segunda-feira, 25 de maio de 2020

O SÃO TOMÁS DE INGLATERRA


Há no reino Unido um senhor chamado Dominic Cummings que lutou pelo confinamento do Reino Unido, separando-o da União Europeia, e tem o desplante de fazer coro com o seu chefe de fila, Boris Johnson, impondo o isolamento dos súbditos britânicos nesta espécie de brexit-covid, acabou por ter uma atitude pitoresca e punível. Para mais, ainda desaconselha o contacto de netos com os avós, como aliás se passa por todo o mundo, por prevenção, mas arejou a prática e fez o contrário do que recomendou.
O que fez então o Dominic para me fazer perder tempo com ele?
Ora, precisamente o contrário do que exigiu aos ditos súbditos de Sua Majestade. Em pleno confinamento, este assessor de Boris, afectado e testado positivo para o Covid 19  (e a mulher também), viajou com a esposa 400 km até casa dos pais para entregarem os filhos à guarda dos avós. Nem sequer os 7 dias de isolamento, sem saídas sequer para comprar bens essenciais, exigidos pelo seu Governo, ele cumpriu. E vêm estes anglo-saxónicos exigir 14 dias de quarentena a todos os que entrem nas ilhas britânicas?
Sendo assim, o homenzinho fez como S. Tomás, naquele dito que o povo conhece – faz o que ele diz e não o que ele faz. Isto quer dizer que o Reino Unido tem, de facto, o seu St. Thomas, que se pronuncia como “tomas”, tal a expressão que acompanha o manguito do Zé Povinho.

domingo, 24 de maio de 2020

NO TEMPO EM QUE O VÍRUS NÃO ERA ESTE


Ao procurar um livro na minha estante, encontrei esta edição de Cesário Verde, na qual participei como ilustrador da capa e contra-capa.
Por solicitação do editor (MEL), fiz este trabalho em aguarela, em 2001, para um volume de 232 páginas, cartonado e impresso em papel creme de boa gramagem. O conjunto destas duas ilustrações foi também impresso nas guardas da capa e contra-capa, numa montagem com um dos manuscritos do poeta.
Numa altura em que, por motivos de saúde não se permitem ajuntamentos e se propõe guardar as distâncias entre as pessoas (e bem), o desenho que fiz para a contra-capa pretende corresponder ao convívio que a poesia de finais do séc. XIX pretendia dar, sem confinamento, sem máscaras.
A questão que coloco - e talvez Bandarra soubesse vaticinar - será para saber até quando estamos sob a ameaça deste Covid, o qual parece não apreciar o "convívio" humano. Talvez, pensando melhor, se calhar até aprecia, para passar de uns para outros e contagiar. Se o destino do micróbio neste drama não é um fadário, o nosso, é.
Uma vez que falei no livro, imponho as imagens dessas ilustrações, designadamente a que saiu na contra-capa com uma estrofe da poesia "De Tarde" do "Livro de Cesário Verde", sobre um pic-nic.








sexta-feira, 15 de maio de 2020

“DESCONFIAMENTO”


“Desconfiamento” é uma palavra que utilizei à revelia dos dicionários da língua. Não existe. Nem na wikipédia, que tem de tudo e mais alguma coisa; tão pouco na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a mais credível e também a mais desactualizada de todas. Por isso a coloquei entre aspas. Mas soa, nesta altura de Covid 19, à semelhança fonética de desconfinamento. O Windows Word, em português, também traceja o erro a vermelho, ora essa! Mas também o faz com desconfinamento, estão empatados os dois termos.
Ao tentar saber o que diz o professor Google, obtive como resposta uma interrogação: “será que quis dizer discernimento”?
Desconfiamento é acção de desconfiado, tanto como desconfinamento o é de desconfinado; ou seja, o contrário do sentido de confiado e confinado, respectivamente.
Neste caso, sugiro que o “desconfiamento” entre nos dicionários.
Vem isto a despropósito do propósito que me leva a utilizar o termo, para já impróprio. E que é a situação a que levou o desconfinamento na política ao mais alto nível. Desconfiam uns dos outros, embora mostrem que têm confiança. Deve ser o efeito do uso da máscara. 
Por entre as máscaras de protecção vírica (mais um sublinhado a vermelho, o que não acontece com vínica), tanto o Primeiro-Ministro como o Presidente da República juntaram críticas ao até agora poderoso Ministro das Finanças. E logo a ele, o que domina os números com a habilidade com que o Ronaldo domina a bola.
Depois de uns amuos e ameaças veladas, com umas reuniões, muito comuns em semelhante indústria, uns toques de telemóvel e uns sorrisos (já sem máscaras, porque estas não permitem nem um arreganho), a coisa compôs-se, para já. Crispação, há, semelhante à do lobo que assalta o redil. O que quer dizer que o desconfinamento traz consigo o desconfiamento.
Pensando bem, aquela interrogação do professor Google faz sentido: perante tanto desconfiamento, não será que queremos mais discernimento?
E, reparem, ainda a procissão acabou de sair as portas do templo e só ainda prossegue no adro.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

BOA ATITUDE DO GOVERNO


Já devem saber aqueles que me conhecem e os que frequentam, assídua ou casualmente, este blog, que não me privo de criticar este Governo português, liderado pelo Dr. António Costa. Nesta questão de comentar as atitudes negativas, pois o faço com frontalidade, tenho sempre em mente a liberdade e a responsabilidade de o fazer com argumentos que, na minha opinião, são válidos. Nesta equidistância da vida política partidária e dentro do mesmo espírito livre, chegou a vez de enfatizar o papel do Governo português e do seu líder.
Em todo o processo do COVID 19, dadas as circunstâncias da ciência médica perante um vírus desconhecido, o Governo de António Costa agiu com senso, atempadamente e mostrou grande poder de decisão, na maioria dos casos com grande sentido de Estado e da Saúde Pública.
Devo enfatizar este pormenor. É certo que o Presidente da República foi um grande esteio e que o partido maioritário da Oposição colaborou, não causando entraves nas grandes decisões, mas António Costa trabalhou bem, de tal forma que os resultados são conhecidos a nível nacional e internacional.
Sinto satisfação por as coisas terem corrido bem, dadas as contingências, igualmente graças ao sentido de responsabilidade democrática do povo português.
Como crítico do Dr. António Costa e do seu governo em casos pontuais, que tenho aqui registados, é com satisfação que também agradeço os resultados do seu labor ao enfrentar esta crise pandémica: obrigado, Dr. António Costa.