sexta-feira, 16 de agosto de 2019

HÁ MAIS BLOGS PARA ALÉM DESTE

Decidi recentemente reanimar mais dois blogs que tenho mantido a hibernar. Um deles, é o "LENDAS PORTUGUESAS", onde alterei o formato dos textos e das ilustrações. É um blog que esteve um ano em "repouso",que muitos considerariam mesmo abandonado, não fosse o número dos seus visitantes (e eu não era um deles) a continuarem a leitura do que já lá tinha exposto. Devido a esses e outros eventuais leitores, aprontei novo naipe de lendas, até hoje - e já lá vão dez dias - com uma introdução diária.
As ilustrações, que constam do meu sketch book, são elaboradas com esferográfica preta e coloridas com lápis de cor. Estão assinaladas por concelhos, numeradas segundo a sequência naquele livro cartonado de apontamentos e fazem parte do meu acervo literário e plástico.
O blog, que vai apontado do lado direito (seguindo directamente para ele, se o desejarem, clicando no respectivo título),é um dos quatro que mantenho, nem sempre com regular assiduidade.
Para ilustrar, eis algumas imagens das 11 lendas recentemente "postadas".























quinta-feira, 8 de agosto de 2019

RESPONDA O QUE QUISER


A DGAEP é uma entidade governamental cujo logótipo parece um bailarino de azul e vermelho, mas isso pouco monta ao caso a seguir em apreço. Desculpem-me não colocar aqui o “boneco” ou logótipo, uma vez que sou cumpridor das leis e obrigações e está-me vedada essa reprodução, justa e legalmente com a condicionante de ser reproduzida mediante autorização expressa da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público. Interessa saber que se trata de um serviço transversal da Administração Pública, tutelado pelo Ministério das Finanças, com a sua lei orgânica reproduzida no Decreto Regulamentar n.º 27/2012, de 29 de Fevereiro.
Decorridos 4 anos desde um anterior questionário sobre a satisfação ou o seu contrário dos serviços pelos servidores, lança-se a 2ª edição do mesmo, correcta e aumentada, como é dos cânones da continuidade.
Para além das questões corriqueiras e preliminares para se saber o organismo e ministério do respondente, sexo, idade, antiguidade, tipo de vínculo, talvez lá faltasse saber qual a cor preferida dos sapatos, o clube, a marca e o modelo de automóvel que gostasse de conduzir (já nem falo qual o partido político preferido, como é evidente), trago aqui o que, pelo vulgo, me deu “nas vistas”.
Coloco aqui este texto porque, entre 18 de Julho deste ano e finais de Setembro circula um questionário sobre os factores motivacionais dos trabalhadores da Administração Pública Central, querendo aferir o impacto da motivação/satisfação dos trabalhadores ao nível da produtividade e qualidade do trabalho realizado, do relacionamento interpessoal, ambientes de trabalho, da melhoria do desempenho dos serviços e o que soe de razão perguntar-se.
O questionário em questão encontra-se acessível através de um link que eu “bisbilhotei” para saber o que se pretende saber. Verifiquei que as respostas são de fácil desenvolvimento, clicando num dos itens – totalmente em desacordo; em desacordo; de acordo; totalmente de acordo.
Até aqui, tudo bem, a ideia até nem é má. O que tem suscitado alguma polémica – que eu peguei de cernelha, por a ter lido em muitos lados – é que a coisa surge no período vizinho de novas eleições legislativas e o questionário envereda por aquilo que se julga serem perguntas de natureza política e económica. E há outras que são tão risíveis como esta, logo para “mata-bicho”: “Tenho capacidade económica para comprar os bens necessários à alimentação diária”. Se o trabalho não garante a alimentação diária, um mísero frango de churrasco, muito menos do vestuário e do pagamento de consumos, o melhor é recorrer-se à Segurança Social.
Há outras perguntas cuja resposta é levada ao egocentrismo de cada um, como estes três exemplos a seguir (corrigido por mim os vocábulos que ali seguem o acordo ortográfico): “Em comparação com outros trabalhadores com um trabalho similar ao meu, considero que o meu salário é razoável”; “Convicção de que o trabalho no serviço público é mais gratificante do que no sector privado”; “Os incentivos financeiros motivam-me mais do que os não financeiros”. Esta será a rábula da galinha da vizinha… Não será aquela melhor que a minha?
Há questões subjectivas, meramente circunstanciais e pouco relevantes para um inquérito deste tipo, como: “No meu organismo há uma cultura de confiança dos dirigentes em relação aos trabalhadores”. Para se responder a isto, não era necessário inquirir-se sobre a confiança dos dirigentes e trabalhadores, dos bispos e dos vigários da hierarquia? Como é que se mede a confiança, apenas pelos tratamentos por “tu”?
Está lá uma questão que me faz lembrar aquelas perguntas dos pais nos primeiros dias de escola dos filhos, que é “gostas muito da escola?”. Veja-se: “Sinto-me feliz no meu trabalho”. Respondendo a esta questão, estão dadas as respostas a todas as outras – remuneração, condições laborais, de higiene e de saúde, comparações salariais e demais, incentivos e o que se tiver por enquadrável no múnus.
Finalmente há questões com uma carga política sondável, pelo que as reproduzo separadamente. Assim:
- “O período da Troika influenciou negativamente a minha motivação no trabalho”. Eu não sei o que responderia, se fosse inquirido, caso pretendesse ser profissionalmente correcto e não politicamente correcto.
- “A reposição dos salários afectou positivamente a minha motivação no trabalho”. Imagino que a motivação é, desde sempre, o salário e não a folia, sendo a única excepção o voluntariado, onde a remuneração não existe.
- “O descongelamento progressivo das carreiras é motivador”. E é devido a quem, han? Digam lá, quem é que retirou do congelador a progressão das carreiras?
- “Sinto-me hoje mais motivado no trabalho do que há 5 anos atrás”. Há 5 anos atrás, do tempo de quem? De quem foi a culpa e quem são os bons que motivam o trabalho? Se perguntarem a um menino se gosta do enfermeiro que lhe deu a pica, ele vai dizer que sim? E entre a gula e a penitência, o que se prefere?
Enfim, há uma tirada de humor que pode consubstanciar estes últimos quatro items. Pergunta: Qual é o fim da picada? Resposta: Quando o mosquito vai embora. Ou ainda, no diálogo entre dois cromossomas, um deles diz para o outro: Oh! Cromossomos felizes!

sábado, 3 de agosto de 2019

O MUNDO É DAS CRIANÇAS… E DOS DRONES


Com as duas notícias que me entraram em casa esta semana, lembrei-me de uma obra do escritor inglês Aldous Huxley, publicada em 1932, sob o título “Admirável Mundo Novo”. Que o mundo é novo a cada dia que passa, não é novidade para ninguém; e que é admirável, só um bacoco é que não se extasia com tal evolução.
Quando andava na escola, pelos meus oito anos de idade, havia lá um miúdo que recebia dinheiro de outros miúdos a vender desenhos que ele fazia a lápis, copiados sabe-se lá de onde, com situações escabrosas e de cariz ridículo-sexual. Pelo meu lado, sem concorrer com ele nos temas, fazia mapas de países, coloridos com lápis de cor, cujo pagamento me vinha precisamente em forma de lápis de cor, a sua maioria já usada. Eu não recebia um centavo, era tudo naquele género, quando era…
Imagine-se agora sabermos que a menina Boram, uma youtuber sul-coreana de seis anos, comprou no início deste ano uma casa no valor de 7,2 milhões de euros (9,5 milhões de won, moeda local) com as receitas dos seus canais em que faz críticas a brinquedos e vlogs (Vlog é a abreviação de videoblog, vídeo + blog, um tipo de blog em que os conteúdos predominantes são os vídeos). A pequena tem uma empresa com aquela coisa, gerida pelos pais, com contratos de publicidade. Nem é para menos, pois a youtuber tem qualquer coisa como 13,6 milhões de subscritores, em que experimenta e faz críticas a brinquedos, ainda críticas e sondagens aos vlogs, com uns 17,8 milhões de subscritores semanais.
Ou o mundo andou muito depressa ao ponto de se tornar irreconhecível, ou fui eu que perdi a possibilidade de o acompanhar. Estou inabilitado para ser um youtuber que se preze – nem mesmo um blogger que se ature – ainda que eu tenha dez vezes a idade da moça. Ainda sou do tempo em que, para se arranjar alguns trocos, era preciso moer o corpo e o juízo. Não me lembro de aos seis anos ter na minha posse uma nota das mais pequenas. Ver por ver, dizer que se arranjam sete milhões de euros a comentar e criticar brinquedos, será fabular com coisas sérias. Mas quem leva a sério quem tem apenas a idade para entrar na escola?!
Mais me espanta é ler sobre a pequena Boram, que já reproduziu conteúdos, ditos clips, que mostravam Boram a roubar dinheiro da carteira do pai e em que simulava conduzir carros na estrada. É certo que as autoridades reagiram a estas anomalias, uma vez que os conteúdos da pequena são vistos por outros pequenos do seu escalão etário. Mandaram apagar tais conteúdos quando o mal já estava feito e assegurado o rendimento da coisa. O certo é que 7 milhões de euros é muito dinheiro!
A Boram tem um concorrente na rede. Tem sete anos de idade, dá pelo nome de Ryan Kaji e é outro youtuber com um canal de críticas a brinquedos, o que já lhe rendeu 19,7 milhões de euros no último ano, graças às visualizações de mais de 20,8 milhões de subscritores do seu canal.
É evidente que isto é o “mundo novo”; não sei, porém, se será “admirável”. Talvez, decompondo os sinónimos do vocábulo, quererá dizer espantoso, mas não esplêndido.
Segue agora a crónica para o mundo dos adultos e das suas brincadeiras que são levadas muito a sério. A notícia dá conta que a Espanha vai ter drones a vigiar o que faz cada condutor enquanto conduz. Os aparelhos semelhantes a grandes moscardos vão estar essencialmente a trabalhar nas estradas e as infracções verificadas pelos “insectos” serão notificadas imediatamente por um agente da brigada de trânsito ou processadas posteriormente.
Não me consta que a Boram tenha alguma vez criticado estes brinquedos policiais. Se calha até falou deles, porque para se ganhar sete milhões não há brinquedos que cheguem.
A moda em Espanha, aqui tão cerca, depressa passará a fronteira até às costas do Atlântico. Se não bastam os armários do controlo de velocidade à beira da estrada, que voam mais baixinho, lá vêm os drones para ajudar à receita. Sob esta capa e conceito de progresso, nada escapa aos drones e aos armários e não haverá, por parte dos mordomos da lei, mãos a medir para passar as facturas inerentes às perplexidades ilustradas por aqueles aparelhos; naturalmente os ditos sempre prontos para as multas, sem nunca se alcançarem “fora de serviço”.
Sobre ambos os casos do progresso galopante, cada qual fique no que lhe parecer. Lá bem no fundo, a Ibéria merece o que os romanos disseram dela.
Lá volto eu à carga. É evidente que isto é o “mundo novo”; não sei, porém, se será “admirável”. Talvez, decompondo os sinónimos do vocábulo, quererá dizer assombroso, mas não será surpreendente.