Fernando Pessoa é Fernando Pessoa e os seus
heterónimos; é ele mesmo, com os seus palavrões, as suas divagações
metafóricas, a sua frontalidade diabólica, a poesia entre patriótica e
revolucionária, acintosa e carinhosa, alegre e chorada, vitoriosa e abatida,
nesta amálgama que só um Pessoa (e talvez um Fernando daquele género, conseguem
"fabricar").
Na sua poesia tem tudo explicadinho, talvez com equívocos
e erros, traumas e ilusões, com certezas e sentimentos, mas está lá o pratinho
feito para quem goste de comer a papinha toda.
Pessoa é talento e – se já li isto algures –
manifesta-se em não se manifestar. Na penúria de talento de outros poetas
publicados, que escrevem loas para leitura de cafres e outros perfis
semelhantes, como os dos sabidões da matéria que rejubilam em metafísica, Fernando
Pessoa não deixa indiferente quem pensa.
Gosto de Fernando Pessoa, de toda (mas toda) a sua
poesia e prosa; talvez não goste tanto da sua casa, das suas arcas, da sua
escrivaninha ou do penico que lhe servia para despejar a urina matinal. E mais
gosto de Pessoa quando um dia, por altura de uma filmagem para o programa
"Vamos Jogar no Totobola", o realizador Manuel Guimarães me disse à
porta da minha residência que eu seria um actor preferencial para interpretar a
figura do poeta numa obra que ele viesse a realizar, naturalmente com aquele
tipo de bigode sacramental. Ups! Lá está a minha vaidade a querer fazer-me
passar pela figura de Pessoa, quando a única particularidade que me une ao
génio é apenas o nome Fernando!
Sem que tal não seja passar o lustro ao mais prolífico autor de Trancoso deste virar de século, diria que têm muito mais em comum que a simples homonímia.
ResponderEliminarJonathan Litell, escritor americano muito na moda, afirmava numa entrevista a uma news magazine “Escreve-se sobre o que se conhece”. Quem, como o Santos Costa, produz tanta literatura de qualidade, dos mais diversos géneros, só pode muito conhecer (já pensou abalançar-se a uma epopeia?)
E dizia um velho amigo aí de Trancoso que nós devemos ser vaidosos daquilo que possuímos, do que somos e do que angariamos. E a modéstia em exagero também é defeito.
Um abraço (apesar de não comungarmos da mesma admiração pelo Fernando citado).
L. Rente
Caríssimo Luís
EliminarAgradeço-lhe o elevado conceito que tem da minha obra, talvez sem que esta mereça no todo tais elogios.
Aceito-os porque o conheço como escritor, jornalista, monografista e professor, e por ser uma pessoa frontal e sincera em tudo o que diz e o que faz.
Um grande abraço
Santos Costa