sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

QUAL A DIFERENÇA ENTRE BOSTA E BESTA?


Tudo levará a crer que a diferença entre os dois termos, a que se altera uma vogal, não é tão dissemelhante como se mostra à primeira vista. Bosta é o excremento da besta; enfim, um excremento qualquer, mas mais se aplica à besta que o deposita onde lhe dá a vontade e o aperto de intestinos. Também “orca” é um mamífero marinho, assim como “porca” um mamífero terrestre.
O termo bosta – devemos assentar isto bem – que nada teria de mal se não sofresse o estigma causado pela linguagem retorcida, de achincalhe, empregue na designação acintosa de pessoas ou instituições, leva a outras partículas. Assim se passa com besta. Continuam os dois vocábulos no mesmo patamar.
Um dia, em miúdo, assisti a este diálogo “amigável” entre vizinhas:
“- Tu não passas de uma bosta!”
“- E tu não passas de uma besta, que tens a boca cheia dela!”
Vem isto a propósito do uso – e demais divulgação – do termo, numa questão supostamente de combate ao racismo.
Quero deixar claro que não sou nem nunca fui racista, sejam as pessoas, singular ou individualmente, de que terras forem, a sua cor, etnia, religião ou condição. No entanto, sou a favor do decoro, principalmente quando a falta deste é levada em coro até ao público como forma de humilhar pessoa ou instituição.
Espanta-me que o caso tenha surgido de alguém ligado a um partido político, demais com funções na Assembleia da República, a Casa da Democracia, a qual merece dar-se ao respeito dos que lá trabalham e merecer o respeito de todos os cidadãos presentes neste País, portugueses ou estrangeiros. E mais me espanta que o partido a que a pessoa tem o vínculo, não tenha vindo, juntamente com o autor da “bosteira”, com um pedido de desculpa à instituição ultrajada e aos portugueses, mantendo o capricho do “silêncio” ensurdecedor de um chocalho.
Não se trata apenas do uso de uma palavra, noutro contexto inofensiva, se bem que na prática malcheirosa. Embora avaliando por alto, está em causa o insulto gratuito, de apelo à raiva ou ao ódio.
Se há razões na queixa, apurem-se; mas não se venha, invocando o racismo, abanando com os fantasmas de remotos avoengos racistas e esclavagistas, com palavras que têm a ferocidade e o mal de todos aqueles que possam ser racistas e só não são esclavagistas porque não os deixam.
Apetece-me invocar Sá de Miranda, assim:

Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.

7 comentários:

  1. Caríssimo Extraordinário: Inteiramente de acordo… nem vale a pena dizer mais!

    Um abraço cá de Benguela, a Cidade Morena.

    ResponderEliminar
  2. Um grande abraço para si, nessa Cidade Morena, onde a praia certamente constituirá um apelo irrecusável. E nós aqui ao frio - principalmente neste planalto da Nave, exposto aos ventos - encadernados, como velhos alfarrábios, em cascos e camisolas.

    ResponderEliminar
  3. Onde tentei escrever casacos, coloquei cascos. Deve ter sido influência do post.
    Peço desculpa.

    ResponderEliminar
  4. Caro amigo SC, como vivemos num país com muitas bestas que a maioria só faz bosta e da grossa, só mesmo alguém com elevada capacidade consegue ainda me fazer ler textos sobre um assuntos morto. Abraço.

    ResponderEliminar
  5. Caro João

    E que grande resposta! Gostei de a ler, curta e acertada. Parabéns.

    Abraço

    Santos Costa

    ResponderEliminar
  6. racismo é bem mais difícil de definir, especialmente quando se confunde com falta de valores, ética, pobreza, etc. Se há racismo, então existe em todas as cores! já besta e bosta são fáceis de definir. Exemplos não faltam. Dispensam palavras, basta fazer um desenho...

    ResponderEliminar
  7. Plenamente de acordo. O racismo emerge precisamente da falta de valores, da exacerbação do primitivismo de uma tribo em relação a outra. A falta de ética, a ganância, a mão de obra escrava, vem depois e cola-se, originando a exclusão e a pobreza. Racismo há, concordo, em todas as cores, tendo em cada uma os pressupostos atrás ditos, se não se juntarem outros ainda mais bárbaros e broncos.
    Quando cheguei à terra onde hoje habito, uma pessoa escreveu num jornal que eu era mais um dos adventícios; ou seja, era um "estrangeiro". Como resposta, também em artigo escrito, inquiri da pessoa se assim considerava o filho, que daqui emigrou para outro concelho e se o meu bilhete de identidade e o dessa pessoa não tinham a mesma nacionalidade. Como vê, o espírito tribalista, troglodita, subsiste pelos milhares de anos do Homem na Terra, muito antes de Xerazade e das mouras encantadas.
    Sobre o racismo nem ouço os conselhos do frade ou do profano. Não sou racista, ponto final.
    Já sobre a forma como se pretende rotular pretensos racistas, coloco a minha dúvida, principalmente quando aí subjaz um aproveitamento para outras regalias, isenções, indisciplina, desconsiderações pessoas e institucionais, como o caso concreto que eu abordei.
    Gostei aqui ver expressa e de ler a sua opinião, querida Amiga, com a qual concordo em pleno. Dos exemplos relativos aos dois termos invocados na peça - besta e bosta - dispensam sobretudo palavras e, no meu caso, para as substituir, faço um desenho.

    ResponderEliminar