sábado, 22 de setembro de 2018

SEM CARROS NEM CARRETAS


O Dia Europeu sem Carros é uma treta. A ideia é boa e exequível, mas continua a ser uma treta. Começa logo por se saber que os carros que existiam continuam a existir, a que se acrescenta um enorme e colossal número de fabricados neste dia. Depois, há aqueles que não costumam utilizar o carro e, para contrariar o alvitre, exibem a sua máquina, abrindo o vidro da janela, colocando o cotovelo de fora e largando o sorriso dos corajosos em contravenção. Se isso não bastasse, a maioria dos utentes não se arrisca ir buscar o pão ou dar uma saltada ao café, que ficam a cem metros de casa, indo a pé ou de bicicleta. Ser o dia europeu da mobilidade não significa ser o dia da imobilidade.
Corta-se o trânsito, é isso. Quem vai de carro, contorna a questão, põe o GPS a puxar pelas meninges digitais e vai na mesma.
Dia europeu sem carros, em Lisboa, foi o primeiro dia da greve dos taxistas. Isso sim. Ocuparam as faixas da Av. da Liberdade, só passavam os transportes públicos.
A propósito: se acham que há carros de aluguer a mais, vão acrescentar mais outros, tais as plataformas (hoje, é só plataformas; há uns anos atrás, eram apenas as das estações do comboio) como a Uber, Cabify,Taxify e Chauffeur Privé? Ora, é precisamente uma delas que tem a designação mais sugestiva que, à primeira vista, com o título de “chauffeur” me deixou a questionar se os veículos desta funcionariam a “pellets”. O termo, que significa aquecimento ou calor na língua gálica, foi utilizado a partir da Revolução Industrial, em que o profissional com esse designativo era aquele que alimentava as caldeias do aquecimento para produção do vapor. Com a reviravolta dos tempos, o termo “chauffeur” já não se aplicava ao enfarruscado alimentador de caldeiras, passou para o engomado, empertigado e fardado motorista de Rolls Royce, Bentley e quejandos.
Sugere-se a utilização de bicicletas, sugestão esta que eu deparo no dia a dia nas vias permitidas; só que, todos os ciclistas me parecem estar a treinar para o Tour de França ou para a Volta a Portugal e não para deslocação laboral.
E nas manifestações a preceito, é raro aquele que não leva uma “bike” com quadro em alumínio e forquetas de carbono a servirem duas dezenas de velocidades, enroupado com berrante “jersey” de poliéster e capacetes de carbono do tipo “escaravelho da batata”.
Percebi. Concordo com a ideia, mas é pouco para o que se pretende. Isto não vai mudar mentalidades, é uma ideia peregrina e emocional. Na prática, nada faz. Zero.
Tentem fechar o palavroso presidente do States num quarto, sem “tuiters”, durante um dia. No dia imediato, aparece o dobro das “tuitadas”, cada uma mais espectacular que a anterior.
Alguém de sólida inteligência já se lembrou de criar um dia de jejum completo para proclamar a fome no Mundo. Empreitada para os de barriga cheia, que não enche barriga aos que estão privados de alimentos. Ora, estes últimos, nem sequer têm a oportunidade de comemorarem tal dia, por serem quase todos do calendário, porquanto de barriga cheia só terão eventual oportunidade uma vez no ano. Calendarizações análogas, não passam de um presumido alvará de civilidade.
Vou deixar o carro na garagem – até porque é sábado – e vou dedicar-me a este blog, dizendo aos outros o que devia calar em mim.

Para finalizar, deixo a imagem de um dos meus carros de colecção, um “jeep” do tipo de combate, daqueles que não poluem coisa alguma – são de papel, pois não posso nem quero ter outros. Foi desenhado há uns anos e deixei-lhe números no “capot”, os quais vou aproveitar para preencher a próxima aposta do euromilhões. Nunca se sabe…

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