domingo, 30 de setembro de 2018

JAMES DEAN - EFEMÉRIDE TRISTE DE UM REBELDE

Faz hoje 63 que desapareceu uma estrela. Uma estrela rebelde. Tinha 24 anos (e eu 4), quando se envolveu num acidente fatal com o seu Porsche, na altura em que se dirigia para uma corrida de automóvel.
Grande actor, os seus papéis correspondiam à sua personalidade. Rebelde, insatisfeito, sonhador, teve papéis naquele espaço em que viveu como “A Leste do Paraíso” ou “O Gigante” ou ainda em “Fúria de Viver”.
Chamava-se James Byron Dean, nasceu em Marion, Indiana, em 8 de Fevereiro de 1931. Um aquariano, como eu, cujas características no Zodíaco andam sob o lema de extremamente racionais e muito críticos, metódicos e empenhados no que fazem, que sabem sempre o que querem e para onde irão.

sábado, 29 de setembro de 2018

SORTEIOS E NOMEAÇÕES


Quero avisar eventuais leitores – se é que vai haver algum, pelo andar da carruagem – que nesta peça não tomo partido pelas tomadas de decisão apontadas nem me move interesse por estar em causa a pessoa A, B, C ou D.
Questiono, isso sim, a forma, como em democracia (ainda) se resolvem os assuntos, mesmo que ao abrigo da legislação vigente.
No caso de escolha do(da) PGR houve nomeação; para o processo dito Marquês houve sorteio.
Perante a perplexidade que me suscita uma e outra – e por escrever “Marquês”, recorro à História. Cada um, entenda o que deve entender.
O processo dos Távora teve um juiz nomeado (não sorteado) pelo Sebastião de Carvalho e Melo, que o rei D. José I aceitou. Não houve sorteio. Era uma Monarquia, a democracia era um termo grego ainda não composto e decomposto e muito menos praticado.
Não há comparação possível com a nomeação da actual PGR. Não, não há, a não ser na fórmula utilizada. Nem está em causa a pessoa não reconduzida ou a pessoa nomeada. Para mim, ambas, como magistradas, estão acima de qualquer suspeita.
Pergunto:
-a exemplo da escolha do juiz no processo Marquês, não era mais adequado o sorteio entre os magistrados competentes para o cargo?
- mesmo que seja constitucional a aplicação actual (e é, enquanto não se alterar o artº 133º), não era mais apropriada, tratando-se de escolha (e não de sorteio), a nomeação ser sufragada entre os seus pares (magistrados)?
- por que razão, se nomeia em vez de se sortear?
Vejamos: a Justiça deve ser independente do Poder. Total e inequivocamente. No entanto, o único magistrado do MP sujeito a designação pelo poder político é o PGR, mesmo sabendo-se pelo articulado que a escolha não está vinculada a qualquer área de recrutamento ou sequer a especiais requisitos de formação. Depois, ao saber-se que o Presidente do Supremo Tribunal não leva as mesmas voltas para ocupar o lugar, que dualidade impera sobre dois cargos superiores que, ainda por cima, têm em comum a categoria, tratamento e honras iguais e o uso do trajo profissional?
A Justiça é como a mulher de César. É séria, eu sei, mas não lhe basta sê-lo, tem de transparecê-lo.
Já o caso dos ditos “super-juízes”, que são apenas dois, o sorteio foi o mais adequado e transparente. No entanto, lá volto eu à forma e aos quesitos:
-Por que razão foi necessário o recurso a um computador que, ainda por cima, se engasgou na comunicação com a fonte dos dados? Não seria mais curial o que é praticado no resto do mundo civilizado (até no futebol, como nos sorteios da FIFA e da UEFA) o recurso a bolas sorteadas numa tômbola ou numa tina transparente?
Lá vem a mulher de César à baila! Quem não percebe de informática, desconfia sempre da coisa; e quem percebe, ainda desconfia mais.
De resto, nada tenho a apontar nas escolhas. Disse-o antes, repito-o agora. Questiono a forma e a complexidade, quando se podia conseguir o mesmo resultado com mais transparência.
Finalmente, para fechar o texto, outra perplexidade: em 1771 magistrados que há no País, no Tribunal Central de Instrução Criminal só existem dois?! Não há espaço para mais ou faltam candidatos ao lugar?
Como já disse num post anterior, saltei da carruagem quando tive ganas de me licenciar em Direito. E fiz bem. Como advogado, seria uma lástima, porque sou sensível às situações pró e contra; como juiz, lástima seria, pelas mesmas razões. Então, sabendo o que vou apontar a seguir, lido algures, não queria eu ser o juiz da fase de instrução ou de outra qualquer. Cento e tal volumes e cerca de nove centenas de apensos; 13 milhões de ficheiros informáticos e um processo que, a juntar todas as folhas do despacho de acusação do caso mais mediático (não aponto nomes) dava para unir o Bairro Alto ao Cais do Sodré em Lisboa duas vezes. Para além disso, tem sete vezes mais páginas do que “Os Lusíadas” e quase tantas palavras como todos os livros da saga de Harry Potter juntos.
Confesso, saltei da carruagem a tempo. Não estou arrependido porque, se conseguisse chegar até ali, não tinha pachorra. Honra seja feita aos juízes portugueses, que eu admiro.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

GOOGLE ESTÁ DE PARABÉNS

Faz hoje 20 anos este motor de busca, criado em 1998 por dois peritos nesta nova tecnologia, que são Larry Page e Sergey Brin.
Trata-se do website mais visitado do mundo e merece que lhe dedique esta homenagem. Obrigado.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

ADIVINHAÇÕES E BRUXARIAS


Se efectivamente acaso algum dos poucos leitores deste blog leu o post do passado dia 22 deste mês, reparou que eu desenhei um “jeep” e ao fechar o pano do arrazoado prometi jogar no euromilhões aproveitando os números no “capot” dessa viatura. E fi-lo. Apostei no 5 (saiu o 6), mais no 13 (saiu no 15), depois no 23 (saiu o 25), depois o 30 (saiu o 30, viva!) e finalmente no 36 (saiu o 38). Quase tudo ao lado, o que significa nada!
Posto isto, sabendo que a Fortuna poderá ter lido o post, verifico que obrou de molde a passar rasantes aos números escolhidos, de nada valendo, mesmo que o quisesse, a consulta a uma quiromante, taróloga ou bruxa (coisa que não faço). Como aquele jogo, segundo se propaga, só faz excêntricos, não conto com isso para me tornar mais um porque já sou excêntrico por natureza.
Vou então brincar com o assunto. Não levem a mal…
A propósito, trago hoje aqui uma peça repescada e alterada do Bandarra-Bandurra, para aquelas e aqueles que optam por consultar as famosas adivinhações.
A adivinhação não deixa de ser uma arte, neste caso mágica, de descobrir o desconhecido através da interpretação de símbolos, como é a “leitura” de nuvens, cartas de tarô, chamas e fumo, ossos de animais, promessas governativas e relatórios das comissões parlamentares de inquérito.
Quer isto dizer que as bruxas adivinham? É claro que adivinham, pois têm a equivalência aos cursos técnicos profissionais e profissionalizantes de astrologia, cartomancia, quiromancia, taromancia, hepatoscopia, I Ching e numerologia, e licenciaturas pós-Bolonha, para só citar estes. Parece que elas possuem, em doses maciças, os poderes sibilinos de Nostradamus, de Bandarra, mesmo do Pretinho do Japão, e das previsões económicas do Banco de Portugal e do FMI, embora estes dois últimos não acertem tanto (como no caso do meu euromilhões acima, é tudo ao lado).
Numa sondagem que se realize, como é hábito, através de entrevistas telefónicas em escolha aleatória, dará 10 por cento para os que acreditam no acertar dos resultados de adivinhação das bruxas e outros 10 por cento para quem creia no inverso. É bom que se diga que a diferença estará para quem não sabe/nem responde ao inquérito, que por meu lado adivinho com um erro máximo de amostra de 0,6 por cento para um grau de probabilidade de 99,9 por cento.
Um dos símbolos da actividade é, para além da inscrição nas Finanças, o caldeirão do costume com três pernas, geralmente com água a ferver, onde se juntam alguns corantes para dar efeito, bem como ervas e fauna rasteira vária, tais como asas de morcego, rabo de escorpião, sémen de unicórnio (à venda nas farmácias) e os pelos de uma das toupeiras do SLB (à venda numa loja de souvenirs do FCP e do SCP). No entanto, trata-se de um instrumento mágico tão importante como é o estetoscópio médico para um clínico que mostre estar em serviço ou a máquina de calcular da tutela que faz o cálculo da contagem do tempo dos professores. O caldeirão, na sua forma bojuda, se nada tem a ver com o daquele frade que fez o caldo de pedra em Almeirim, representa o ventre da deusa e o útero feminino. O seu tamanho deve ser um pouco menor que uma das panelas do riquíssimo e reservadíssimo restaurante El Celler de Can Roca.
Decerto não confundir este caldeirão com o da lenda que atribuiu o seu enchimento de ouro através do arco-íris, porque se fosse real já teria na periferia os auditores da Goldman Sachs, os mercados bolsistas e outras organizações sem fins lucrativos.
Finalmente, umas dicas para se reconhecer a verdadeira bruxa, a tal que dá os sete números da aposta e fará excêntricos os que ainda não são. Abrindo-lhe a carteira – o que não recomendo- ou à saída da caixa de uma grande superfície comercial, há sinais que se podem ver. Como é de direito, será certo que terão bilhete de identidade ou cartão de cidadão, cartão de crédito e número de contribuinte. Mas isso toda a gente tem!
Falta então a mais importante, que envolve alguma dinâmica: colocar uma vassoura atrás da porta, virada ao contrário. A bruxa não conseguirá sair. O melhor é pesquisar numa plataforma adequada ao “métier” ou consultar os blogs, sites, twitter, linkedin e facebook, em que se veja o símbolo daquele chapéu de bico ou a vassoura igual à que emprestei ao senhor presidente dos States na caricatura atrás.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

PADRE COSTA - A LONGA PATERNIDADE

Estava eu para editar o Livro "O Padre Costa de Trancoso" - que, por sinal, e por essa ocasião  era para ter o título de "A Longa Paternidade - quando me contactou uma produtora de televisão para fazer um programa sobre a figura. E o programa foi feito e esteve muito bom.
Como o convite veio por via institucional, através do município e deste pela empresa que dirigi, respondi pelos canais próprios  o que dizia respeito aos pormenores relativos à gravação, designadamente o plano logístico. A par disso foi-me pedida a descrição da figura, que eu teci em alinhado escrito de duas quatro páginas (nunca fui muito conciso nem com siso), de que transcrevo aqui uma pequena parte.


Descobri o padre fisicamente desta guisa:
O padre Francisco da Costa, a esta altura da idade, era um homem alto e forte, um tudo-nada com barriga de bojo saliente, braços e pernas um pouco longos demais, mãos grandes e peludas com dedos longos, olhos como tições e dentes enormes e amarelos. As maçãs do rosto apresentava-as o padre rubicundas, mormente após as suculentas refeições de perdiz, lebre e faisão, de que era ele apreciador, regadas com o melhor tinto do dízimo e das suas vinhas da Cogula e Vila Garcia. A sua fisionomia era agradável e apessoada, mas a sua voz não valia os restantes atributos, pois saía nasalada e aguda como o chiar de um carro de bois por ladeira abaixo.
Encontrei outros casos semelhantes ao do Padre Costa, todos estes verídicos, tendo-os colocado em diálogo estabelecido entre o padre e um escrivão da sisa judenga, Mendo Pires (personagem fictícia por mim criada), como se pode ler neste trecho:
     "Será mais ou menos como dizeis, que Deus o sabe. Por outro lado, apontam-me o dedo como pai de muita criação, mas alguns deles não param de impetrar de el-rei cartas de legitimação para a filharada que vão fazendo nas mulheres da sua paróquia. 
Invariavelmente, Francisco da Costa encaminhava a sua defesa para comparações que lhes pareciam mais convenientes.
    "Aponte algum..."
    "Aponto, como exemplo, o padre Álvaro Saraiva, da freguesia de São João, que teve uma filha de Leonor Nunes, mulher solteira; falo-lhe em Diogo Gomes, clérigo de missa e abade da freguesia de S. Pedro, que tem uma filha de Maria Eanes, mulher solteira, a quem baptizou como Maria Gomes."
    "Esse sei eu, padre. Também sei que o padre Diogo Gomes pretende de el-rei a legitimação da filha."
    "Sei de casos presentes e passados, como o do abade de S. Paio de Caria, que teve oito filhos feitos em duas mães, ambas criadas da sua casa ou ainda do abade de Santas, João Dores, que teve da mesma mulher uma ninhada de cinco rebentos."
    "Se vamos para o passado, meu amigo, teremos de ir buscar o exemplo de D. Álvaro, prior da Ordem do Hospital e filho do arcebispo de Braga, D. Gonçalo, que teve trinta e dois filhos, sendo que um deles foi D. Nuno Álvares Pereira."
     "Lembro-me também ter lido que um padre de S. Salvador do Souto de Rebordães, de nome Lourenço Rodrigues, fez cinco filhos nos ventres de duas mães diferentes."

Como se pode ler, na resposta à produção, fui tecendo algumas características do Padre Costa, aludindo - como o fiz na obra e pela boca do sacerdote - a outros casos semelhantes ao seu.

Reproduzo, para não deixar ir o post em branco, o convite que então enviei quando lancei o livro.
Sobre esta forma de "convidar", hoje considero ser um abuso, por parte do autor ou autor-editor, convidar os amigos e o restante público para irem à apresentação da obra, que eles se constrangem em não comprar, vendendo-a em vez de a oferecer. Então quem convida não deve pagar do seu bolso? Imaginam alguém convidar-vos para ir almoçar a sua casa e, no final, pedir-vos o pagamento da refeição?
Por isso, deixei de enviar convites. Chamo apenas apresentação. Leva-lhe as mesmas voltas, apesar de se considerar uma questão semântica. Com o tempo e o volume de obras publicadas, nem notícia de apresentação envio.


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

OS NUS E OS VESTIDOS



Ao contrário daquela história em que o rei vai nu, a mim parece-me que o povo vai nu e o rei é que vai vestido.
Veio-me esta coisa à cabeça a propósito de uma recente exoneração a pedido, em face da não concordância com o arrumar certas fotografias de arte mais explícitas no corpo humano em ambiente próprio, cujo ingresso (julgo eu) seria controlado pela faixa etária inscrita no cartão de cidadão.
Trata-se, como já devem ter lido, visto e ouvido, do caso da Fundação de Serralves. Perplexo fiquei, porque vejo novamente a neolítica brigada dos costumes em acção. Tem a “coisa” ou o “coiso” à mostra? Tapa-se. É imoral? Queima-se. É proibido? Condene-se.
E logo a Fundação de Serralves, que exibe todo o tipo de arte (a maior parte de que eu não gosto, mas pronto), a qual tem no seu primado – bem anunciado no seu site – que pretende “estimular o interesse e o conhecimento de públicos de diferentes origens e idades pela arte contemporânea, pela arquitetura, pela paisagem e por temas críticos para a sociedade e seu futuro, fazendo-o de forma integrada”? Está lá escarrapachado: “público de diferentes origens e idades”; “por temas críticos à sociedade e seu futuro”.
O director artístico do Museu de Arte Contemporânea, onde se passou “o atentado”, pediu a demissão. E fez bem. Eu faria o mesmo. Suponho, pelas notícias, que este pedido estará relacionado com decisões da administração da Fundação, que interditou a menores de 18 anos parte da exposição de fotografias do norte-americano Robert Mapplethorpe, por conter não vestidos, mal vestidos ou nus.
Não faltam por aí estátuas de todas as épocas com tudo à mostra, algumas com amputações do “coiso” (vá lá saber-se se culpa do tempo, das bicadas dos melros à sorrelfa ou martelada das brigadas às claras), em praças públicas, jardins e coisa e tal.
Isto é estapafúrdio! Digno de figurar num almanaque de anedotas! Nos tempos que correm, quem tenha menos de 18 anos tem pachorra para ir visitar exposições a Serralves? E ainda precisa de ir a Serralves para ver nus? Não tem um portátil, um tablet, um smartphone, uma parabólica, para ter à disposição oftálmica os nus em todos os movimentos e ambientes?
Este post nem sequer leva imagem. Receio que pudesse ser mal interpretada por alguma brigada dos costumes blogosférica munida com instruções do tempo dos plesiossauros. Imaginem que lá a coloquei e lá se encontra, bem a abrir esta peça. Vejam através da imaginação, trata-se de um “nu com as mãos nos bolsos das calças”. Imaginem, porque eu estou deslumbrado e já não tenho pachorra…

sábado, 22 de setembro de 2018

SEM CARROS NEM CARRETAS


O Dia Europeu sem Carros é uma treta. A ideia é boa e exequível, mas continua a ser uma treta. Começa logo por se saber que os carros que existiam continuam a existir, a que se acrescenta um enorme e colossal número de fabricados neste dia. Depois, há aqueles que não costumam utilizar o carro e, para contrariar o alvitre, exibem a sua máquina, abrindo o vidro da janela, colocando o cotovelo de fora e largando o sorriso dos corajosos em contravenção. Se isso não bastasse, a maioria dos utentes não se arrisca ir buscar o pão ou dar uma saltada ao café, que ficam a cem metros de casa, indo a pé ou de bicicleta. Ser o dia europeu da mobilidade não significa ser o dia da imobilidade.
Corta-se o trânsito, é isso. Quem vai de carro, contorna a questão, põe o GPS a puxar pelas meninges digitais e vai na mesma.
Dia europeu sem carros, em Lisboa, foi o primeiro dia da greve dos taxistas. Isso sim. Ocuparam as faixas da Av. da Liberdade, só passavam os transportes públicos.
A propósito: se acham que há carros de aluguer a mais, vão acrescentar mais outros, tais as plataformas (hoje, é só plataformas; há uns anos atrás, eram apenas as das estações do comboio) como a Uber, Cabify,Taxify e Chauffeur Privé? Ora, é precisamente uma delas que tem a designação mais sugestiva que, à primeira vista, com o título de “chauffeur” me deixou a questionar se os veículos desta funcionariam a “pellets”. O termo, que significa aquecimento ou calor na língua gálica, foi utilizado a partir da Revolução Industrial, em que o profissional com esse designativo era aquele que alimentava as caldeias do aquecimento para produção do vapor. Com a reviravolta dos tempos, o termo “chauffeur” já não se aplicava ao enfarruscado alimentador de caldeiras, passou para o engomado, empertigado e fardado motorista de Rolls Royce, Bentley e quejandos.
Sugere-se a utilização de bicicletas, sugestão esta que eu deparo no dia a dia nas vias permitidas; só que, todos os ciclistas me parecem estar a treinar para o Tour de França ou para a Volta a Portugal e não para deslocação laboral.
E nas manifestações a preceito, é raro aquele que não leva uma “bike” com quadro em alumínio e forquetas de carbono a servirem duas dezenas de velocidades, enroupado com berrante “jersey” de poliéster e capacetes de carbono do tipo “escaravelho da batata”.
Percebi. Concordo com a ideia, mas é pouco para o que se pretende. Isto não vai mudar mentalidades, é uma ideia peregrina e emocional. Na prática, nada faz. Zero.
Tentem fechar o palavroso presidente do States num quarto, sem “tuiters”, durante um dia. No dia imediato, aparece o dobro das “tuitadas”, cada uma mais espectacular que a anterior.
Alguém de sólida inteligência já se lembrou de criar um dia de jejum completo para proclamar a fome no Mundo. Empreitada para os de barriga cheia, que não enche barriga aos que estão privados de alimentos. Ora, estes últimos, nem sequer têm a oportunidade de comemorarem tal dia, por serem quase todos do calendário, porquanto de barriga cheia só terão eventual oportunidade uma vez no ano. Calendarizações análogas, não passam de um presumido alvará de civilidade.
Vou deixar o carro na garagem – até porque é sábado – e vou dedicar-me a este blog, dizendo aos outros o que devia calar em mim.

Para finalizar, deixo a imagem de um dos meus carros de colecção, um “jeep” do tipo de combate, daqueles que não poluem coisa alguma – são de papel, pois não posso nem quero ter outros. Foi desenhado há uns anos e deixei-lhe números no “capot”, os quais vou aproveitar para preencher a próxima aposta do euromilhões. Nunca se sabe…

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

SARDÕES E DRAGÕES


Peço desculpa a todos os que entraram neste sítio com a expectativa de lerem qualquer coisa sobre futebol e actualidade atinente. Não se trata de futebol, nem se engana ninguém, porquanto o título, na ocorrência dos dias de hoje e nas metáforas da fauna, podia estender-se a águias e toupeiras.

Vamos ao que interessa.
Há por este interior portucalense algumas lendas que trazem como protagonista um sardão de proporções gigantescas ou a caminho disso. Há dois casos que rememoro, para não me alongar noutros, quais sejam o Sardão da Lapa (Sernancelhe) e o sardão de Vila Ruiva (Fornos de Algodres). Se não são o mesmo, pelo menos são parentes desde os tempos em que os animais ainda falavam a língua de gente. Os coitados, apesar de grandes, tinham mais olhos que barriga. Qualquer novelo lançado em defesa pelas mulheres que acometiam – e só enfrentavam mulheres, os tarados – era logo tragado com sofreguidão tal, que os deixava com os fios emaranhados nos gorgomilos e dali se afogavam sem poderem respirar.
Depois de deixar expressa esta ficha antropológica, resta-me dizer por que carga de água venho com ela. Seria mais lógico, em vez de recuar e trazer a literatura popular infantil passada e repassada, comparar o que vem a seguir com a bonecada dos canais Panda e Cartoon Network, actualíssimos na era dos tablets.
A razão prende-se com outra figura da mitologia infantil, que é o dragão, daqueles que deitam fogo pelas ventas e pelo traseiro, saído para os escaparates como personagem de uma obra que completa hoje 81 anos de publicação.
Já devem ter percebido que se trata de “O Hobbit”, trabalho de ficção da autoria de J.R.R. Tolkien (decompondo as iniciais como John Ronald Reuel) cuja acção decorre “entre o alvorecer das Fadas e o domínio dos Homens” (na minha teoria, um pouco depois dos tempos em que os animais falavam a língua de gente).
Bilbo é o anão protagonista e o dragão (que dá pelo nome de Smaug), tal como o sardão (que não dá por nome algum), é o antagonista. O dragão de Tolkien é avaro, possui tesouros e circula ataviado de jóias e ouros como se pretendesse fazer parte das mordomas da Senhora da Agonia de Viana; o “nosso” sardão é despojado de tudo, “teso” como um carapau, lacrimoso e desamparado.
Pensei com os meus botões: este sardão português é despojado de ganância e não me parece que a sua fome chegasse ao ponto de comer as mulheres que encontra a dobar lã. Mais me parece possuir, coitado, o estilo tarado de as ver subir para os bancos e para as mesas, mirando salivoso aquele gesto peculiar de ver as criaturas a subir as saias e mostrarem as pernas roliças e gordas.
Ninguém quer começar a escrever, a partir desta efeméride, uma obra telúrica congénere à de Tolkien, tendo o sardão como antagonista? A sugestão, da minha parte, ainda segue com o eventual título de “O Óbito”, porquanto se enquadra na plataforma destas histórias que morreram na História.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

SANTOS DA PORTA...

... Não fazem milagres.
Esta máxima está na Bíblia, no Novo Testamento,é só procurar.
Vem isto a propósito das efemérides que, com alguma frequência, venho trazer a este blog, que já começa a gatinhar com um dia de vida. Começou com muito gás, vamos a ver se não acaba depressa...
Pois bem, hoje há duas efemérides que confirmam o título deste arrazoado e que são:

Em 20 de Setembro de 1276 (742 anos) o português Pedro Julião, também dito Pedro Hispano, foi entronizado papa, com o nome de Papa João XXI. A cerimónia decorreu em Viterbo, na Catedral de S. Lourenço.

Passados 243 anos, mais precisamente em 20 de Setembro de 1519, um outro português, navegador de profissão (ou marinheiro, se bem concordam), chamado Fernão de Magalhães, partiu de Espanha e, ao serviço deste reino, encetou a sua célebre viagem de circum-navegação.
Dois portugueses, entre muitos outros ao longo dos tempos, que largaram pela fronteira e mostraram ao mundo como é ser português de Portugal. Se ficassem por cá, mormente o segundo exemplo, ainda andaria  pelos "lobbies" da corte para arranjar um navio que não metesse água até à enxárcia, mastros e mastaréus.
Muitos, mas muitos, assim foram para fora (e não cá dentro), para encontrarem o que aqui não conseguiram ou lhe negaram. São os santos da porta, os pequenos santos que, para a terra onde nasceram, não são capazes de fazer milagres.
Milagres será tê-los de volta, mesmo que se recorra a outra passagem bíblica, a do Filho Pródigo, acenando-lhes com uma percentagem de racha ao meio nas tabelas do IRS. Ou seja, 50% na decomposição da sigla fiscal, traduzindo-a por IRS-Imposto de Regresso Satisfatório ou, sendo mais criativo na matéria de ciência fiscal, IRS - Incentivo de Regresso Seguro.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

ESTÁ TUDO GROSSO?


Logo no primeiro dia em que abri a chafarica, sai-me ao caminho um lote de perplexidades. Uma manifestação de trabalhadores contra uma trabalhadora, com a empresa a lavar as mãos sobre o assunto; duas investigadoras galardoadas com o Prémio Pessoa a serem preteridas na entrada de uma Fundação de ciência e tecnologia (sigla FCT, que eu pretendia se fundasse o Futebol Clube de Trancoso), quando elas receberam o prémio precisamente por saberem daquela poda da investigação científica; adeptos do SLB a aplaudirem o adversário que lhes meteu o golo na baliza e os coloca praticamente fora daquilo que almejavam; uma greve de taxistas contra uma série de úberes e demais modernices ditas plataformas, só para conseguirem  que o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre a constitucionalidade do diploma já aprovado. Ora, que eu saiba, úbere é teta cheia ou grande mamada, tal o significado da fonética do termo aportuguesado. 
Ainda por cima, foi hoje anunciada a descoberta de um novo dinossauro carnívoro em Torres Vedras, quando nós sabemos que não faltam por aí velhos "dinossauros" omnívoros. Lá por fora, a coisa não ficou por menos, adiantando apenas que foi encontrado o marmanjo australiano que se divertia a colocar alfinetes escondidos nos morangos.
O rocambolesco mundo está virado do avesso, dirão os que não descortinam notícias boas como, por exemplo, o novo penteado outono-inverno do presidente dos americanos ou o pedido de desculpas, de joelhos e de mãos postas, da famosíssima tenista americana ao árbitro que, por acaso, até nasceu por aqui. Para mais, ainda sobre o caso, sabendo nós que a madrinha da rapariga terá trocado o nome, porque mais certo seria Agitada ou Revolta, antónimos do então registado.
Ainda sobre o acaso, uma coisa conseguiu a Serena, que foi exaltar os ânimos já serenados das feministas e a fazer com que hoje eu lesse que até o "feice-buque" foi acusado de fomentar a discriminação de género. Admiração para mim, esta, pois não há cão nem gato que não tenha lá uma página naquela coisa para debitar "gostos" e "bons-dias".
Enfim, espero que tudo passe e que eu não volte a recordar aquela cantilena da dupla revisteira: "Este país é um colosso, está tudo grosso, está tudo grosso".
Sabe-se que, por aí, como em todo o globo, há sempre dos tais de que se diz "que Deus terá mandado fazer pelos seus oficiais".
Quanto a mim, para fim de comentário perplexo, sobre estes assuntos digo como o outro que tal: assado não gosto e cozido não como.

Aviso: Não o disse antes no discurso ante, na altura do "corte da fita" deste blog, mas vai a tempo: as gravuras aqui  trazidas são minhas, não vou bater à porta de ninguém para mas autorizar. A de hoje, por exemplo, foi retirada de uma vinheta de uma BD que fiz para um município. Como não gosto de suportar custos sobre objectos tortos, também não aprecio estar sujeito a pagar direitos.

ALTAS CAVALARIAS SEM CAVALOS

Nem sei por que raio de ideia fui abrir este espaço. Já tinha outros com que me preocupar, não precisava mais um. Há ainda a considerar que não abri este jornal - que, contrariando a génese do termo, nem sequer é diário - para falar mal deste ou daquele, daquilo ou dacolá.
"Altas cavalarias" é uma expressão popular que tem vários significados, de que ressaltam temeridade, audácia, coragem ou arriscar um projecto ou empreendimento acima das capacidades.
É o caso.
Para já, nada de respeitar aquilo a que se chama o Novo Acordo Ortográfico, enquanto este não for revisto e respeitar a verdadeira Língua Portuguesa. Depois, há que respeitar as opiniões dos outros, assim como peço que respeitem as minhas, mesmo que estejam em desacordo com elas. Por último, não há política, religião, xenofobia ou outra qualquer fobia neste blog. Pelo contrário, pretende o mesmo seguir os passos da cultura, da arte, da informação, das efemérides, das notícias de primeira página e da últimas, do comentário pessoal (ainda que, por vezes, azedo), daquilo que der na gana do autor desta coisa.
Mesmo que não tenha visitantes, continuarei a escrever aqui. É vício antigo. Sempre gostei destas lides e, como diz o povo, lá vou "segurar a cabra para outros mamarem". 
Gosto de cavalos, sei montar a cavalo e sei que cavalo de campo não bebe água de balde. Não tenho índole de D. Quixote - esse sim, de cavalarias muito altas - nem me confino em intrigas de mesa de café. Livre como o vento, se quiserem seguir-me, façam o favor...