Assim ou assado, este título poderia dar a entender
que se trata da mesma coisa, isto é, do tempo actual em que o mundo gira à
volta do Sol. E dá, porque o tempo dá muitas voltas e volta tudo ao mesmo, tal como se encontrássemos o passado num bricabraque. Para mais, todos estes três casos relembram-nos que ainda
há um espírito troglodita na sociedade, independentemente da área geográfica
onde o mesmo Sol alumia à vez.
Comecemos pelas cobras, que penetram silenciosas
sem se fazerem anunciar e sem se dar conta delas, conforme a sua sina comanda. Pois foi uma destas que
serviu para a polícia indonésia fazer falar um interrogado sem outras
aplicações atinentes, como a privação do sono, cavalo-marinho no lombo ou pancadas nas plantas dos pés, ainda a pinga de água na cachimónia.
Correu mundo a filmagem deste interrogatório, onde sinceramente dá para
arrepiar quem vê: quem se torcia era o inquirido, enquanto a serpe, sem ligar
pevide ao caso, se mantinha na disposição de querer sair da situação. Para bem
dizer, o investigado também. E até talvez o desvairado inspector, deprimido por
não conseguir qualquer confissão com tão inusitado método.
Ao mesmo tempo, festejava-se numa prisão portuguesa
– e na ala de alta segurança – um aniversário com todos os extravagantes ingredientes
da folia de quem se encontra em descampado entre amigos ou na própria casa,
pois o presídio é a residência deles. O lema seria: dure pouco a festa e bem
pareça. E a coisa foi igualmente filmada, pois não há buraco de fechadura onde
não esteja um telemóvel a bisbilhotar e a gravar.
Finalmente, para a terceira perplexidade, ouvi um
membro do Governo dizer, sem outros considerandos, que ia cortar relações com a
Ordem dos enfermeiros, pois parece-me haver relações assanhadas, como se o
namoro (que parece nem sequer se iniciou) ser assim rompido com o atirar das
alianças para uma sarjeta.
Com cenas deste teor, nesta mesnada de caricaturas,
até apetece entrar numa tasca de robe e chinelos para comer umas sardinhas
assadas regadas com champanhe. Ou então fazer o pino em frente da máquina para
o documento de identidade no Registo Civil.
Talvez tenha de lembrar que neste mundo há gente
para tudo e ainda sobra.
A propósito de aniversários, há dias li na revista "Visão"um artigo intitulado "Os Meus Amigos" da autoria do conhecido musico Miguel Araújo (parceiro do mais conhecido António Zambujo). Dizia falando dos amigos de quem gosta: "Gosto daqueles que demoram no banho.(...) Dos que não se lembram dos anos das pessoas, porque isso não interessa assim tanto, não existe qualquer espécie de mérito em ter nascido num dia específico, todos nós nascemos num dia qualquer, se não fosse nesse era noutro, em última análise fazer anos não é digno de parabenização, não é mais um ano de vida, é menos um. (Visão, nº1352,31/01/2019,p. 112)
ResponderEliminarCaro Amigo
EliminarSó hoje, dia de S. Valentim, li este comentário seu. Nem a propósito, porque o dia de S. Valentim é o dia do meu aniversário.
De facto, os aniversários são comemorações pessoais, comuns a muitas pessoas que, em determinado dia do ano, vieram ao mundo. Há muitas delas que comemoram os aniversários em dias que não nasceram, só porque os pais, para evitarem multas no registo, resolveram apontar uma data mais próxima do período legal desse mesmo registo. E há ainda aquelas que, por outros motivos (por exemplo, os dos limites de Dezembro e do dia 29 de Fevereiro), resolveram os progenitores criar nova data de nascimento, tanto por razões escolares futuras como até por incorporação militar, quando era esse o caso.
Concordo com a apreciação do Miguel Araújo; tanto, que aproveito para contrariar em parte o seu aforismo de que "não é mais um ano de vida, é menos um", que eu diria "é mais um ano de vida e menos um de vida".
Pegando numa música do Miguel, que é "Ainda estamos aqui", celebrar o aniversário é dizer precisamente isso - ainda estou aqui.