domingo, 28 de outubro de 2018

O RESINA



O RESINA
O Sr. Alfredo Resina constitui-se como uma das mais remotas memórias da minha infância. As particularidades das suas características faziam dele uma figura importante do microcosmo social da vila do Trancoso do início dos anos 60. Dir-se-ia, em linguagem atual, um verdadeiro “cromo”.
Desde logo, pela sua compleição atlética tipo Jô Soares, conhecido humorista brasileiro, granjeara a fama de “bom garfo”
Era um sportinguista ferrenho com especial ligação à modalidade ciclismo, O Sporting tinha nessa altura, uma equipa de ciclismo muito competitiva da qual chegou a fazer parte o famoso Joaquim Agostinho, para muitos o melhor ciclista português de todos os tempos. A Volta a Portugal em Bicicleta era para ele uma verdadeira festa e sempre acompanhava, por dentro, as etapas que decorriam por esta zona do país. Se acontecia a Volta passar por Trancoso então era o verdadeiro climax, desdobrando-se em iniciativas de apoio à equipa (corredores e restante staff) do seu Sporting.
A sua atividade económica desenvolvia-se numa loja/armazém situado na esquina em frente ao Clube Trancosense (na altura designado “Clube dos Ricos” em contraponto com o “Clube dos Caçadores” que funcionava numa das ruas estreitas à direita na Corredoura, quem entra pelas Portas d’El Rei)
Era a loja dos feijões. Como se vê pela designação era uma loja especializada no comércio de feijões, nas suas diversas variedades e afins – grão de bico, tremoço, etc.
Na fase final da sua vida de comerciante, porque a atividade já não seria lucrativa, passou o negócio para uns concorrentes da área sedeados na aldeia de Minhocal (Celorico da Beira), gente mais jovem com outra destreza e outros meios de exploração do comércio.
Por esta altura, o Sr. Alfredo, dispunha-se a ir ajudar os novos proprietários na escolha e seleção dos feijões e na preparação do dia de mercado, em Trancoso. Como não tinha meio de transporte, à quinta feira após o almoço, ia de boleia com o meu pai que se dirigia a uma quinta que possuía no limite dos dois concelhos, Trancoso e Celorico, numa zona conhecida como “Pereiras” e daí se deslocava para o Minhocal, que dista a cerca de dois/três quilómetros. Ao fim de tarde, lá o traziam de novo (ou ele vinha a pé) para apanhar o transporte para Trancoso. Os dois, o meu pai e ele, ali conviviam um pouco á volta de um copo de vinho e um naco de pão com queijo, ou presunto, ou chouriça, ou …
Numa dessas ocasiões, decorreu uma cena que ficou para a história. Certamente porque as merendas começavam a ser demasiado frequentes e sempre com a mesma proveniência, à sua chegada, nesse dia o meu pai ofereceu-lhe:
- Tio Alfredo, vai um copo?
Resposta áspera do Sr. Alfredo:
- Você é pior que os do Minhocal. É só copo, só copo, bucha nada…
Ainda hoje, num círculo restrito de amigos de Carnicães, quando se vive situação semelhante, sempre se repete a frase que ficou: “Tu és pior que os do Minhocal…”. Que logo outro completa: “É só copo, só copo. Bucha nada…” E a risada é geral.

(texto gentilmente cedido e remetido pelo meu Amigo Dr. Luís Vieira Rente)

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