quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

ESTAS TAXAS QUE SÓ "TACHAM"



A máquina registadora do Sr. Costa e do Sr. Centeno não pára de registar e fazer o tlim-tlim! Mesmo eu aqui, a cerca de três centenas e meia de quilómetros da capital Lisboa, ouço o barulho das entradas do esportulado naquela imensa e imensurável gaveta.
Desta feita, para cobrir não sei que buraco orçamental, daqueles bestuntos saiu mais um primor de fiscalidade. Trata-se de uma taxa(!!!) que vai de 5 euros a 15, consoante a determinação de cada freguesia, tendo por base três vezes o custo da vacina da raiva.  Quando isto sem a “troika”, imagine-se se aquela não tivesse ido à vida e aqui mantivesse a patorra! Mutatis mutandis na alternância governativa, valha a verdade dizer que a qualidade é a mesma, só aumenta a paranóia cobradora.
E para que é esta taxa, que não faz arreganhar a “taxa”? É para todos aqueles que tiverem na sua companhia ou tutela, cães e gatos, muitos deles abandonados justamente pelas juntas de freguesia.
Mas há mais: o registo ou licenciamento dos bichos é anual. Para isso, matreiros como são a puxarem dos galões, os dois senhores já tinham criado o SIAC (que não quer dizer Serviços de Informação de António Costa, mas sim Sistema de Informação de Animais de Companhia), agora entregue às juntas para elas saberem quem tem o quê, e cobrar consoante o desplante de cada autarquia.
Se me é permitido perguntar, gostaria de obter estas respostas:
1ª- Se uma taxa implica uma contrapartida ou serviço por parte de quem cobra, qual o serviço que subjaz à dita?
2ª- Ainda que se lembrem da caquinha dos cães no meio da rua – que grande parte das autarquias nem manda limpar – será que os possuidores de gatos (grande parte domésticos, sem sair ao fresco da rua) também estão sujeitos à espórtula, gorjeta ou esbulho, como lhe queiram chamar?
3ª- Se determinada tutora tiver consigo em casa, dois ou três gatos como animais de companhia, tem de pagar entre 15 e 45 euros para os poder manter taxados, para além de arcar com medicação, limpeza e alimentos? Ou os senhores da registadora pensam em legislar prevendo descontos para grupos?
4ª- O que entendem os senhores da registadora por animais de companhia?
5ª- Qual a ideia de protecção que a caixa registadora faz de animais abandonados?
6ª- Vão existir canis e gatis para os animais que, sem dono, não terão como pagar a taxa?
7ª – Finalmente, qual a posição do PAN, que até agora me parece um apêndice da ora governação?
Como não vou obter respostas – porque em questão de cobrança não há “pai” para estes – outro remédio não há para tanto parasitismo, fico naquilo que me parece ser esta forma de governar para um “monstro” que faz de erário público e que abocanha tudo o que mexa e tenha o sabor a dinheiro; sem ser taxado, o dito fica mais contente que o gato com trambolho.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

GENTE PARA TUDO


Eu nem me devia meter nas coisas do Parlamento. Voto para o seu “enorme” preenchimento e não devia passar daquele gesto. Mas daquela casa, dita da Democracia (que é, de facto), saem coisas do arco da velha. Talvez coisas da velha com o arco da governação, se atendermos ao que se diz e ao que se faz por lá.
Desta vez, uma deputada eleita pelos portugueses, de seu nome Joacine, do LIVRE, apresentou uma proposta para a devolução de património existente nos museus portugueses aos países de origem nas antigas colónias de Portugal, o que acho absurdo, tanto mais que estava para entregar a um museu um pequeno rosto de pau preto que comprei em Moçambique.
A minha primeira questão é esta: tenho um amigo que saiu de Luanda com uma malinha de mão, sem sequer trazer o álbum de fotografias do casamento, quiçá agora nalgum museu para se ver como é que eram os casamentos dos “colonos”. Terá ele hipótese de ser devolvido? E será que a deputada foi eleita pelos portugueses para defender o interesse dos portugueses? Ou há na Guiné, em Angola ou em Moçambique algum português naturalizado que tenha proposto a devolução de, pelo menos, o álbum do meu amigo?
Atrás deste disparate, saiu outro, também disparado: André Ventura, do CHEGA, a propor a devolução daquela deputada ao seu país de origem, pois nasceu na Guiné. Se tem, por acaso, nascido a bordo de um navio, teria de ser devolvida ao convés do mesmo? Ora, se ela é cidadã portuguesa, a que título vai recambiada para o país onde nasceu? Só pode tratar-se de um ridículo para castigar e vingar outro ridículo.
Não se passaram dois dias, soube-se agora que uns “hackers” do Barreiro terão entrado no sistema da CNE da Guiné, onde deixaram um vírus no sistema e levaram a que Sissoco Embaló ganhasse a segunda e derradeira volta das eleições presidenciais. Isto quer dizer que, a acreditar nas notícias até aparecer o Polígrafo, depois de contados os votos dos guineenses, as eleições fossem de facto decididas no Barreiro.
Não sei se isto acontece mesmo ou se eu ando a ler mal. Se acaso é verdade o que se passa, ainda que haja liberdade de expressão, acho que não será preciso estar plasmado na Constituição o decoro e o bom senso. De qualquer forma, já deve existir uma única solução: devolver à Guiné o computador que trabalhou no seu acto eleitoral.
Se me perguntarem qual a razão do título desta crónica, aponto a sua origem no rifoneiro popular: “Neste mundo tem gente para tudo e ainda sobra”.

domingo, 26 de janeiro de 2020

O RACISMO INCOLOR


Não escrevo este texto para aquelas cacholas que acham que os pretos estão a mais por aqui, porque não estão. Também não me dou ao descoco de escrever para os pretos que julgam que os brancos são todos racistas, porque eu não o sou e sei de muita gente que não o é, talvez até a maioria. Chamar pretos não é ofensa, assim como ouvir chamar-me branco também não ofende, pois brancos até são os frigoríficos e o papel higiénico.
Vim com esta cantilena para opinar sobre uma recente questão entre uma senhora de origem angolana e um condutor de autocarro de origem portuguesa. Como tem sido noticiado – e ainda não julgado, é bom que deixe o aviso – por a senhora se ter recusado a pagar o transporte ou sequer a exibir o passe de uma filha, o motorista chamou a autoridade. E aqui é que bateu o ponto…
A senhora reagiu, deu umas dentadas no polícia, este submeteu-a e levou-a para a esquadra. Apareceu a mulher com a cara de quem não foi afagada, pálpebras inchadas e lábios com sinais de agressão ou outra coisa qualquer, suponho que em vias de serem comprovadas as causas dessas mazelas notórias. Logo saíram os arautos do costume – foi racismo! Ou seja, se fosse uma senhora de cor branca na recusa do pagamento, nas mordeduras ao polícia e no suposto “tratamento” em sede de autoridade, como seria classificada a conjuntura ocasional? Possivelmente seria “integracionismo branco”.
Bem feitinhas as poesias, se fosse em tempos que já lá vão, a história passaria a ser narrada em cantigas do ceguinho, ao som de um realejo. Mas não estamos em altura de tratarmos as coisas com cantigas…
E há mais. Alguns elementos “não racistas”, que nesta altura só posso classificar de “incolores”, trataram de castigar o condutor, porventura como retaliação pela queixa que deu lugar ao caso. Se acaso os ditos "tratadores" forem de cor escura, como supostamente haverá quem conjecture por maioria de razões, será que se pode também classificar de “racismo”?
O que devia ter sido feito – ou omitido – para tudo acabar em bem em prol do convívio de “raças”? O motorista ter feito vista grossa e deixar seguir a filha sem o pagamento, abrindo uma isenção por se tratar de cor diferente? O polícia fazer vista ainda mais grossa e, em vez de ser mordido, pagar a passagem do bolso dele, como já acontece com parte dos seus acessórios de função? A senhora comportar-se com os deveres que se exigem a todos os cidadãos?
Enfim, duas profissões de alto risco, que eu não queria: para motorista, tenho pé pesado e se exigisse a um branco, exigiria a um preto, castanho, amarelo ou vermelho; para polícia, conforme a coisa está, não aceitava a farda, nem debaixo d’armas!
Resumindo na continuação do caso. No sentido de defesa de uma das partes, a SOS Racismo defendeu que o polícia envolvido nas agressões deve ser “imediatamente suspenso” de funções, não cuidando em apurar se foi ele o causador da barbaridade para com uma detida mas, do outro lado, não me consta que a SOS Polícias – neste caso o MAI – tenha vindo a defender o agente por ter sido desautorizado e mordido nas mãos e braços, nem a deputada do LIVRE viesse a clamar, como bem o faz com sonoridade, contra a actuação das autoridades, sem na sua suposta postura democrática, vir a condenar as agressões ao motorista.
Enfim, como sempre ouvi, venha a verdade ao de cima, embora o que está à vista não precise de candeia.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

OS BOMBOS E AS MOCAS DO S. BRÁS


Está bem próxima a data do S. Brás dos Montes. É uma romaria anual, no primeiro domingo a seguir ao dia de S. Brás, que se faz desde sempre, talvez mesmo para lá da pré-nacionalidade e do próprio culto católico. Impressiona o aparato e o barulho. Impressiona mesmo!
Não é uma idolatria absurda do cacete; primeiro, porque não há ídolos sacros ou profanos (a não ser o S. Brás, pelos primeiros), depois porque o cacete serve apenas de adorno (embora já fizesse antanho algumas quebraduras de costelas e rachadelas de cabeças). Há, isso sim, o testemunho do que foi um ancestral esguardo pelo sagrado e o supersticioso respeito pela terra. Nestes dois mundos antropológicos não existem perversão e selvajaria. Há reunião de gentes, fraternidade, diversão e religiosidade, pois então!...
Os romeiros alinham por maltas, principalmente as dos bombos, que representam uma localidade ou um grupo. E os que não rufam na pele dos bombos encaixam numa romaria que se move como as lagartas dos pinhais, exibindo ao alto as mocas papudas e toscas, de formas naturais e patuscas, retiradas de qualquer ramo de árvore e mantidas no acervo familiar. Só baixam os paus das mocas quando dão três voltas à capela.
Os bombos e pandeiretas são de fabrico local. Nada é importado, a não ser algum penetra que traga de fora algum artifício, mas não é a mesma coisa. O som tem de ser da serra, dos montes, num plano primitivo. Ali se alinham os de Miguel Choco, de Venda do Cepo, de Rio de Mel, de Vila Novinha, de Carapito, de Rio de Moinhos e todos os que habitam por terras ao redor da serra do Pisco, herdeiros e estirpe daqueles combativos que enfrentaram os governos para que não lhes tirassem os baldios, como narra Aquilino Ribeiro em Quando os Lobos Uivam. Ao todo gente de Trancoso, Aguiar da Beira e Sernancelhe.
Cada malta tem a sua ordem de entrada, a compasso de festa, com o chefe à cabeça e a exibir no alto a sua moca. A seguir vêm os bombos, as flautas e as concertinas, alguns adufes, reque-reques, consoante a malta, identificada pelo seu estandarte. E o S. Brás, protector contra as doenças e problemas de garganta, ficará satisfeito por ouvir de tantas gargantas os vivas aos casados, aos solteiros e à união das maltas - só não ouvirá aos políticos e aos governantes, porque não há razão para isso e não fazem lá falta alguma.
Foto de Agostinho Sanches, do livro "A Festa dos Montes" de Julieta Silva

Só há interrupção durante a missa, a que se seguem as merendas nos talhões destinados a cada malta. Os convivas e os penetras e os moinantes são aceites, partilhando entre todos a comida e a bebida, no chão espalhadas sobre as toalhas. Depois do almoço recomeça a zanguizarra, onde muito naturalmente os bombos são os reis da chinfrineira.
E falta referir a prática de se dar volta à capela com os rebanhos. Hirta e firme se encontra a grande parte dos intervenientes, só claudicando lá para o tarde, depois de bebido o tintol a passar da marca. Fechado o pano, lá seguirá um ou outro aos tropeções com a mesma sanha dos que cantavam:
"Se o vento não sopra
E o mar não zurra,
Então quem é que me empurra?"
O São Brás dos Montes é uma reunião de clãs. É uma reunião onde se compete em termos musicais numa opulenta sinfonia e em aparato de costumes. Foi sinal de ajuste de contas, em tempos passados, isso foi. Todavia, arraial onde não houvesse balbúrdia e bordoada seria então considerado romaria?

(22-1-2020 - Acrescentei Rio de Mel no texto, pois o meu amigo Paulo Coelho fez-me essa observação)

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O SENHOR OITENTA MILHÕES



No início dos anos oitenta, o programa televisivo Sabadabadu, apresentava uma dupla constituída pelos actores Camilo de Oliveira (o Agostinho) e por Ivone Silva (a Agostinha), que depois de bem bebidos, trauteavam uma canção de crítica social e política, que replico agora com uma alteração – substituí o vocábulo “país” pelo vocábulo “mundo”.

Ai Agostinho, Ai Agostinha
Que rico vinho, Vai uma pinguinha?
Este mundo perdeu o tino, A armar ao fino, a armar ao fino
Este mundo é um colosso, Está tudo grosso, está tudo grosso
Isto é que vai uma crise, isto é que vai uma crise!

Mais uma crise – e das perigosas – surgiu agora nos primeiros dias do ano de 2020. O presidente americano enviou um drone com uma carga bem explosiva para reduzir a torresmos um dos chefes de guerra iranianos. E não falhou.
Lá surge mais uma crise, gritos de vingança, promessas de retaliação e as habituais manifestações esganiçadas de punhos erguidos, onde se queimam as bandeiras americanas.
Não vou falar do incendiar das bandeiras, sinal de que prospera o negócio dos fabricantes das ditas, que não têm mãos a medir, e calculo que até virão da China. Vou falar da propensão vingativa que leva a tentativas ridículas de retaliação. Houve uma figura do regime iraniano que teve a ideia de pedir 1 dólar (logo, um dólar?!) aos 80 milhões de habitantes do país, ideia essa que um endinheirado qualquer aproveitou para oferecer, em igual quantia de 80 milhões de dólares, pela cabeça de Trump.
Não me vou pronunciar sobre o montante, que nem me parece exagerado em face dos valores de contratação de jogadores no futebol, mas do estado a que isto chegou, para esta gente, de um e outro lado, andar a brincar com o fogo.
Vai daí, encontrei uma foto anónima na net, que me levaria a propor, como legenda, o apetrechamento bélico de um eventual candidato aos milhões do prémio, quiçá livres de impostos.
Este “mundo” é um colosso,
Está tudo grosso, está tudo grosso