Esta pandemia causada pelo COVID 19 (que o Diabo
leve para esturricar nas suas caldeiras) tem originado situações e informações
dúbias, desenquadradas, perplexas e antagónicas, o que demonstra que o
conhecimento sobre a matéria ainda anda às apalpadelas.
Pelo sim, pelo não, segui primeiramente a minha
intuição de ficar em casa, confirmada pela sugestão que veio de cima para ficar
em casa e reforçada pela ordem de não sair de casa. Tal como um anúncio
turístico, que já não se ouve, “vou para fora cá dentro”.
Perante tanta confusão, veio-me à memória um truque
que os meus pais praticavam quando eu era ainda menos que cinco réis de gente:
se sais de casa, está lá fora um papão que te come. E eu, com medo de servir de
digestão ao dito, espreitava pela janela para ver como era a aventesma. Nem com
telescópio electrónico a veria, o medo não tem rosto nem corpo, é ele que “guarda
a vinha, não o cão”. Em casa, segundo os progenitores, estava livre. Porém,
quando me recusava a comer a papa, lá vinha o papão: se não comes, vem aí o
papão e… Alto lá! Aqui há coisa! Como é que é?! Fico em casa porque o papão não
entra, mas se não como, já pode entrar pela porta dentro?
Este raciocínio de criancinha nem sequer se pode
comparar ao dos adultos, nestas circunstâncias. Se usamos máscaras, podemos
ficar contaminados; se não as usamos, contaminados podemos ficar. Se estamos
vacinados contra outras gripes, mais predispostos estamos a este vírus; se não
estamos vacinados, não temos quaisquer defesas.
Há ainda uma série de panaceias, cada qual mais
estapafúrdia e incongruente, vogando no abstracto, que me fazem lembrar aquela cantiga do medicamento
“melhoral”, de que se dizia não fazer bem nem mal. Para matar o vírus,
então, só faltou alguém aconselhá-lo a fazê-lo a tiro, porque desde sopa de
pimenta, a fazer a barba todos os dias, chávenas de chá preto ou chá de alho,
ingerir bebidas quentes e beber aguardente da forte, ingerir água de 15 em 15
minutos, apanhar banhos de sol à beira-mar (sem se poder ir à praia) e até
cortar as unhas, o trivial do trivial. Ainda falta dizer, para cúmulo do ridículo –
e espero que não se atrevam – que o
antivírus do computador fará efeito se se passar a língua pelo ecrã do monitor.
Através da internet, os feiticeiros destes “remédios”
levam a racionalidade à quarentena em quarto fechado e escuro.
Quanto à receita do alho, a própria OMS (Organização
Mundial de Saúde) saiu a afirmar que "o alho é um alimento que tem algumas
propriedades antimicrobianas, mas nada prova, no quadro da epidemia actual, que
o consumo de alho proteja as pessoas contra o coronavírus". Quanto a mim,
que não percebo nada de medicina, até pode prevenir o contágio. O mau hálito
que ele provoca a quem o ingere, obrigatoriamente manterá à distância presumíveis
ou futuros contagiados. Vale por uma máscara.
Como estamos em tempo de “fake news”, nem sei se
hei-de levar esta a sério. Propala-se na internet que um pastor evangélico de seu nome David
Kingleo Elijah, do Monte Glorioso da Igreja da Possibilidade (logo vi…), tinha
a cura para o vírus, colocando até um vídeo no Youtube, onde declarou
solenemente a prosápia de que ia para a China "destruir" o coronavírus. "Vou
destruir profeticamente o vírus, vou à China e irei destrui-lo". E partiu para a batalha! Viajou
para a China onde foi hospitalizado depois de ter sido infectado com o vírus.
Se o destruiu ou não – não fosse ele da Igreja da Possibilidade – só o seu corpo
o confirmará, não infecte ele mais ninguém.
De quarentena, cada vez pasmo mais. Por isso, já
nem sei o que vos diga, nem o que vos hei-de dizer.
Ahahahah!
ResponderEliminarO humor é o último a morrer... felizmente, porque a esperança não tem interesse nenhum!
Uma coisa é certa: morrer, morremos de certeza, quando tiver que ser e nada há a fazer... o que não quer dizer que quando atravessemos a estrada não deixemos de olhar para ambos os lados, tendo em conta se a condução é pela esquerda ou pela direita, cuja inobservância pode ser a morte do humorista!
Saúde! É o meu desejo, literalmente falando.
O humor deve estar presente para aliviar os maus momentos. Presumo que de todo o reino animal, o Humano é aquele que se serve desta característica para conviver, distrair e até criticar.
EliminarÀs vezes o humor ultrapassa pela direita, sendo que na Grã Bretanha o pode fazer pela esquerda; será um humor apressado, inadaptado e intolerante.
Queira sempre manter esse espírito.
Saúde da boa.