Como o convite veio por via institucional, através do município e deste pela empresa que dirigi, respondi pelos canais próprios o que dizia respeito aos pormenores relativos à gravação, designadamente o plano logístico. A par disso foi-me pedida a descrição da figura, que eu teci em alinhado escrito de duas quatro páginas (nunca fui muito conciso nem com siso), de que transcrevo aqui uma pequena parte.
Descobri o padre fisicamente desta guisa:
O padre Francisco da Costa, a esta altura da idade, era um
homem alto e forte, um tudo-nada com barriga de bojo saliente, braços e pernas
um pouco longos demais, mãos grandes e peludas com dedos longos, olhos como
tições e dentes enormes e amarelos. As maçãs do rosto apresentava-as o padre
rubicundas, mormente após as suculentas refeições de perdiz, lebre e faisão, de
que era ele apreciador, regadas com o melhor tinto do dízimo e das suas vinhas
da Cogula e Vila Garcia. A sua fisionomia era agradável e apessoada, mas a sua
voz não valia os restantes atributos, pois saía nasalada e aguda como o chiar
de um carro de bois por ladeira abaixo.
"Será mais ou menos como dizeis, que Deus o sabe. Por
outro lado, apontam-me o dedo como pai de muita criação, mas alguns deles não
param de impetrar de el-rei cartas de legitimação para a filharada que vão
fazendo nas mulheres da sua paróquia.
Invariavelmente, Francisco da Costa encaminhava a sua defesa para
comparações que lhes pareciam mais convenientes.
"Aponte algum..."
"Aponto, como exemplo, o padre Álvaro Saraiva, da freguesia de São
João, que teve uma filha de Leonor Nunes, mulher solteira; falo-lhe em Diogo
Gomes, clérigo de missa e abade da freguesia de S. Pedro, que tem uma filha de
Maria Eanes, mulher solteira, a quem baptizou como Maria Gomes."
"Esse
sei eu, padre. Também sei que o padre Diogo Gomes pretende de el-rei a
legitimação da filha."
"Sei
de casos presentes e passados, como o do abade de S. Paio de Caria, que teve
oito filhos feitos em duas mães, ambas criadas da sua casa ou ainda do abade de
Santas, João Dores, que teve da mesma mulher uma ninhada de cinco
rebentos."
"Se vamos para o passado, meu
amigo, teremos de ir buscar o exemplo de D. Álvaro, prior da Ordem do Hospital
e filho do arcebispo de Braga, D. Gonçalo, que teve trinta e dois filhos, sendo
que um deles foi D. Nuno Álvares Pereira."
"Lembro-me também ter lido que um padre
de S. Salvador do Souto de Rebordães, de nome Lourenço Rodrigues, fez cinco
filhos nos ventres de duas mães diferentes."
Como se pode ler, na resposta à produção, fui tecendo algumas características do Padre Costa, aludindo - como o fiz na obra e pela boca do sacerdote - a outros casos semelhantes ao seu.
Reproduzo, para não deixar ir o post em branco, o convite que então enviei quando lancei o livro.
Sobre esta forma de "convidar", hoje considero ser um abuso, por parte do autor ou autor-editor, convidar os amigos e o restante público para irem à apresentação da obra, que eles se constrangem em não comprar, vendendo-a em vez de a oferecer. Então quem convida não deve pagar do seu bolso? Imaginam alguém convidar-vos para ir almoçar a sua casa e, no final, pedir-vos o pagamento da refeição?
Por isso, deixei de enviar convites. Chamo apenas apresentação. Leva-lhe as mesmas voltas, apesar de se considerar uma questão semântica. Com o tempo e o volume de obras publicadas, nem notícia de apresentação envio.
Como posso adquirir o livro?
ResponderEliminar