Este vírus apareceu e não veio para brincar. Nem
admite brincadeiras. Nem desleixos. Nem atrasos.
Foi paulatinamente percorrendo as regiões do globo,
umas mais cedo do que outras, permitindo até que se jogasse na antecipação e na
defesa antes dele inevitavelmente arranjar quem o levasse na bagagem do
organismo.
Nesta antecipação, nos cuidados a ter, se confere
nas estatísticas (não nas que estão em segredo, que parece serem muitas) quem
tomou as decisões acertadas em tempo oportuno. Os governos de cada país tiveram
uma ocasião soberana para mostrarem o que valem e pouparem vidas, salvaguardando também a produtividade económica.
Portugal não se portou mal. É certo que não foi dos
primeiros acossados pela invasão, mas também não foi dos últimos. Agiu como
devia ser, apesar de o fazer um pouco tardiamente e das partes gagas da DGS,
que mostrou pouca ciência quando “andou às aranhas” na matéria. A decisão do
Primeiro-Ministro e do Presidente da República, espaldados pela Oposição
responsável, designadamente no Parlamento, evitaram possivelmente males
maiores. Mas houve muita inconsistência, titubeantes medidas a conta-gotas, um
ramalhete de más interpretações (aliás, mundial) sobre a qualidade e mau
carácter da “peçonha”. É um vírus diferente dos anteriores? É. Logo, devia ser tratado de maneira diferente, porque "o que foi e já não é, é o mesmo que nunca fosse".
O caso norte-americano é um dos mais recentes e
acabados exemplos do laxismo e incompetência governativa. Surgiram em Abril,
ainda em tempo, as recomendações para o distanciamento social, quando já
anteriormente a administração Trump foi aconselhada a tomar medidas de promoção
do distanciamento social a meio de Fevereiro, mas o Donald atávico não seguiu os
conselhos dos especialistas, tendo como resultado, até ao momento desta crónica,
mais de meio milhão de infectados pelo novo coronavírus, que já fez mais de 22
mil mortes no país.
Nova Iorque é das mais batidas por este ciclone
vírico, como será batida pelo rombo financeiro de Wall Street (Avenida do
Muro). Esta avenida, nos primeiros tempos dos pioneiros, foi um local onde foi
erguido um muro, à entrada de Manhattan, para evitar que os porcos assaltassem
as quintas agrícolas e destruíssem o cultivado. Dai o nome da artéria. Com o
vírus e a economia não há resultado com erguer muros, antes derrubá-los, a
coisa pia mais fino.
Palpites sobre como, quando, porquê; mezinhas
resultantes de caldeirões de feiticeiras; promessas e prazos sobre vacinas,
curas, unguentos estapafúrdios e formas de “matar” a coisa, são mais que
muitas, cada uma mais mirabolante que a anterior. Até o vírus ser aniquilado,
aposentado ou jubilado, irá decorrer algum tempo, espero que não muito. Falta
um manual de instruções, que também já está a ser escrito por tudo quando se publica
na internet e em papel; no entanto, trata-se, para já, de um manual que
necessita actualizações ao minuto e que não devia ser redigido por quem, como
eu, não percebe nada do “artigo”.
A propósito, quero deixar aqui uma referência. Esta
tem a ver com o meu penúltimo post, onde “malhei” no primeiro-ministro inglês,
Boris Johnson. Não retiro uma vírgula do que disse e, quanto às “bordoadoas”, só
se perderam as que caíram no chão.
Não posso deixar de lhe prestar hoje a homenagem
merecida quando ele, após sair da crise em que se viu, teve a honestidade e o
grande gesto de agradecer pessoalmente, clara e inequivocamente, a prestação
dos serviços prestados pelos cuidadores de saúde que o atenderam. Teve ainda
um enorme gesto de gratidão aos dois enfermeiros – um português e uma
neozelandesa – que o assistiram 24 horas por dia na fase mais crítica, e a quem
reconhece dever a vida. Grande gesto, sim senhor, mister Boris. Por vezes, a
aprendizagem surge em períodos críticos da vida, sendo o reconhecimento disso,
designadamente público, uma qualidade humana. Parabéns.
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