AFOGAMENTO. O teste do afogamento era praticado por débeis mentais
sobre aquelas ou aqueles que eram julgados com poderes de bruxaria ou
feitiçaria. Deitavam a vítima num rio: se morresse afogada, não era bruxa, mas
lá se foi para o outro mundo; se se salvasse, então era bruxa e passava também
para o outro mundo, queimada viva.
Não lhes era permitido praticar a experiência no Mar Morto, sítio onde
se pode ler um romance de José Rodrigues dos Santos como se estivesse no sofá
da sala, sem ir ao fundo.
Melhor método, e menos poluente, seria lançar a bruxa sobre um
insuflável e provar, com ou sem ressalto, o sim e o não da resposta. Ou, em
alternativa, verificar se a dita tinha alguma verruga no nariz, daquelas
semelhantes à da Sabrina Sato, na testa e à de Sarah Jessica Parker, no queixo.
ÁGUA. Não parece que as bruxas tenham medo da água, mas não será
decerto a sua preferência quando se trate de higiene. Provavelmente elas terão
completado aquele rifão popular que diz que a água não faz mal a ninguém, desde
que não sirva para lavagem de bruxa, não se afoguem nela nem a bebam.
Diz-se que tanto o senhor Diabo como as senhoras bruxas não gostam da
água a ferver; daí poderá dizer-se que bruxa escaldada da água fria tem medo.
ALFINETES. Tradicionalmente utilizados na Bruxaria para atar feitiços,
colocar ou transferir um desejo em uma representação simbólica de alguém, de um
lugar ou de uma situação, designadamente para “picar” alguém à distância, com
objectos chamados de “vodu”.
Os mais usados são os alfinetes de cabeças coloridas, pois cada cor
representa um pedido particular, como é disso exemplo a cor vermelha para a
paixão ou a verde para a cura.
A experiência das ditas neste âmbito equivale a uma licenciatura em
acupunctura, mesmo que não distingam os fluxos Qi e Xue.
ALHO. Para quem queira afugentar as bruxas, nada melhor do que trazer
um rosário de cabeças de alho ao pescoço. O mesmo efeito se concretiza ao
mastigar-se um dente de alho.
Ressalva-se, porém, o odor do dito, que terá o condão de não afastar
apenas as bruxas.
ALIMENTOS. Embora este mesmo assunto seja abordado na entrada
“Culinária”, para abrir o apetite não me privo de o cozinhar aqui.
Demonologistas, inquisidores e alguns enciclopedistas, queimaram as
meninges para descobrirem o que comiam as bruxas fora da vista desarmada.
Quando elas confessavam práticas e comeres aberrantes, isso era a maior parte
das vezes devido à tortura dos inquisidores, ávidos para obter confissões
terríveis e assim lhes facilitar a redacção das sentenças. Dizer que elas
tinham por gastronomia qualquer mistela parecida com o menu de um cafre, é pura
especulação.
Serpentes, sapos, gafanhotos e até morcegos, não são de todo
ingredientes, que eu acredite; mais certo, bons nacos de presunto e toucinho,
vaca e carneiro assados, tudo regado com vinho do melhor, mesmo que surripiado
nas adegas da vizinhança.
Outros estudiosos, aventam que eram em tempos vegetarianas, alimentação
com ausência de carne, como era hábito em alguns costumes pagãos.
Terão então as bruxas apetência vegan pela soja, tofu, algas, castanhas
e folhas de alface?
Esta teoria não pega, pois há quem jure ter visto uma bruxa a passar ao
estreito, num restaurante da especialidade, uma garoupa, duas cavalas, uma
embalagem de delícias do mar ainda congeladas e um pires de “jaquinzinhos” sem
arrotar.
Nas assembleias, o bode e as bruxas não se privam do estendal no final
da sessão, onde não faltam os garrafões de vinho e presunto, nem tão pouco o
sacramental cafezinho servido do termo e um cálice de aguardente, da rija, uma
vez que não há brigadas de trânsito por onde circulam as vassouras.
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