quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CADELAS APRESSADAS E AEROPORTOS REVESSADOS


Diz-se pela voz popular que as cadelas apressadas parem filhos tortos e direi eu que a construção dos aeroportos apressados, aliás revessados, sem ser em tempos de guerra, só podem ser paridos por quem torto quer colocar os filhos direitos.
Não percebo nada de ambiente, ainda menos de engenharia e sobre aeroportos nem me perguntem quais são, nem onde e muito menos como. Mas leio, ouço, medito e tenho o direito de pensar – não de julgar – que o novo aeroporto que se quer fazer no Montijo pode trazer “água no bico” e não necessariamente o das aves que vão molhá-lo ao rio.
A ANA e o Vinci casaram para receberem aquela “prenda” de núpcias e vão de vento em popa levantar voo com a coisa. O projecto até é curioso: visto de riba, parece um esquadro ou nave intergaláctica da “Guerra das Estrelas”. Contra ventos e marés, a favor apenas algumas partes gagas da APA, sob o beneplácito do Governo. Em sentido contra, grande parte da opinião pública e a plataforma cívica contra a construção do novo aeroporto complementar de Lisboa na base aérea do Montijo, designada ‘BA6-Montijo Não’ e o bom senso, que não se sabe onde pára. 
Vão mesmo levantar o que teimaram erguer. Já ribomba a pólvora, a maquinaria já aquece os motores e derrete-se o asfalto, ponha-se a mesa do banquete, treine-se a fanfarra e compre-se a fita para cortar. Vamos a isto, ó Evaristo!
Que interessam as preocupações sobre a possibilidade de a pista poder vir a ser inundada no futuro devido aos efeitos das alterações climáticas no estuário do Tejo? Ora, tira-se a água a balde – e pronto!
Que interessam as inócuas 159 medidas da DIA (Declaração de Impacte Ambiental) emitidas pela APA, algumas bem caricatas para um leigo como eu, se a coisa se faz a contento da obra apressada? Pinta-se aqui,  dá-se uma demão ali, arranja-se uma plataforma acolá, paga-se uma portagem em prol das espécies vivas por cada voo – e pronto!
Que importa o escabeche levantado pelas organizações ambientais, uma data delas (GEOTA, LPN, FAPAS, SPEA e A Rocha) que dão parecer negativo àquela coisa, afirmando até que existe uma "pressão política inaceitável" para a execução da obra? Com o facto consumado, acaba-se o pio aos contrários e se ora há pressão, põe-se o pirolito a funcionar e o vapor da indignação sai naquele rodízio – e pronto!
Que interessa a desconsideração pelos habitats e espécies prioritários, bem como áreas protegidas, bem como os riscos de colisão com aves? Pelas áreas protegidas erga-se lá uma alminha, e os bichos que mudem de casa, que saiam da frente senão levam trancada ou chumbada de pressão de ar – e pronto!
Que valor tem saber-se que na região existe o maior risco sísmico e de tsunami do país? Como se trata de um aeroporto, com os aviões no ar, nem sismos nem inundações lhes chegam – e pronto!
Que interessa a poluição sonora e os gases de combustão das “passarolas” a levantar e a aterrar? Para os ouvidos, há por aí muito algodão para servir de rolhão e quanto aos gases, os fumadores nem dão por ela – e pronto!
E pronto, digo eu! Perante esta miséria que vai pelas decisões e decisores deste país, os portugueses que ainda são vertebrados deverão proferir o grito de Cristo no calvário: Senhor, Senhor, porque nos abandonaste?

5 comentários:

  1. Bom, procure-se não a mulher, mas o negócio por detrás dessa decisão, pois que certamente o há e bem graúdo!
    Aliás como sempre… parece que é a economia que nós estúpidos teimamos em não perceber que impera, acima do interesse nacional ou de estado, só que é a economia que interessa apenas e sobretudo a alguns, num país de gente que não vê, porque é tudo opaco. Não posso dizer que seja nebuloso, pelo contrário, mas parece-me que é sempre tudo ofuscado pelo brilho fulgurante do nosso Sol nacional que nos fere a vista e impede de ver, a economia, e o resto!

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  2. Bolas… o unknown sou eu e não são 7:26 mas sim 16:27!

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    1. Se for apenas a economia relativa ao negócio, não andará mal a ideia e a sua concretização, o pior é a economia que pode estar por detrás da economia. De qualquer forma, a economia e o progresso não justificam tudo, principalmente quando há condicionantes a ter em conta e, neste caso, parece haver muitos.
      Relativamente ao Unknown é o próprio blogger (blogspot) que o estabelece, quando não se entra com uma conta das indicadas (a configuração do perfil), assim como dando a hora que bem lhe quadra (talvez a da sede da coisa) cabendo-me a mim apenas facilitar a entrada dos comentários através das especificidades e configurações de segurança. Isso quer dizer que aquele pedido para nos identificar como não robots, resulta dessas mesmas configurações, que podem ser livres, o que pode originar a entrada de spam (como já me aconteceu noutros blogs), algum em catadupa - recebi uma vez 1.000 comentários em caracteres que me pareciam árabes e de outra uma publicidade em inglês a dizer a mesma coisa, ou seja, nada.
      Julga que eu estou livre de apontar os semáforos, os autocarros e as passadeiras de peões, quando insiro comentários como este? Lá tenho que prestar a prova...

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  3. Bom, não percebo lá muito bem estas coisas, eu ainda sou do tempo do a petróleo… eheheh. Escolho comentar como alpacheco e apareço como unknow, o que confesso me incomoda pois jamais escondi a mão quando atirei uma pedra, e na minha terra os toiros pegam-se de caras, batendo-lhes palmas e abrindo-lhes os braços…
    Lembro-me a propósito uma historieta daquelas correntes entre as nossas gentes, que são de resposta pronta:
    - Alguém ia rua fora com um garrafão de vinho em cada mão, e, um daqueles espertalhaços grita-lhe: é ti Manel, bata as palmas! Resposta pronta: E pr'a quê? Ópois tu arrancavas-te!
    (para quem não entenda a terminologia ribatejana é uma alusão à pega, em que se batem palmas e o toiro se arranca, ou por outras palavras estava a chamar cornudo ao outro…).

    Garnde abraço ribatejano cá da Cidade Morena!

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  4. De qualquer forma eu reconhecia a escrita, ó António Luiz!
    Esta sentinela que tenho à entrada do blog está a condicionar as visitas. Há várias queixas. Cabe-me alterar as coisas, através das definições disponíveis pelo "blogger", mesmo sabendo que ficarei sujeito à entrada de spam através de programas informáticos robotizados (só palavrões do dicionário digital). Para mais, tratam o que se pode chamar anónimo por "unknown"; a mim mesmo, autor do blog, a sentinela não me reconhece e tenho de prestar a prova, ou santo-e-senha, de indicar as passadeiras de peões, as palmeiras, os autocarros, as bicicletas, os semáforos e as bocas de incêndio, consoante lhe dá na veneta.
    Terei de dar férias à sentinela, mas temo saber que terei de lhe pagar o subsídio...

    Um grande abraço do planalto beirão, onde ainda se mantém o castelo firme e vigoroso

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