Ao contrário daquela história em que o rei vai nu, a mim parece-me que
o povo vai nu e o rei é que vai vestido.
Veio-me esta coisa à cabeça a propósito de uma recente exoneração a
pedido, em face da não concordância com o arrumar certas fotografias de arte
mais explícitas no corpo humano em ambiente próprio, cujo ingresso (julgo eu)
seria controlado pela faixa etária inscrita no cartão de cidadão.
Trata-se, como já devem ter lido, visto e ouvido, do caso da Fundação
de Serralves. Perplexo fiquei, porque vejo novamente a neolítica brigada dos
costumes em acção. Tem a “coisa” ou o “coiso” à mostra? Tapa-se. É imoral?
Queima-se. É proibido? Condene-se.
E logo a Fundação de Serralves, que exibe todo o tipo de arte (a maior
parte de que eu não gosto, mas pronto), a qual tem no seu primado – bem anunciado
no seu site – que pretende “estimular o interesse e o conhecimento de públicos
de diferentes origens e idades pela arte contemporânea, pela arquitetura, pela
paisagem e por temas críticos para a sociedade e seu futuro, fazendo-o de forma
integrada”? Está lá escarrapachado: “público de diferentes origens e idades”;
“por temas críticos à sociedade e seu futuro”.
O director artístico do Museu de Arte Contemporânea, onde se passou “o
atentado”, pediu a demissão. E fez bem. Eu faria o mesmo. Suponho, pelas
notícias, que este pedido estará relacionado com decisões da administração da
Fundação, que interditou a menores de 18 anos parte da exposição de fotografias
do norte-americano Robert Mapplethorpe, por conter não vestidos, mal vestidos
ou nus.
Não faltam por aí estátuas de todas as épocas com tudo à mostra,
algumas com amputações do “coiso” (vá lá saber-se se culpa do tempo, das
bicadas dos melros à sorrelfa ou martelada das brigadas às claras), em praças
públicas, jardins e coisa e tal.
Isto é estapafúrdio! Digno de figurar num almanaque de anedotas! Nos
tempos que correm, quem tenha menos de 18 anos tem pachorra para ir visitar
exposições a Serralves? E ainda precisa de ir a Serralves para ver nus? Não tem
um portátil, um tablet, um smartphone, uma parabólica, para ter à disposição oftálmica
os nus em todos os movimentos e ambientes?
Este post nem sequer leva imagem. Receio que pudesse ser mal
interpretada por alguma brigada dos costumes blogosférica munida com instruções
do tempo dos plesiossauros. Imaginem que lá a coloquei e lá se encontra, bem a
abrir esta peça. Vejam através da imaginação, trata-se de um “nu com as mãos
nos bolsos das calças”. Imaginem, porque eu estou deslumbrado e já não tenho
pachorra…
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