14 de novembro de 2018

ENCICLOPÉDIA ALEGRE DE BRUXAS (3)




AFOGAMENTO. O teste do afogamento era praticado por débeis mentais sobre aquelas ou aqueles que eram julgados com poderes de bruxaria ou feitiçaria. Deitavam a vítima num rio: se morresse afogada, não era bruxa, mas lá se foi para o outro mundo; se se salvasse, então era bruxa e passava também para o outro mundo, queimada viva.
Não lhes era permitido praticar a experiência no Mar Morto, sítio onde se pode ler um romance de José Rodrigues dos Santos como se estivesse no sofá da sala, sem ir ao fundo.
Melhor método, e menos poluente, seria lançar a bruxa sobre um insuflável e provar, com ou sem ressalto, o sim e o não da resposta. Ou, em alternativa, verificar se a dita tinha alguma verruga no nariz, daquelas semelhantes à da Sabrina Sato, na testa e à de Sarah Jessica Parker, no queixo.

ÁGUA. Não parece que as bruxas tenham medo da água, mas não será decerto a sua preferência quando se trate de higiene. Provavelmente elas terão completado aquele rifão popular que diz que a água não faz mal a ninguém, desde que não sirva para lavagem de bruxa, não se afoguem nela nem a bebam.
Diz-se que tanto o senhor Diabo como as senhoras bruxas não gostam da água a ferver; daí poderá dizer-se que bruxa escaldada da água fria tem medo.

ALFINETES. Tradicionalmente utilizados na Bruxaria para atar feitiços, colocar ou transferir um desejo em uma representação simbólica de alguém, de um lugar ou de uma situação, designadamente para “picar” alguém à distância, com objectos chamados de “vodu”.
Os mais usados são os alfinetes de cabeças coloridas, pois cada cor representa um pedido particular, como é disso exemplo a cor vermelha para a paixão ou a verde para a cura.
A experiência das ditas neste âmbito equivale a uma licenciatura em acupunctura, mesmo que não distingam os fluxos Qi e Xue.

ALHO. Para quem queira afugentar as bruxas, nada melhor do que trazer um rosário de cabeças de alho ao pescoço. O mesmo efeito se concretiza ao mastigar-se um dente de alho.
Ressalva-se, porém, o odor do dito, que terá o condão de não afastar apenas as bruxas.

ALIMENTOS. Embora este mesmo assunto seja abordado na entrada “Culinária”, para abrir o apetite não me privo de o cozinhar aqui.
Demonologistas, inquisidores e alguns enciclopedistas, queimaram as meninges para descobrirem o que comiam as bruxas fora da vista desarmada. Quando elas confessavam práticas e comeres aberrantes, isso era a maior parte das vezes devido à tortura dos inquisidores, ávidos para obter confissões terríveis e assim lhes facilitar a redacção das sentenças. Dizer que elas tinham por gastronomia qualquer mistela parecida com o menu de um cafre, é pura especulação.
Serpentes, sapos, gafanhotos e até morcegos, não são de todo ingredientes, que eu acredite; mais certo, bons nacos de presunto e toucinho, vaca e carneiro assados, tudo regado com vinho do melhor, mesmo que surripiado nas adegas da vizinhança.
Outros estudiosos, aventam que eram em tempos vegetarianas, alimentação com ausência de carne, como era hábito em alguns costumes pagãos.
Terão então as bruxas apetência vegan pela soja, tofu, algas, castanhas e folhas de alface?
Esta teoria não pega, pois há quem jure ter visto uma bruxa a passar ao estreito, num restaurante da especialidade, uma garoupa, duas cavalas, uma embalagem de delícias do mar ainda congeladas e um pires de “jaquinzinhos” sem arrotar.
Nas assembleias, o bode e as bruxas não se privam do estendal no final da sessão, onde não faltam os garrafões de vinho e presunto, nem tão pouco o sacramental cafezinho servido do termo e um cálice de aguardente, da rija, uma vez que não há brigadas de trânsito por onde circulam as vassouras.

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