terça-feira, 25 de setembro de 2018

PADRE COSTA - A LONGA PATERNIDADE

Estava eu para editar o Livro "O Padre Costa de Trancoso" - que, por sinal, e por essa ocasião  era para ter o título de "A Longa Paternidade - quando me contactou uma produtora de televisão para fazer um programa sobre a figura. E o programa foi feito e esteve muito bom.
Como o convite veio por via institucional, através do município e deste pela empresa que dirigi, respondi pelos canais próprios  o que dizia respeito aos pormenores relativos à gravação, designadamente o plano logístico. A par disso foi-me pedida a descrição da figura, que eu teci em alinhado escrito de duas quatro páginas (nunca fui muito conciso nem com siso), de que transcrevo aqui uma pequena parte.


Descobri o padre fisicamente desta guisa:
O padre Francisco da Costa, a esta altura da idade, era um homem alto e forte, um tudo-nada com barriga de bojo saliente, braços e pernas um pouco longos demais, mãos grandes e peludas com dedos longos, olhos como tições e dentes enormes e amarelos. As maçãs do rosto apresentava-as o padre rubicundas, mormente após as suculentas refeições de perdiz, lebre e faisão, de que era ele apreciador, regadas com o melhor tinto do dízimo e das suas vinhas da Cogula e Vila Garcia. A sua fisionomia era agradável e apessoada, mas a sua voz não valia os restantes atributos, pois saía nasalada e aguda como o chiar de um carro de bois por ladeira abaixo.
Encontrei outros casos semelhantes ao do Padre Costa, todos estes verídicos, tendo-os colocado em diálogo estabelecido entre o padre e um escrivão da sisa judenga, Mendo Pires (personagem fictícia por mim criada), como se pode ler neste trecho:
     "Será mais ou menos como dizeis, que Deus o sabe. Por outro lado, apontam-me o dedo como pai de muita criação, mas alguns deles não param de impetrar de el-rei cartas de legitimação para a filharada que vão fazendo nas mulheres da sua paróquia. 
Invariavelmente, Francisco da Costa encaminhava a sua defesa para comparações que lhes pareciam mais convenientes.
    "Aponte algum..."
    "Aponto, como exemplo, o padre Álvaro Saraiva, da freguesia de São João, que teve uma filha de Leonor Nunes, mulher solteira; falo-lhe em Diogo Gomes, clérigo de missa e abade da freguesia de S. Pedro, que tem uma filha de Maria Eanes, mulher solteira, a quem baptizou como Maria Gomes."
    "Esse sei eu, padre. Também sei que o padre Diogo Gomes pretende de el-rei a legitimação da filha."
    "Sei de casos presentes e passados, como o do abade de S. Paio de Caria, que teve oito filhos feitos em duas mães, ambas criadas da sua casa ou ainda do abade de Santas, João Dores, que teve da mesma mulher uma ninhada de cinco rebentos."
    "Se vamos para o passado, meu amigo, teremos de ir buscar o exemplo de D. Álvaro, prior da Ordem do Hospital e filho do arcebispo de Braga, D. Gonçalo, que teve trinta e dois filhos, sendo que um deles foi D. Nuno Álvares Pereira."
     "Lembro-me também ter lido que um padre de S. Salvador do Souto de Rebordães, de nome Lourenço Rodrigues, fez cinco filhos nos ventres de duas mães diferentes."

Como se pode ler, na resposta à produção, fui tecendo algumas características do Padre Costa, aludindo - como o fiz na obra e pela boca do sacerdote - a outros casos semelhantes ao seu.

Reproduzo, para não deixar ir o post em branco, o convite que então enviei quando lancei o livro.
Sobre esta forma de "convidar", hoje considero ser um abuso, por parte do autor ou autor-editor, convidar os amigos e o restante público para irem à apresentação da obra, que eles se constrangem em não comprar, vendendo-a em vez de a oferecer. Então quem convida não deve pagar do seu bolso? Imaginam alguém convidar-vos para ir almoçar a sua casa e, no final, pedir-vos o pagamento da refeição?
Por isso, deixei de enviar convites. Chamo apenas apresentação. Leva-lhe as mesmas voltas, apesar de se considerar uma questão semântica. Com o tempo e o volume de obras publicadas, nem notícia de apresentação envio.


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