quinta-feira, 30 de abril de 2020

PARA NÃO FALAR DO COVID...FALO DE BD (2ª parte)


Continuação da entrevista encetada no post anterior, ora concluída neste.
A imagem respeita a uma vinheta de "Rainha Africana", projecto não concluído e adaptado do romance de C. S. Forester e do filme "African Queen", de John Huston, com Humphrey Bogart e Katherine Hepburn. Junto o projecto da mesma vinheta, mas a traço negro.


Em publicações periódicas, tens maior prestação em “ O Crime” e “Mundo de Aventuras”. Donde guardas melhor satisfação ?

Melhor satisfação foi, sem dúvida, a do “Mundo de Aventuras”, até porque este era então gerido por uma figura incontornável e irrepetível da BD nacional naquele sector, que é o Jorge Magalhães. Ele teve a ideia de abrir as páginas de uma revista conceituada aos mais novos, aos diletantes, aos principiantes, um risco que poucos estariam dispostos a correr. O certo é que correu bem e saíram da iniciativa bons desenhistas e argumentistas. Foi um alfobre.
Quanto a “O Crime” foi um desafio; e os desafios causam-me gosto. A somar a isto, foi compensador em termos metálicos do porta-moedas.

Há um estranho aspecto na tua carreira : às vezes, prometedoras apostas, ficam “abandonadas” ! São os casos, por exemplo, de “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias” e “A Rainha Africana”. Não vais mesmo terminar estes trabalhos ?
Tenho em mim um espírito troglodítico, ancestral. Se o terreno não é propício à minha caçada, não é por isso que me dedico à agricultura: vou caçar para outro lado. À margem da metáfora, afirmo que isto nem é por achar que determinado trabalho não tem saída, mas por fastio. O abandono é, assim, temporário. Quando a “saudade” ou a “fome do assunto” apertar, volto lá, mesmo que tenha de refazer tudo, de cabo a rabo.
“A Volta ao Mundo” ficou na viagem por um quarto do seu todo e aguarda o “click” para vir para cima da bancada; “A Rainha Africana” é uma obra que necessita de prateleiras por todo o país e não estou tentado a correr o risco de a receber de volta com os percalços ditos atrás ou a bater às aldrabas das portas com um chapéu emprestado.
Julguei que os blogs – pelo menos o meu – constituíssem uma espécie de barómetro para aquilatar das apetências sobre este ou aquele trabalho. Às vezes, pelo “silêncio”, dá-me a sensação que mais me valera pôr um surdo a ouvir uma partitura de Bach.

Nas nossas novas gerações têm surgido, embora com mais joio do que trigo, alguns valores muito bons. O que pensas sobre isto ?

Tanto há trigo num campo de joio, como há joio num campo de trigo, o que parece ir dar ao mesmo. Considero que as novas gerações, numa maioria relativa, são mais trigo do que joio. O que falta são bons tratadores, segadores e consumidores, uma grande maioria mais inclinada para misturas transgénicas de má qualidade.
Há valores muito bons, muito bons mesmo. Cito o exemplo daquele jovem de Penalva do Castelo (na periferia como eu), o Rafael Sales. Assim ele não esmoreça com os entraves de que falei antes. Iremos ouvir falar muito dele e, mais ainda, ver obra sua publicada.
De um largo naipe, retiro mais um nome: o de Carlos Pais, um jovem professor de EVT/Educação Visual (actualmente no agrupamento do Sátão), que fez o favor de me mostrar um trabalho seu não editado, e que o merece ser. Uma obra magnífica em termos de traço próprio, que salta aos olhos.
Cito só estes dois exemplos, para não me alongar…

Que sentiste ao receberes o “Troféu Anim’arte-2016”, pelo GICAV, na categoria Banda Desenhada ?

Senti o deslumbramento de receber um troféu, principalmente por ser atribuído por um Grupo que tem lutado pela dignificação e divulgação das Artes, de todas elas. Foi uma honra para mim. E senti que, na imensidade de nomes que poderiam ter estado nessa cerimónia, estarão outros que mereciam essa distinção

Qual o teu grande e próximo projecto ?

Suponho que foi Napoleão - se não foi ele, sou eu que agora o afirmo - que disse mais ou menos isto: “o meio mais seguro de manter uma promessa é não a prometer nunca”.
Tenho, nesta altura, a ideia de dar à estampa a BD sobre a “Vida e as Profecias do Bandarra”, que tenho em execução numa mistura, a cores, entre desenho e fotografia.
“Bandarra” vende muito bem, pelo que tenho de pensar como editor. No entanto, como já acabei a primeira parte do Magriço (260 páginas a preto), não sei se anteciparei esta à anterior.
Como diz o povo, é melhor ver de perto para contar de certo.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

PARA NÃO FALAR DO COVID... FALO DE BD


Recorro, desta feita e com a devida vénia, à entrevista que dei há tempos para o meu amigo e co-autor do blog BDBD, Luiz Beira (o outro é o Carlos Rico), falando de uma das artes a que me dedico com mais ou menos empenho. Exponho hoje a primeira parte dessa entrevista, seguindo-se, em breve, a segunda e última.
Como ilustração deixo uma vinheta de A BATALHA DE TRANCOSO, ainda inédita.


Como surgiu a tua paixão pela Banda Desenhada ?
Não é paixão, é vício. Quase todas as paixões são falazes, assim como há vícios que se respeitam mais que as virtudes. Descobri muito cedo, mesmo antes de andar na vertical, que as canetas não serviam só para meter na boca e os livros, mesmo já impressos, nunca estavam acabados. Com três ou quatro anos, garatujava nas margens não impressas dos livros do meu pai.

Essa paixão era só pela leitura ou também a vontade de a criar ?
Talvez seja uma idolatria absurda, mas adoro ler nos dois sentidos: os textos escritos e os desenhos. Talvez por isso eu leia as páginas de BD com muita lentidão. Só no cinema as imagens correm depressa. Na resposta à pergunta eu diria que é por ambas – ler e criar.
Se insistes em chamar paixão, confirmo que a leitura e a vontade de criar são como Romeu e Julieta – vivem inseparáveis.

Tens uma invejável e imensa obra, a ponto de alguns álbuns serem “edições de autor”. É complicado um desenhista editar-se no nosso País ?
Complicado não é, basta haver vontade e bolsa, pelo que pesa mais a última na vontade de decidir. A auto-edição é uma liberdade impagável, porventura inelutável, mas com os seus riscos. Embora tenha a maioria dos trabalhos editados por outrem – editoras e municípios – sou muito independente e tímido q. b. para evitar bater à aldraba das portas de quem o possa fazer. Sou grosso de feitio e prefiro mourejar a andar de chapéu na mão – até porque não uso chapéu.
No entanto, no meu caso, parece-me que não é isto que me empana a fama.

Onde vês algumas soluções para aliviar este “entupimento”, não só para as tuas obras como também para as de diversos colegas teus ?
 Se eu vislumbrasse soluções, teria aplicado primeiro a receita antes de a divulgar; todavia, presumo que a solução começa nos primeiros anos da escola e nos sequentes onde, efectivamente, há horários para desenho e pouco entusiasmo sobre o mesmo. Há quem culpe as editoras, as distribuidoras e os livreiros da “amputação” das prateleiras da BD, substituindo-as por livros impressos com patacoadas e mexericos, mas julgo que essa culpa é assumida a jusante e nunca a montante. Encontras algum programa, a sério, sobre BD na televisão? Vês lá caras papudas, muitos “com que ursos”, lavagem de roupa suja, choradinhos e crimes de trazer os cabelos em pé, pontapés na bola e na gramática, horas de tédio que não desejo à terceira idade “obrigada” a gramar aquela sopa nas cadeiras dos lares. Se a televisão é imagem, a BD também o é. Uma devia respeitar a outra.
Vejamos: quem é o livreiro que vai empatar uma carga de euros em álbuns e livros que lhe são devolvidos tarde, a más horas e, por vezes, com resquícios de terem sido atropelados por um tractor agrícola? E quem é o distribuidor que calcorreia de Ceca a Meca com o leva e traz sem levantar um milímetro a ponta do gráfico das vendas? Quem é o livreiro que arrisca ocupar prateleiras com obras que não se enquadram nas patacoadas e mexericos (decerto não seriam mais rentáveis a venda de chouriços e presuntos nas arábias), obras cujos autores mais se assemelham a magarefes por se apresentarem com enredos de faca e alguidar.
Procurem solução nas escolas (digo, nas leis que as regem) e nos canais de televisão que não ligam patavina a um programa adequado à disseminação da BD e de outras artes afins (ao menos, um “reality show” onde os “nus” andassem a fingir ler um álbum de banda desenhada, maxime para taparem as “vergonhas”, mas nem isso).

Um álbum teu, “As Bodas de D. Diniz e Isabel de Aragão em Trancoso”, tem também edições em castelhano e em inglês. Como foi esta aposta ?
Foi graças à visão da Câmara Municipal e da alargada visão cultural de quem a gere na oportunidade. Se um município pretende divulgar o concelho e os seus valores, não deve pensar só nos autóctones. Quem aposta no turismo tem de perceber isso… ou não percebe nada disso.
Os ingleses e os espanhóis são os que mais visitam o burgo. Se a eles acrescessem os japoneses, seria de arregaçar as mangas, virar da direita para a esquerda e colocar a linguagem indígena nipónica nos balões. A isto se chama realmente aposta. E ganha-se.

(Continua...)

terça-feira, 21 de abril de 2020

NADA SERÁ COMO DANTES…

… A não ser o quartel-general, que nunca foi em Abrantes.
Este Covid 19, que o mundo fora da China conheceu este ano (mais exacto seria Covid 20), irá transformar, em próximo futuro, a vida das pessoas, das empresas e da economia. Isso já dizem os profetas destas coisas, alguns dos quais me parecem mais patetas destas coisas.
Uma coisa é certa. O Covid, que é um salta-pocinhas e despachado dos diabos, tratou de encafuar as pessoas em casa, o que deu uma situação pré-histórica, género Covil 19, fechados na toca e desconfiados. Isto trouxe novos conceitos de convívio e não-convívio, com recurso, muitas vezes exagerado, aos meios modernos de comunicação com imagem.
Vizinhos que se cruzavam nas cidades e nem se conheciam, passaram a cantar e tocar o faduncho às janelas e varandas. Mas também se viu a renitência no uso das máscaras pelas mesmas pessoas que não se coíbem de as usar no carnaval.
Também se promovem novos conceitos de entretenimento, designadamente na televisão, onde o mais que se aproximou do sequestro desta crise foi o “big-brother” e sequelas, para mirones. Serão repensadas novas grelhas e propostos novos padrões, deixando para trás as ideias desses programas de chacha, popularuchos, a tresandar a pieguices ou a  puxar ao choradinho fácil.
Trabalhar a partir de casa vai ter, para quem o possa fazer, uma maior aplicação. Não se aplica, por exemplo, à construção civil, que trabalham na casa dos outros, e só nestas é que rende a sua profissão. Com as videochamadas, WhatsApp, Skype e por aí além, o que conta é o rendimento diário do colaborador e atingir os objectivos.
Para isso, é necessário investir-se nesta tecnologia digital, para não se assistir, via TV, ao engasgar das comunicações e aos cortes repentinos, deixando o interlocutor a falar para o boneco.
Os transportes terão de ser veículos para levar e trazer pessoas e não veículos ambulantes de pragas e vírus, o que requer grande imaginação e desenvolvimento. Provavelmente, mais gente vai ter de aprender a andar em duas rodas e dar ao pedal ou carregar as baterias da coisa para evitar mexer as pernas.
A Saúde deve refinar as suas investigações e preparar-se para tais surtos. Para além disso, deve existir mais comunicação inter-países, sem jogos ocultos ou estatísticas secretas, como vimos agora acontecer. E fará repensar o sistema nacional de saúde dos países que, ao contrário do nosso, ainda não o têm. Aqui, tiro o chapéu ao Dr. António Arnaut.
Ainda neste propósito, os Governos têm de olhar para o campo da saúde e da assistência social, fazendo-o desde logo a favor de quem nele trabalha. Viu-se o empenho dos profissionais de saúde, de todos os ramos e actividades em hospitais e centros de saúde; assistiu-se à colaboração de bombeiros, exército e forças policiais, gente que actuou na primeira linha; ainda os profissionais que, para manterem os meios diários de sobrevivência, alimentação, água, electricidade e demais, não lhes foi permitido ficarem em casa. Novamente, a estes e outros que não menciono, tiro novamente o chapéu e curvo-me.
Herbert Hoover, foi o 31º presidente dos Estados Unidos, deixou uma frase muito curiosa, que aqui deixo: “quando adoecemos, queremos um médico extraordinário. Se temos uma construção a fazer, queremos um engenheiro fora de série. Somente quando estamos na política é que nos contentamos com homens comuns”.
Outra coisa que mudará (ou não) será essa coisa da política: a campanha eleitoral. Que farão os coitados dos candidatos para substituir a beijocada do costume? O beijo entrou em falência. Tenho tanta pena deles!!

quarta-feira, 15 de abril de 2020

TANTA ABNEGAÇÃO, TANTO EMPENHO


Nesta pandemia é manifesta a grande e imensurável contribuição dos combatentes da primeira linha, que são indubitavelmente todos os Profissionais de Saúde. Quando afirmo todos, é porque incluo desde a gestão hospitalar até à base da limpeza, enfatizando naturalmente todo o ramo clínico representado por Médicos e Enfermeiros de ambos os sexos.
A estes combatentes, por vezes sem armas suficientes, sem defesas, sem tempo, envolvidos em imensas horas de trabalho sem descanso, o meu sincero e terno reconhecimento.
Sei que eles combatem um inimigo praticamente desconhecido, insidioso, invisível, traiçoeiro, que ataca em todas as frentes com as mais indignas armas da biologia, mas não esmorecem. Caem de cansaço, mas persistem. Consternados, mas não resignados. Descarregam emoções por uma perda, mas carregam energia por muitas vidas recuperadas. Sustentam a dor do conforto do lar que lhes é vedado visitar, nem sequer podem confortar com um abraço de um profissional ao seu lado, mas contentam-se com breves palavras de incitamento e conforto entre eles.
Não se lhes vê o rosto, necessariamente protegido (por vezes insuficientemente protegido), para serem reconhecidos pelos colegas de luta trazem o nome ou apelido escrito nos fatos de protecção. Vemo-los como autómatos, mas não o são, porque neles corre o sangue nas veias e discorre o pensamento e a dor. Julgamo-los viajantes do espaço, modificados e escondidos por aquela necessária forma de traje protector. Sabemos, isso sim, que dão o seu melhor, no Mundo em geral e em Portugal em particular.
Quando Churchill, referindo-se aos aviadores britânicos da II Guerra Mundial, afirmou que “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”, podemos nós dizer também, relativamente a esta frente de combate destes profissionais “que todos nós sempre lhe devemos, agora ainda muito mais”.
Aos profissionais de Saúde, às linhas de apoio, protecção civil, bombeiros e demais abnegados resistentes, ao SNS no seu todo, o MEU MUITO OBRIGADO.

Se esta é a mais ínfima forma de lhes manifestar o meu reconhecimento, junto a ela um desenho que lhes dedico de alma e coração a esses milhares de heróis, e uma sentida homenagem aos que tombaram ao serviço da Humanidade.

terça-feira, 14 de abril de 2020

AVANTE PARA TRÁS

A palavra avante tem o significado de “adiante”, o que quer dizer “para a frente”. Nada a apontar à palavra, porque esta tem por objectivo incentivar a seguir em frente para o progresso e para o futuro.
Pois bem, foi precisamente esta palavra que um partido político português escolheu para titular um seu órgão periódico de informação, e eu nada tenho contra, nem quanto à palavra nem contra o dito partido. Já o mesmo não digo das interpretações que o mesmo órgão faz das circunstâncias actuais, designadamente quanto à pandemia, como é o caso do artigo publicado recentemente naquele jornal. Tem por título “Combate da China contra o Coronavírus” e reproduz, na primeira página, o que vai na alma do interior, desta guisa: “no combate à epidemia do COVID 19, a China tomou medidas rigorosas para salvar o máximo de vidas possível, partilhou os seus conhecimentos com a comunidade científica e ajuda hoje outros países”.
Tenho uma interpretação pessoal deste parágrafo de primeira página e evito comentar, uma vez que respeito os leitores deste blog, designadamente o seu livre arbítrio e inteligência. No entanto, também sou livre para confirmar que a palavra “avante” significa seguir em frente, se estivermos encaminhados no trilho do futuro e do progresso, o que não evita seguirmos em frente se estivermos orientados no sentido oposto. Ou seja, significa recuar “em frente”.
Sobre a “democracia” chinesa, norte coreana, venezuelana e outras mais, deixo o caso aos sabedores da matéria, que me parecem ser os jornais desta tendência, sejam eles de extrema esquerda ou de extrema direita.
Enfim, hoje falei no vírus sem falar dele. Os vocábulos, por si só, não têm mal algum, a não ser a sua leitura distorcida, como se se tratasse da curiosa cacofonia de “o bacalhau quer alho”.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

MANUAL DE INSTRUÇÕES


Este vírus apareceu e não veio para brincar. Nem admite brincadeiras. Nem desleixos. Nem atrasos.
Foi paulatinamente percorrendo as regiões do globo, umas mais cedo do que outras, permitindo até que se jogasse na antecipação e na defesa antes dele inevitavelmente arranjar quem o levasse na bagagem do organismo.
Nesta antecipação, nos cuidados a ter, se confere nas estatísticas (não nas que estão em segredo, que parece serem muitas) quem tomou as decisões acertadas em tempo oportuno. Os governos de cada país tiveram uma ocasião soberana para mostrarem o que valem e pouparem vidas, salvaguardando também a produtividade económica.
Portugal não se portou mal. É certo que não foi dos primeiros acossados pela invasão, mas também não foi dos últimos. Agiu como devia ser, apesar de o fazer um pouco tardiamente e das partes gagas da DGS, que mostrou pouca ciência quando “andou às aranhas” na matéria. A decisão do Primeiro-Ministro e do Presidente da República, espaldados pela Oposição responsável, designadamente no Parlamento, evitaram possivelmente males maiores. Mas houve muita inconsistência, titubeantes medidas a conta-gotas, um ramalhete de más interpretações (aliás, mundial) sobre a qualidade e mau carácter da “peçonha”. É um vírus diferente dos anteriores? É. Logo, devia ser tratado de maneira diferente, porque "o que foi e já não é, é o mesmo que nunca fosse".
O caso norte-americano é um dos mais recentes e acabados exemplos do laxismo e incompetência governativa. Surgiram em Abril, ainda em tempo, as recomendações para o distanciamento social, quando já anteriormente a administração Trump foi aconselhada a tomar medidas de promoção do distanciamento social a meio de Fevereiro, mas o Donald atávico não seguiu os conselhos dos especialistas, tendo como resultado, até ao momento desta crónica, mais de meio milhão de infectados pelo novo coronavírus, que já fez mais de 22 mil mortes no país.
Nova Iorque é das mais batidas por este ciclone vírico, como será batida pelo rombo financeiro de Wall Street (Avenida do Muro). Esta avenida, nos primeiros tempos dos pioneiros, foi um local onde foi erguido um muro, à entrada de Manhattan, para evitar que os porcos assaltassem as quintas agrícolas e destruíssem o cultivado. Dai o nome da artéria. Com o vírus e a economia não há resultado com erguer muros, antes derrubá-los, a coisa pia mais fino.
Palpites sobre como, quando, porquê; mezinhas resultantes de caldeirões de feiticeiras; promessas e prazos sobre vacinas, curas, unguentos estapafúrdios e formas de “matar” a coisa, são mais que muitas, cada uma mais mirabolante que a anterior. Até o vírus ser aniquilado, aposentado ou jubilado, irá decorrer algum tempo, espero que não muito. Falta um manual de instruções, que também já está a ser escrito por tudo quando se publica na internet e em papel; no entanto, trata-se, para já, de um manual que necessita actualizações ao minuto e que não devia ser redigido por quem, como eu, não percebe nada do “artigo”.

A propósito, quero deixar aqui uma referência. Esta tem a ver com o meu penúltimo post, onde “malhei” no primeiro-ministro inglês, Boris Johnson. Não retiro uma vírgula do que disse e, quanto às “bordoadoas”, só se perderam as que caíram no chão.
Não posso deixar de lhe prestar hoje a homenagem merecida quando ele, após sair da crise em que se viu, teve a honestidade e o grande gesto de agradecer pessoalmente, clara e inequivocamente, a prestação dos serviços prestados pelos cuidadores de saúde que o atenderam. Teve ainda um enorme gesto de gratidão aos dois enfermeiros – um português e uma neozelandesa – que o assistiram 24 horas por dia na fase mais crítica, e a quem reconhece dever a vida. Grande gesto, sim senhor, mister Boris. Por vezes, a aprendizagem surge em períodos críticos da vida, sendo o reconhecimento disso, designadamente público, uma qualidade humana. Parabéns.

domingo, 12 de abril de 2020

O TEMIDO SEGREDO DAS ESTATÍSTICAS


Tal como acontece com o vírus, todos tememos os perigos que não vemos. Desde miúdos, temendo que na escuridão esteja escondido um monstro, levava-nos a não entrar num quarto escuro. Ora, para que isso não acontecesse, bastaria a garantia de um adulto de confiança para nos esclarecer que ali não havia mais nada senão móveis; e assim entrávamos sem necessidade de luz.
Ontem, pelas palavras lidas num papel por Marta Temido, ministra da Saúde, fiquei a saber que no quarto escuro é possível existir um monstro no segredo das estatísticas. Fiquei a saber que o segredo das estatísticas deve ser guardado a sete chaves para não contaminar. E a senhora Temido, que teme que nós saibamos (ou para nos pôr mais temor), recorre a este novo monstro e aplica a receita já empregue na China, na Rússia e em outras “democracias” que leram nos livros de Estaline.
Como o segredo das estatísticas é altamente contagioso, devem todas as entidades que integram o Ministério da Saúde, em especial as autoridades locais e regionais de saúde, enviar a informação atempada e consistente para o nível nacional. Suponho que o farão em baú fechado, de acesso com código secreto, transportado em carrinha celular, guardada à vista. E quem, mesmo assim, violar o segredo das estatísticas, arrisca-se a ser condenado e detido, talvez para preencher os lugares recentemente vagos nas cadeias.
Seria já o segredo das estatísticas que levou, no início desta pandemia, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, a garantir em Janeiro, que achava "um bocadinho excessivo" a possibilidade de contágio do coronavírus entre humanos, dizendo até não existir "grande probabilidade" de o vírus chegar a Portugal? Ele vê-se!... Este é um exemplo, e não fosse porque a OMS reservasse o tal segredo das estatísticas. Anteriormente a esta “garantia” da DGS portuguesa, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já tinha alertado para a possibilidade de contágio entre humanos. Não sei é se a OMS reservou mesmo o tal segredo das estatísticas. 
Fico a saber que este segredo das estatísticas é mais bem guardado que o segredo de justiça, que anda pelos adros anunciado a toque de clarim. E fico a saber que, retirando este anúncio ao povo, se propaga pelos etiquetados ignorantes à guisa de metáfora rifoneira - "quem nasce burro, morre besta".
Já nem sei, com tantos medos, qual se deve temer mais. Talvez todos, pelo que vale o sacrifício de ficar em casa, de roupão enfiado,sem ouvir tantos disparates.

sábado, 11 de abril de 2020

TRATADOS, TRATADISTAS E TRAPALHÕES


A pandemia de Covid-19 pode proporcionar três valentes tratados, reproduzidos em cartapácios com mais de três quilos cada um, com textos sobre Medicina, Obediência e Comportamento Civil e um outro com Curiosidades e Discrepâncias em Pandemias.
Aquele contributo que hoje vou trazer aqui, apesar de caber em qualquer daqueles volumes, deixo ao Leitor o critério de escolher em qual incluiria este caso.
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson chegou a afirmar e aconselhar numa primeira instância, que via com bons olhos a infecção social do coronavírus como forma de se ganhar imunidade geral. A este pseudo “médico e cientista”, aconselhado sabe-se lá por quem (se não leu nas linhas da mão), pareceu-lhe que seria fácil realizar o Covexit como lhe foi o Brexit. Nem sequer lhe meteu medo a reprodução microscópica do “bicho”, com aquelas pontas em espinho, tal como acontece com a sua cabeleira loura ao vento.
Talvez (e repito, talvez) ele tenha ganho a imunidade depois de ter passado pelos cuidados intensivos do hospital mais bem equipado de Londres, após ter sido infectado por aquele que desejava para ganhar essa imunidade. A experiência deve ter-lhe ensinado que ganhar a tal imunidade – não acredito que se deixasse infectar para isso – podia significar perdê-la com a própria vida. Foi depois de ter recebido uma carta aberta assinada por quase três centenas de cientistas é que decidiu optar por outra via.
O Governo britânico foi aquele onde se verificou, até agora, mais infectados e funciona a um terço do gás. O azar de Boris foi seguir os conselhos do conselheiro Dominic Cummings, que também veio a testar positivo, o qual, segundo algumas fontes, estaria por trás da extravagante tese da infecção colectiva. Com este, mais outro “desleixado” a fazer coro com esta tese, Mark Sedwill, secretário do gabinete, que não sei se ainda anda à procura de ser contaminado ou se já está. Já o líder britânico não seguiu os conselhos de Abdul Mabud Chowdhury, o médico britânico que em Março o alertou para a falta de material de protecção entre os profissionais de saúde, e que acabou por morrer devido ao novo coronavírus.
Isto não teria significado, se com esta treta não atrasasse ainda mais as medidas para o combate à pandemia e ao surto vírico no reino de Sua Majestade, soberana que tem, desde há muito, seguido o aviso – “fique em casa”.
Outros dois responsáveis (para empregar este termo com interrogação), os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, também são dos intocáveis. Com ar de desenfado desafiam e derramam "bocas" sobre uma matéria que nem os próprios cientistas dominam. Impulsivos que são, também me parecem, neste aspecto, inacessíveis ao raciocínio - "valha-lhes S. Silvestre e a camisa que ele veste"!
Pelo menos, estes três, não seguiram qualquer ramo relacionado com a Medicina e Biologia, designadamente com virologia e infecciologia, pois pela amostra como governantes, estaríamos todos tramados!

quarta-feira, 8 de abril de 2020

DITOS OCOS, OUVIDOS MOUCOS


Imagine-se que um casal de assaltantes invade uma casa, alimenta-se da sua despensa, utiliza os móveis e procria qualquer coisa como uma descendência superior em dez vezes à do lendário Padre Costa de Trancoso. E olhem que, nesta lenda, tal sacerdote fez gerar 299 filhos em 53 mulheres!
Agora imaginem que, tornando-se rapidamente adultos, esses filhos assaltam todas as casas que encontrem e em que possam entrar e também procriar.
É este o modo de vida do invisível Corona, cujo destino parece dar razão à bíblica caracterização da multiplicação geracional.
Sendo assim, este vírus procura hospedeiros vivos, saudáveis ou doentes tanto monta. Morrendo o hospedeiro, também não sobrevive, pelo que a sua função não é assassinar, mas viver por conta, o que já fazem alguns exemplares humanos.
Apanhando-se a entrar pelas portas e janelas, que são boca, nariz e olhos, o vírus agarra-se ao sistema respiratório como hera a um tronco. Dá-lhe o Demo artes para se manter oculto o tempo suficiente para se espalhar por outros hospedeiros.
Há até quem acredite que o Corona não é um organismo vivo, o que me custa a acreditar. Se ele se multiplica – como o fazem os animais e plantas – é, como dizem, uma molécula de proteínas? E evoluem da forma como estes vírus o fazem? Nunca vi um pedregulho criar mais pedregulhos, a não ser que se lhe dê com uma marreta! Os teóricos cientistas, consideram mesmo que é uma partícula inactiva, que não se reproduz e que apenas consegue a sua replicação injectando o seu DNA para formar partículas virais numa célula do hospedeiro vivo.
Pelo que constato, pouco se sabe desta enigmática coisa para além do nome, o que se assemelha a baptizar um afilhado sem se conhecer ou sem saber se existe como ser vivo.
Até lá, anda-se à cata da sua origem, como a polícia londrina andou em busca da identidade de Jack, o Estripador. Aqui ainda há mais confusão: ora se diz que proveio de um morcego, também de um pangolim ou de ambos em conjunto; e ainda há a teoria da conspiração, julgo eu completamente disparatada e resultante de desinformação, afirmando gente do reino do “brexit” que a coisa foi originada pela técnica de comunicações 5 G, o que levou alguns ingleses a queimarem as torres de frequência da nova geração recém-instaladas no país. Juntando dois com três, lá se chega aos cinco, e o disparate poderá ir mais longe, assegurando eventualmente algum bestunto boateiro que no mercado de animais vivos de Wuhan existiria um suposto laboratório daquela tecnologia, talvez inspirada na comunicação dos morcegos.
Parece-me que a confusão gera estes ditos. Quem saberá se eu, com estes arrazoados, não contribuo inadvertidamente para eles. Como costuma dizer a sabedoria popular, “ditos ocos, ouvidos moucos”.


terça-feira, 7 de abril de 2020

PANDEMIA E PANDEMÓNIO


Esta pandemia causada pelo COVID 19 (que o Diabo leve para esturricar nas suas caldeiras) tem originado situações e informações dúbias, desenquadradas, perplexas e antagónicas, o que demonstra que o conhecimento sobre a matéria ainda anda às apalpadelas.
Pelo sim, pelo não, segui primeiramente a minha intuição de ficar em casa, confirmada pela sugestão que veio de cima para ficar em casa e reforçada pela ordem de não sair de casa. Tal como um anúncio turístico, que já não se ouve, “vou para fora cá dentro”.
Perante tanta confusão, veio-me à memória um truque que os meus pais praticavam quando eu era ainda menos que cinco réis de gente: se sais de casa, está lá fora um papão que te come. E eu, com medo de servir de digestão ao dito, espreitava pela janela para ver como era a aventesma. Nem com telescópio electrónico a veria, o medo não tem rosto nem corpo, é ele que “guarda a vinha, não o cão”. Em casa, segundo os progenitores, estava livre. Porém, quando me recusava a comer a papa, lá vinha o papão: se não comes, vem aí o papão e… Alto lá! Aqui há coisa! Como é que é?! Fico em casa porque o papão não entra, mas se não como, já pode entrar pela porta dentro?
Este raciocínio de criancinha nem sequer se pode comparar ao dos adultos, nestas circunstâncias. Se usamos máscaras, podemos ficar contaminados; se não as usamos, contaminados podemos ficar. Se estamos vacinados contra outras gripes, mais predispostos estamos a este vírus; se não estamos vacinados, não temos quaisquer defesas.
Há ainda uma série de panaceias, cada qual mais estapafúrdia e incongruente, vogando no abstracto, que me fazem lembrar aquela cantiga do medicamento “melhoral”, de que se dizia não fazer bem nem mal. Para matar o vírus, então, só faltou alguém aconselhá-lo a fazê-lo a tiro, porque desde sopa de pimenta, a fazer a barba todos os dias, chávenas de chá preto ou chá de alho, ingerir bebidas quentes e beber aguardente da forte, ingerir água de 15 em 15 minutos, apanhar banhos de sol à beira-mar (sem se poder ir à praia) e até cortar as unhas, o trivial do trivial. Ainda falta dizer, para cúmulo do ridículo – e espero que não se atrevam –  que o antivírus do computador fará efeito se se passar a língua pelo ecrã do monitor.
Através da internet, os feiticeiros destes “remédios” levam a racionalidade à quarentena em quarto fechado e escuro.
Quanto à receita do alho, a própria OMS (Organização Mundial de Saúde) saiu a afirmar que "o alho é um alimento que tem algumas propriedades antimicrobianas, mas nada prova, no quadro da epidemia actual, que o consumo de alho proteja as pessoas contra o coronavírus". Quanto a mim, que não percebo nada de medicina, até pode prevenir o contágio. O mau hálito que ele provoca a quem o ingere, obrigatoriamente manterá à distância presumíveis ou futuros contagiados. Vale por uma máscara.
Como estamos em tempo de “fake news”, nem sei se hei-de levar esta a sério. Propala-se na internet que um pastor evangélico de seu nome David Kingleo Elijah, do Monte Glorioso da Igreja da Possibilidade (logo vi…), tinha a cura para o vírus, colocando até um vídeo no Youtube, onde declarou solenemente a prosápia de que ia para a China "destruir" o coronavírus. "Vou destruir profeticamente o vírus, vou à China e irei destrui-lo". E partiu para a batalha! Viajou para a China onde foi hospitalizado depois de ter sido infectado com o vírus. Se o destruiu ou não – não fosse ele da Igreja da Possibilidade – só o seu corpo o confirmará, não infecte ele mais ninguém.
De quarentena, cada vez pasmo mais. Por isso, já nem sei o que vos diga, nem o que vos hei-de dizer.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

CORONA DE IMPERADOR



A coroa não é de rei; é de imperador do planeta. Não é um imperador que governa, mas é aquele que não deixa governar. Com a forma de ouriço com aquelas compridas ventosas de polvo, mete medo a reis, presidentes, ministros, banqueiros e a toda a gente em geral. É um sacana!
Há uma evidência, pela positiva, nesta crise: a linha da frente, a trincheira de combate. Para muitos ficarem obrigatoriamente em casa, há outros que nem sequer podem ir a ela. É para esses que vai o meu inteiro reconhecimento. Nunca tantos deveram tanto a tão poucos.
Em reclusão voluntária desde o dia 12 de Março (seja uma semana antes de o País decretar o estado de emergência, mas dez dias depois dos primeiros casos confirmados no mesmo) até agora julgo que não fui visitado pelo átila da saúde e, consequentemente, não passei o testemunho dele a outrem. Preso nos afazeres que já tinha assumido em compromissos, de quarentena deixei este blog. Retorno agora, procurando deixar a minha opinião. E aviso que se trata de mera opinião, não técnica, sem previsões, pois confusão sobre a matéria já foi difundida até o cesto deitar por fora. Tira a máscara, põe a máscara, é a mais recente, pois em matéria de desinformação, há outro vírus à solta, sem qualquer hipótese de vacina.
Sobre o que correu bem e o que correu mal, ainda no meu modesto entender, deixarei para mais tarde, quando a coisa passar.
Por agora, deixo estas duas imagens da coisa: uma, que julgo ser captada em microscópio electrónico, tal a dimensão do coroado; a outra, que não sei se o foi da mesma forma, pois mais me parece um artefacto de lã tecido por uma velhinha à lareira.