sábado, 22 de janeiro de 2022

UMA QUEDA A MEIO DA CORRIDA

 

Já devem ter reparado os leitores que eu não me pronuncio sobre a campanha eleitoral em curso, nem aproveito este período para criticar Governo ou Oposição, mantendo uma neutralidade ainda mais rigorosa que a de Portugal no período da II Guerra Mundial.

Por isso, nem hoje rompo o compromisso. No entanto, não posso deixar escapar uma palavra dita de forma acintosa por uma atleta de palmarés olímpico durante a campanha do atual primeiro-ministro, que o diz apoiar com todo o direito que lhe assiste como cidadã livre.

Tudo estaria bem, a campanha decorreria com mais ou menos atropelos de linguagem (porque de promessas, no geral, não faltam) não fosse ela acoimar de “Nazizinho” ao dirigente do atual partido da Oposição. Ou seja, para além de o tratar como “nazi”, ainda empregou o diminutivo para o reduzir a um tamanho inferior, porque não vejo no “inho” um tratamento de carinho. Não deixa de ser um insulto. Sim, um verdadeiro insulto, mais apropriado a um hirsuto encostado a um balcão depois de beber uma boa soma de cálices da “rija”.

Com aquele dito, que só muito poucos gostaram de ouvir (nem o próprio candidato apoiado parece ter apreciado a coisa, para além da ginjinha que bebeu quando lhe foi posta a questão), a atleta Rosa Mota perdeu esta maratona do decoro e entrou no linguajar populacho. Por muito que tenha a apontar ao dito candidato, que foi presidente da Câmara Municipal do Porto, não é em público que se lança uma calúnia deste género.  Pode-se inferir que a Rosa abriu o baile dos ditos e achincalhes malévolos, que não dignificam quem os diz e as hostes de quem pretendem apoiar. A palavra boa unge e a má punge. Que lhe preste!

Quem me conhece sabe que não gosto que chamem nomes soezes, assanhados ou outras xenofobias a António Costa, conforme já vim a este blog explicar. Detesto que a política penetre na honra pessoal dos candidatos, principalmente quando tal não corresponde à sua boa dignidade.

No lugar de prima-dona do atletismo nacional, Rosa Mota demonstrou que foi excecional maratonista, mas péssima no que trata à competição da linguagem. Resumindo: tropeçou a meio da corrida.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

O SENHOR DAS ILHAS

 

Este senhor Boris, primeiro-ministro britânico, é um caso de estudo. Não digo que seja um caso de estudo de estética capilar, porque aquele penteado é o protótipo de não-penteado, que não viu pente. Refiro-me, isso sim, à sua demagogia e modo de estar na política como primeiro-ministro de um reino onde, pelo que me parece, vence quem é reinadio.

Este senhor faz-me lembrar um outro, do lado de lá do Atlântico, cujo agora já não manda na nação americana, com nome de um sobrinho do Tio Patinhas, na BD reconhecido como Donald, mas a que acrescenta o apelido Trump.

Ambos parecem a mesma coisa, se é que em algum momento de governo foram coisa diferente. Pegam-se ao lugar, fazem as figuras que fazem, mas a supercola, com que se agarram à cadeira, é das fortes. São do género de quem não quer saber da fama, sendo bom o proveito.

O senhor Boris somou recentemente no seu currículo um escândalo, entrando ou promovendo festas particulares entre alguns membros do seu governo, impedidas a todos os súbditos do reino em tempo de pandemia. Há inclusive uma vaga de revolta no seu próprio partido, o Conservador, com um dos seus membros, David Davis, a pedir-lhe que saia “por amor de Deus”.

Ninguém lhes ensinou que o poder é ténue como um fio de seda. Só engrossa como calabre nas ditaduras, cuja única via de circulação está liberta do tráfego de opositores; e destas temos (maus) exemplos a oriente, onde quem manda e quem ajuda a mandar andam de barriga cheia e gordos como lagartas.

O britânico não quer saber, ainda que lhe britem os ouvidos com ameaças. É o sais!... Nem "pelo amor de Deus", como lhe pediu o David, porque o homem tem mais amor a si próprio. Apressado esteve em retirar o seu reino da União Europeia, com aquele rendilhado de razões ditas em forma palavrosa, mas no que toca ao seu retiro, o tanas!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A BICHA SOLITÁRIA

 

Lone Star, sem mais indicações sobre o negócio com o Novo Banco, até parece o nome de um daqueles “sallons”, com bebedouro de cavalos à porta, que aparecem nos filmes do faroeste. Traduzido o nome para português corrente, é o equivalente a Estrela Solitária, se bem que melhor caberia, pelos fundos que o banco absorve, chamar-se “Bicha Solitária”.

Como certamente os leitores sabem, a odisseia deste Novo Banco, surgido de um duvidoso Espírito Santo – que de santo não tem nada – daria para um filme. Não digo uma película de cavalos em correria, duelos e tiros para o ar, mas daqueles filmes de terror, à mistura com ficção científica, tais as trapalhadas que vão dando pano para as parangonas da imprensa.

Agora, para mais uma cena da rodagem, mete o Banco Central Europeu, porque o Banco de Portugal, nesta altura gerido pelo “Ronaldo das Finanças”, não se acha competente para avaliar a idoneidade do presidente da coisa e lava as mãos. Foi do seu tempo a ideia de intervir no negócio com a tal estrela solitária, com o fito de “salvar os activos bons do anteriormente falido Banco Espírito Santo”. A coisa foi mais difícil do que livrar as concubinas do serralho de sultão.

Não sei se estão a salvar os bons ou os maus activos, só sei que os passivos são imensos e aquilo parece qualquer coisa com um buraco e não com uma estrela: um buraco negro. E, como fundo, requer mais fundos, designadamente aqueles que lhe vêm do Fundo de Resolução e no negócio de venda de 75% com outro fundo americano: o Lone Star Founds. 

Os portugueses, hirtos e quietos, pagam para ver esta película de má qualidade.

Criado em 2014, este Novo Banco já se tornou velho, tal como o mafarrico, e não foi pelas melhores razões.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O QUE INCOMODA O CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA?

 

Passados que são duzentos anos da libertação e separação do Poder Judicial do Poder Executivo, tenho hoje, neste início de 2022, de colocar a interrogação que abre em título.

O que se passa, o que decide, como e porquê, o Conselho Superior da Magistratura para que 5 dos 8 juízes nomeados para o “Ticão” (Tribunal Central de Instrução Criminal) avancem para uma impugnação, no Supremo Tribunal de Justiça, da decisão deste Conselho? Não é o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça que é, por inerência, Presidente do Conselho Superior da Magistratura? E qual a razão de este mesmo CSM ter alterado a decisão já acordada com os oito juízes?

Sou um mero cidadão, mas tenho para mim, segundo a minha vontade e liberdade, que ainda vigora o meu direito constitucional à opinião e à dúvida: se não emito opinião, é porque não estou dentro do assunto; se mantenho a dúvida, é porque em tal perplexidade, qual o cidadão que a não tem? Será que virão com a escusa de que o Conselho Superior da Magistratura não é um órgão jurisdicional, mas um órgão administrativo, o que equivale. no caso, a uma mera secretaria de colocações?

Dizem pela comunicação social estar em causa a retirada de um processo a um juiz, cuja tem a ver com um es-pinho que o mesmo juiz de instrução acusa e que incomoda algum Fulano ou Beltrano. Fazer justiça, pugnar por ela, considero que não é fácil, não é o mesmo que dar um beberete aos cavalos. Mas também considero que desde 1974, nunca como nestes últimos 5 anos, a honorabilidade da Justiça foi tantas vezes posta em causa. Entre os seus pares, vemos e lemos, a renhir decisões e contradições, conflitos, quebras de sigilo e demais circunstâncias que só interessam aos prevaricadores e pleiteados escusos, escuros e penumbrosos.

Acresce que a justificação para esta medida para o TCIC vem com qualquer coisa colado, tipo “post it”, de contornos indecisos, com a justificação de “salvaguardarem o princípio da aleatoriedade e garantirem a igualação de carga de trabalho entre os juízes”. Com jargão das palavras e das encenações, repetidas e aprofundadas como rodeira de carro de bois, faz lembrar aquele velho ditado popular: “ Com papas e bolos se enganam os tolos”.

Se o CSM decide por razões que não têm a ver com a suprema e livre Justiça, faz mal, e custa-me a acreditar que assim seja. No entanto, perante as investidas dos governos à praça do Poder Judicial, nada me custa a crer que, mais dia menos dia, abra nela uma brecha e a tome de assalto. Perdido está o País e a Liberdade se isso acontecer.