Portugal está no bom caminho no que toca a bater recordes e
a propor entradas no livro do Guiness. Desta feita, duma só penada, teve duas
entradas directas, deixando qualquer concorrência mundial à distância e de boca
escancarada de estupor.
E tudo isto, graças a uma só freguesia, com cerca de 1.000
habitantes.
Que fizeram os filhos da terra para esta contribuição
recordista? Propositadamente não fizeram coisa alguma, a não ser circular
diariamente numa estrada com duas valentes rectas, muito propícia ao que a
governação do Estado mais se obstina: arrecadar, arrecadar. Bem que arrecadou, e
de que maneira!
Em Outubro de 2018, a tutela instalou lá dois “pequenos”
negócios: uma tesouraria de arrecadação fiscal; um centro de fotografias à
distância, tudo num espaço reduzido e camuflado, algures à beira da estrada sem
a bandeirinha vermelha.
Mas é melhor ler a notícia…
“Em dois dias, o
carteiro que presta serviço em Moçarria, Santarém, entregou cerca de 200 cartas
registadas com multas da PSP aos habitantes da freguesia, que estão incrédulos
com a situação. A maioria das contra-ordenações refere-se a infracções por
excesso de velocidade em dois locais em Perofilho, na freguesia vizinha da
Várzea, onde o limite de velocidade é de 50 quilómetros/hora. Foram registadas,
em outubro de 2018, mas só agora estão a ser distribuídas. A aldeia tem mil
habitantes”.
Vejam bem: 200 multas de trânsito para 1.000 habitantes,
significa que um quinto deles foi “carimbado” com uma foto. Um quinto! Se
imaginarmos que nem todos têm carro, e que a proporção será de um veículo para
cinco habitantes, significará que todos foram ao retratista. Primeiro recorde
no Guiness.
Sabendo nós que estão a fechar balcões de bancos e lojas CTT
em sedes do concelho, com uma população pelo menos dez vezes superior à da
aldeia “transgressora”, a “honra” de Perofilho acaba de receber, não uma loja
do cidadão mas uma tesouraria completa, com receita a condizer: 200 multas em
Outubro de 2018; multas essas só dos habitantes do sítio (um deles recebeu,
para o mesmo dia, três), que aceitaram as cartinhas registadas entregues pelo
carteiro! Ou seja, de fora ainda os que não são da terra, que a estrada é para
toda a gente! Segundo recorde no Guiness.
Se pensarmos que um quinto dos habitantes de Moçarria é
assim tão acelera, quero supor que isto levar-nos ia a uma terceira entrada no Guiness,
uma vez que ali existe alfobre para muitas “scuderias” da Fórmula 1.
Como vejo e leio, ainda me queixo eu da curva da “Bossa do
Camelo”, curva que não devia estar em Viseu mas lá longe, numa caravana do
Sahara! Que nome daremos a estas rectas? Bossa não pode ser, porque aquilo é
recta bem recta e o limite desce para 50 km/h (se não fosse assim, não havia
ratoeira), pelo que o melhor que me ocorre é “serpente estendida com a língua
de fora”.
Dizem os moradores que não houve ali qualquer acidente. O
que estranham eles? O limite não é por causa dos acidentes, deve-se à receita
que a bocarra da tesouraria pretende contabilizar. Passem a tirar o sapato do
pé direito e a conduzir de meias… A tesouraria fecha por falta de clientela.
Há uns anos, sempre víamos o agente que nos multava por
excesso de velocidade, recebíamos dele uma “palada” como se ele estivesse a
saudar um oficial superior, ouvíamos o seu ranger de botas; hoje, com a
cangalhada metida em armários e armada sobre um tripé, camuflada algures como
turra em capim, nem sequer isso, um mísero clic da máquina de tirar retratos e
algures, olhando para um ecrã, um fulano qualquer a dizer qualquer coisa como “olha
o passarão” em vez de “olha o passarinho”.
O que é certo e sabido é que os habitantes não acham graça
nenhuma ao negócio: nem ri com a partida o Pero Filho, onde o caso se dá, nem a
Moça Ria, que tem de puxar pelos cordões à bolsa.
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