O nome Eneias Silvio Piccolomini não diz nada aos leitores de hoje. Foi poeta, estudioso, sacerdote e diplomata, que ficou a 297 filhos do Padre Costa – só fez gerar 2. Isso não o impediu de ser autor de um bestseller do século XV, provavelmente escrito em 1444.
Essa sua novela erótica foi escrita em latim e intitula-se historia de duobus amantibus ou “ A História de Dois Amantes”, e foi uma das mais lidas em todo o Renascimento. A trama urdida por este professor de Florença, ordenado padre posteriormente (que até veio a Portugal a pedido do imperador Frederico III), versa sobre o amor proibido entre Euralio, um oficial com alto cargo junto do Imperador Segismundo e Lucrecia, uma senhora casada originária de Siena, na Itália.
Até aqui, nada de mais. Porém, 14 anos depois de ter escrito a obra, já nomeado cardeal em votação unânime, foi coroado papa, assumindo o nome de Papa Pio II. Assim ocupou o trono de S. Pedro durante seis anos até falecer.
A ter existido o lendário Padre Costa de Trancoso (contemporâneo de Pio II), se ele fosse tão publicista como procriador, teríamos uma estante completa das suas obras. Acontece que a única ficção que conhecemos sobre este, foi ela escrita por mim.
O que a gente aprende consigo!...Quem diria que o romancista romântico (ou erótico) viria a ser Papa!
ResponderEliminarAinda a propósito dos tempos medievais retratados no post acima chegou-me às mãos uma obra recente de Jaime Nogueira Pinto intitulado "CONTÁGIOS - 2500 anos de pestes" (Publ. D. Quixote) no qual se faz uma enumeração, sustentada em documentos escritos, da sucessivas pestes que assolaram civilização ocidental desde 500 anos antes de Cristo até os nossos dias. Ainda não acabei mas estou a achar interessantíssimo e recomendo-o vivamente. Assim a História nos ajudasse a compreender a contemporaneidade.
ResponderEliminarNOTA - A baliza que determina o fim da Idade Média é a queda do Império Romano do Oriente,em 1453. O tempo do Papa Pio II, e até mesmo do Padre Costa, não deixa de ser a que é injustamente (na opinião de muitos) conhecida como "longa noite medieval"
Caro Luís
EliminarCheguei a publicar num almanaque, saído há uns anos,mais propriamente no número de 1990 (página 33), as pestes e epidemias que assolaram Trancoso. Algumas foram comuns às que se espalharam pela Europa e pela Península, mas outras foram mais restritas em termos de freguesias trancosanas, como as do tifo e pneumónica.
Houve duas particularmente gravosas, com grande razia na população: a de 1348, em que a população se reduziu a um terço; a de 1438 (bubónica) que reduziu os habitantes da vila a dois terços. Repare na numeração dos anos - 1348 e 1438. esta última teria ocorrido na altura em que era sacerdote o suposto padre Costa e poucos anos antes do livro erótico do futuro papa Pio II.
Não li o livro, apenas alguns excertos. As gravuras com que foram publicados tiveram o condão de favorecer o erotismo, tal como aconteceu com o Decameron de Boccaccio, escrito um século antes deste, mas também por um italiano (embora não existisse a Itália nessa altura como nós a conhecemos).
Há um pormenor no livro de Boccaccio: a peste negra. O livro contém 100 contos contados por um grupo de sete raparigas e três rapazes que se abrigam num castelo florentino para fugir da peste negra.