Era uma anúncio das Fantasias de Natal, uns chocolates que o avô
manhoso e guloso ia passando ao estreito, com histórias do arco da velha,
perante a incredulidade da neta. E a miúda, vendo que o velhote ia fazer o
mesmo ao Coelho, ao Pai Natal e ao Palhaço, deitou a mão aos ditos chocolates e
exclamou: “Não, não! O Coelhinho veio com o Pai Natal e o Palhaço de comboio ao
circo”.
Serve esta entrada com um anúncio “vintage” para alertar a predação que
se está a fazer nos CTT, ao ponto de fecharem as estações - que agora se chamam
lojas - nas sedes dos concelhos (por enquanto, de alguns, para ver as reacções
do Governo e, pelo andar da carruagem, a falta delas).
Não é possível tal miséria! Economicamente acredito que é uma medida
que vai evitar custos, uma vez que os correios, tal como se propõem no seu
ofício primordial, enfrentam a concorrência dos novos meios de comunicação
bilateral. Por isso, sem querer parar a marcha do futuro, técnica e eficaz tal
como se apresenta, preferia que não fossem privatizados ou, a sê-lo, com
garantias do serviço aberto a todos aqueles que não têm acesso às novas
tecnologias. Coitados daqueles que têm a má sorte de morar em terras
montesinhas e em interiores de que só restam os mais velhos, inválidos e placas
toponímicas. E quanto aos postos de trabalho? Nem respondo! Não se alcançam
progressos onde nem todos usufruem deles e mesmo quando, à conta dele,
acontecem destes tristes tropeções.
As desculpas ou justificações, vindas de quem faz as contas às receitas
e aos custos, soam-me como se me dessem a beber papas de linhaça. Papas essas
que apenas têm uma pitada de moral e uma boa dose de economia de mercado. E é
aqui que bate o ponto…
Paulatinamente, a operadora concessionária, no âmbito da privatização,
faz o que quer e lhe apetece: ou seja, vai comendo todos os chocolates da
árvore. E a neta, que supostamente seria representada pelo Governo, vê passar à
goela do mercado capitalista aquele centenário serviço nacional. De comboio ao
circo já não vamos, porque estamos nele e, não sei por quê, tenho a sensação
que já não temos coelhinhos, pais natal e que só restam os palhaços, que somos
nós.
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