quarta-feira, 14 de junho de 2023

A TAP SEM TAP

 

Eu não devia falar da TAP, até porque não se fala de outra coisa. Mas a tentação é grande, quando se arranjam pretextos para o assunto vir à tona. Também podia trazer aqui a TAS, suposto acrónimo de Transportes Aquáticos Submarinos, mas dadas as recentes anomalias com o “Mondego” e a tripulação, lá aventaria uma nega dos marujos em embarcar no submarino com receio de perseguirem um tubarão tigre, que seria espião soviético. Para trazer à liça a TAT (Transportes Automóveis Terrestres), certamente necessitava de falar das “tesourarias” que controlam a velocidade a cada esquina e atrás de cada arbusto.

Certamente era preferível falar de bicicletas, um meio de transporte que hoje o primeiro-ministro Costa experimentou, dando mesmo uma lição prática e teórica, falando da pedalada para vencer a inércia, um aforismo pouco propositado a uma fábrica de biciclos elétricos.

Como os jornais se fartam destes pitéus, voltando à TAP, lembrou-me que antigamente, nos tempos das minhas avós, falava-se da TAB (Transportes Aéreos das Bruxas), umas vassouras esquisitas sem motor e sem asas, no entanto rápidas e mais pacíficas do que o mais demoníaco míssil kinzhal.

Não sei o que foi feito dessas vassouras todas, possivelmente substituídas pelos aspiradores topo de gama. Só que estes não voam e as vassouras não terão custado um dinheirão aos contribuintes nem consta nos alfarrábios que alguma companhia estrangeira estivesse a morrer por elas.

Esses antecessores da TAP eram um meio de locomoção por excelência para as bruxas utilizadoras, tão importante para a classe como o automóvel é hoje para a distribuição do correio porta a porta pelos CTT. Tratava-se de um transporte rápido, silencioso, económico, eficaz e não poluente, com a imensurável vantagem de não estar pendente dos constantes aumentos do preço dos combustíveis e das irritantes filas nas bombas de abastecimento. Tinha ainda a particularidade de todas as funções de um voo doméstico e das viagens “low-cost”, sem as habituais chatices do apertar do cinto (coisa que os portugueses fazem constantemente desde que se levantam da cama), do não fumar e da praga das assistentes de bordo. Como se tratava de um monolugar, tinha a vantagem de se excluir a pedalada a que se referiu António Costa na fábrica Unibike de Vagos, sem necessidade de capacete, longe das expectativas causadas pela obediência aos semáforos, aos sinais de stop e ao sopro no balão para controlo de álcool. Mais ainda, sem o pagamento do imposto único de circulação (cujo nome é um eufemismo, porque este não é o único imposto para quem circula), e sem a obrigatoriedade dos coletes refletores, dos triângulos de sinalização e do seguro em dia.

Enfim, julgo que falei da TAP sem falar dela. E este assunto não necessita de ir à Comissão Parlamentar de Inquérito, embora o assunto não seja o mais agradável. Lá dizia Sancho Pança aquele adágio galego: “no creo en brujas, pelo que las hay, las hay”.

1 comentário:

  1. Acompanho seu blog há algum tempo e suas novas postagens continuam me impressionando.

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