quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

TASK FORCE

Estarão os leitores deste espaço fartinhos de ouvir falar da Task Force, principalmente depois que a pandemia trouxe a necessidade dessas criações.

Mesmo depois de os ingleses deixarem de pertencer à UE, por saírem pelo próprio pé - e parece-me que com a ajuda de muletas - a língua veio para ficar. Não seria mais entendível  (reparem que nem utilizei cognoscível) para o Zé Povo o termo "Grupo de Trabalho"?

Com a profusão das Task's Force, com a mais recente anunciada pela Sra. Von der Leyen, com vista a acelerar a produção de vacinas contra a Codiv 19, seria natural, pelo menos cá dentro, que tivessem outra forma de designação. Talvez se evitasse tanto disparate nas forças dessa tarefa e demissões que atrasam e não adiantam.

Pelo que li, "task force" é um termo que teve origem na Marinha dos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial. Talvez, por isso, muitas das "task's" metam tanta água. Ou vinho, se atentarmos na fonética do português corrente quando lê Tasca em vez de Task.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O SANCHO PANÇA CONFINADO

 

Já devem ter lido o D. Quixote de la Mancha ou, pelo menos, ouvido falar nesta criatura e no seu seguidor, Sancho, cuja pança lhe valeu o apelido. É este o martirizado e incompreendido companheiro de D. Quixote, autor da máxima que outros parafraseiam - não creio em bruxarias, mas que as há, há.

Farto de ver coisas estapafúrdias, das quais e não menos significativa era um amo desaparafusado do juízo, o gordo e desajeitado escudeiro só lhe faltava acreditar em bruxas. Aliás o Sancho Pança era um pobre diabo que tinha um fôlego épico para aturar tanto disparate junto. Mas tantas e tais as mirabolantes contradanças e alucinações em que o seu amo se meteu, que o coitado passou a crer na existência daquilo que não cria, mas que nós cremos que ele cria… E que ele não queria.

Não foi por acaso que Miguel de Cervantes e Saavedra, o autor da obra, começou a escrevê-la em Lisboa, tal Portugal já era propício a semelhar uma Mancha espanhola. Enfim, “mancha” que é difícil de desmanchar e ainda mais de apagar.

Perante um ou vários D. Quixotes que nos orientam na Saúde, com ordens e desordens e mais bagunça, é natural que, confinado como deve ser, o Sancho ainda mais lhe aumente a pança à medida que lhe mingua a paciência.

Já devem ter reparado quem se revê no papel de Sancho. Eu sou um deles. Nem me falta o aumento do abdómen, que me faz lembrar uma jiboia na digestão de presa grossa.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

O GRÃO-VIZIR

Para quem já leu a banda desenhada de Tabary, na série intitulada "As Aventuras do Grão-Vizir Iznogoud", saberá que ali a máxima é: "todos querem ser vizir no lugar do vizir".

Não é fácil ser "macho Alfa" nos partidos políticos. É um lugar tentador e há sempre jovens turcos que almejam aquela posição, espreitando a primeira oportunidade, principalmente as ondas que chegam após eleições, tais como os cogumelos depois das chuvas.

Soube-se hoje que o "vizir" do CDS resistiu no seu lugar alfa do Largo do Caldas, que mais me pareceu a confusão do Largo dos Caldos Entornados nos últimos dias. O vizir resistiu e o Caldas ficou um caldinho mais temperado, depois de tanta ebulição.

No PS não falta quem queira o lugar do líder "vizir", pontualmente perfilando-se como desmancha-prazeres, mais ou menos dissimulados, às linhas do chefe. Chegada a altura, no Largo do Rato haverá chiadouro e raticida, mal apanhem o dito vizir mais fragilizado.

O mesmo se passa para os lados do PSD, na São Caetano à Lapa, onde não faltará andarem à lapada para ocuparem a cadeira do "vizir". Como a rua, lá no sítio, é inclinada, nem precisam de patins para o porem a deslizar.

Menos evidente é a situação do BE, onde o vizir é "a vizir" da Rua da Palma, não parecendo mulher que aceite palmadas pela posse do lugar que conquistou. Tal como a padeira de Aljubarrota, apanhando os lampeiros no forno, será mulher para arrumar candidatos.

Quanto ao PCP, que mora na rua que tem o nome do autor de "Esteiros" e "Engrenagem", a coisa não se passa assim, às claras. A cadeira da liderança costuma ser aquecida até queimarem as nádegas, porque a engrenagem se firma na "ditadura do proletariado", cujo referido não tem palavra a dizer. Candidatos a vizir só com o apoio do vizir. As reclamações são recambiadas para o ecoponto vermelho.

No mais recente "Chega", nem sequer parece haver assalto ao poder, porque o "vizir" é só um, como quem diz que "chega para todos" e quem não estiver bem, mude-se.

É difícil ser grão-vizir.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

A VARINHA DE CONDÃO

 

A varinha de condão, para além de ser um objecto de feitiçaria é, no sentido físico, um adereço de magos e de maestros de orquestra. É igualmente uma força de expressão para indicar uma ideia ou uma realização que surge para realizar o que não parece realizável. 

No sentido físico percebe-se que a madeira é um bom condutor de energia, pelo que quase todas as varinhas são feitas deste material, principalmente de sabugueiro (salvo as que são made in China, de plástico reciclado), o que outorga dignidade aos seus possuidores. Também nunca percebi qual é a função e utilidade nas mãos dos magos e maestros, talvez porque sou um podão em metafísica e música, tanto mais que não imagino feiticeira sem varinha e chapéu de cone no arremedo dos seus artifícios. Pelo menos é assim que se apresenta a Feiticeira Branca, das Crónicas de Nárnia.

Os autarcas e os homens bons dos antigos concelhos (nos tempos em que havia "homens bons") tinham direito, não a uma varinha, mas a uma vara, que lhes era entregue pelo pelouro que desempenhavam. Daí lhes ficou o nome de vereadores e não de varinhadores. Hoje em dia, mesmo sem essa vara, nalguns casos o poder suplanta em muito o dos feitiços, enquanto os malabarismos do dito deixam à banda as habilidades dos mágicos.

Ora, com este relambório de entrada, já me esquecia do propósito deste post. E ele é sobre as vacinas que a Ciência coloca à disposição da humana gente para combater o Corona, dito Covid19 ou SARS Cov2. De facto, surgidas em tempo record, tendo em conta que o pódio era ocupado pela vacina da papeira, que demorou apenas 4 anos a ser produzida, a vacina ou as vacinas vêm com o rótulo de milagrosas e de escudo invisível.

Há uma série de farmacêuticas, graças à partilha de informação, com as próprias criações, sendo as mais significativas a Astra Zeneca/Oxford, a Moderna, a Prizer/Bion-Tech, a Coronavac e a Sputnik V, sendo que esta última, da Rússia, foi baptizada com o nome de um foguetão, mais próprio para ser posto a supositórios.

Sendo assim, julga-se que a varinha de condão foi eficaz nesta criação, não tanto na sua distribuição à escala mundial e nacional. Por uma razão muito simples: não se produz na quantidade e rapidez desejável, optou-se (e bem) por administrá-la por graus de prioridade, parece ter-se esquecido de produzir seringas e pessoas que as administrem em massa e em força. A juntar a isso, há países que levam a trumpística máxima do "america first" (só mudando o nome da nação) e outros que têm de andar de chapéu na mão ó-tio, ó-tio, para conseguir mais doses das farmacêuticas, que não têm mãos a medir.

Finalmente, depois da maior parte humana vacinada (não acredito na totalidade, há sempre abstencionistas, voluntários e involuntários), resta saber como irão fazer os do costume. Estou mesmo a ver que considerado o vírus para trás das costas, regressa-se à rebaldaria antiga, como se o vírus estivesse morto e enterrado a sete palmos.

A ver vamos...